Sonho sobre duas rodas

 Cearense de Iguatu, que já tentou marcha e tênis, garante vaga olímpica, após aderir ao ciclismo há apenas cinco anos

Foto: Fernanda irá estrear no ciclismo de estrada. PortalR3/

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Em meio às indefinições sobre qual profissão seguiria, a cearense Fernanda da Silva Souza, natural de Iguatu, era apenas mais uma das milhares de mulheres que, em 2007, sonhavam em ganhar a vida fazendo o que gostam. No entanto, o ingresso na prática do ciclismo profissional, aos tardios 25 anos, seria o início de uma relação que teria como destino, cinco anos depois, a estreia em uma Olimpíada, pela seleção brasileira de estrada.

O treinamento duro e a abdicação de momentos ao lado da família passaram a fazer parte da rotina da atleta que, atualmente, encontra-se concentrada na Colômbia, juntamente com as companheiras e veteranas de seleção, Janildes e Clemilda Fernandes.

"Praticamente, nos últimos três anos, tenho vivido somente do ciclismo. (Para Londres) O meu principal objetivo será fazer um excelente trabalho em equipe", destaca ela, com exclusividade ao Diário do Nordeste.

 História

Fernanda cresceu vendo sua avó paterna, Maria Alcioneide, acompanhar as mais variadas modalidades esportivas pela TV e, segundo ela, isso influenciou na escolha do esporte como profissão.

"Ela (a avó) é fanática por qualquer esporte. Além disso, meu pai também sempre praticou esportes de forma amadora e foi daí que comecei a praticar", relembra a atleta. Aos seis anos, Fernanda mudou-se com os pais para a cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, onde reside até hoje. Lá, começou a busca pelo esporte perfeito. "Tentei atletismo (marcha atlética) e tênis, até que no ciclismo tomei gosto e quando vi já estava dentro de competições e não consegui mais parar".

Pensando em todos os obstáculos que terá pela frente, Fernanda acredita que contará com um incentivo a mais na conquista pela medalha: a família. "Após a confirmação (de que iria a Londres), todos ficaram muito felizes e é muito importante saber que, mesmo com familiares tão distante, a gente pode contar com uma energia tão boa", diz.

Mesmo tendo deixado o Ceará cedo, quando ainda tinha seis anos, Fernanda sempre que pode retorna à terrinha para visitar familiares e amigos. "Estou me programando para que, assim que voltar de Londres, possa visitar meus familiares em Iguatu. Já faz, mais ou menos, um ano e meio que não vou por aí e a saudade está grande", conclui.

Esta será a primeira olimpíada na qual a delegação brasileira de ciclismo de estrada participará com a equipe completa (três atletas no masculino e no feminino - ver relação abaixo).

"Acredito que chegaremos a Londres na busca pela medalha e não só para participar. Das outras vezes que ia, a seleção feminina era uma ou duas atletas, então, era bem difícil trabalhar assim. Agora, com um grupo de três, a gente já vai mais motivada e focada na conquista de uma medalha", acredita.

´Avó esportista´ previu convocação

Alcioneide tem participação fundamental na escolha profissional da atleta que, aos seis anos, saiu de Iguatu para morar em São Paulo Foto: Honório Barbosa

Iguatu Fé e esperança. São esses os sentimentos que a aposentada Maria Alcioneide Souza vivencia com a expectativa de que sua neta, a ciclista Fernanda da Silva Souza, natural deste município, seja vitoriosa nas Olimpíadas de Londres. "Ela vai ganhar uma medalha", diz. "Tenho essa convicção porque a equipe (do Brasil) é muito boa", afirma.

A aposentada conta que sonhou com a neta sendo convocada para as Olimpíadas. "Liguei para meu filho (pai de Fernanda), contando sobre o sonho, mas ele me disse que achava que não seria possível", contou. "É difícil eu sonhar para uma coisa não dar certo". Dito e feito. Poucos dias depois, chegou a confirmação da convocação.

Desde quando recebeu a notícia, dona Alcioneide comemora o resultado com muita alegria. "Estou muito feliz e até dei uns saltos, apesar do joelho doente".

A família pretende fixar uma faixa em frente à casa, no Bairro Veneza, em Iguatu. "É uma forma de comunicar aos moradores e de torcer por minha neta querida", explica.

Alcioneide tem participação fundamental na vida da jovem atleta, que, aos seis anos, saiu de Iguatu com os pais e foi morar em Rio Claro, São Paulo. "Ela estava ansiosa, com medo, retraída e sugeri que ela praticasse atividades esportivas para melhorar", contou.

"Ligava quase todos os dias e dizia: vamos lá mudar essa garota". A sugestão deu certo. Fernanda começou em disputa de corridas e acumulou dezenas de troféus. Depois, integrou a equipe de ciclismo. "Ela já é vitoriosa, pois vai competir e, se não ganhar em Londres, ganha no Brasil em 2016".

O pai de Fernanda, Jean Souza, é funcionário do Banco do Brasil e, quando adolescente, era corredor em Iguatu. "Sempre gostei de esportes, conheço quase todas as regras de várias modalidades e incentivei meus filhos e netos a praticarem atividades esportivas", diz a avó.

Mountain Bike e BMX garantem vagas

Em se tratando da disputa olímpica no ciclismo de mountain bike, o Brasil terá apenas um representante em Londres. Trata-se do mineiro Rubens Donizete que fará a sua segunda participação em olimpíadas.

"Eu estou tirando muita experiência da participação de Pequim (2008) e estou colocando todas as minhas fichas na disputa de Londres. Vou dar o meu melhor para andar entre os Top 10", esclarece Rubinho.

Bicicross

Aos 22 anos, a catarinense Squel Stein fará sua estreia pelo BMX nos Jogos de Londres de olho no Rio em 2016. "Como a modalidade ainda não possui muita estrutura no Brasil, o objetivo era conquistar uma vaga. Agora, iremos adquirir experiência olímpica para almejar algo maior no Rio", afirma. No masculino, o representante é Renato Rezende.

ÍKARA RODRIGUES, HONÓRIO BARBOSA
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