Robinson de Castro detalha a evolução financeira do Ceará

Com maior folha salarial da história e mais de R$ 8 milhões investidos na compra de atletas, presidente do Vovô revela passos para clube atingir atual nível de ação no mercado e tranquiliza torcedores: “não fugimos do equilíbrio”

Foto: FOTO: CAMILA LIMA

A atuação agressiva do Ceará no mercado tem chamado atenção de muita gente, especialmente do torcedor alvinegro. Com investimentos robustos, o Vovô iniciou o ano bastante competitivo e realizou contratações que elevaram o nível técnico do elenco e, no termo da moda, colocaram o time em outro patamar.

Mas atingir este nível mercadológico não acontece da noite pro dia. Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o presidente do Ceará, Robinson de Castro, revela detalhes de como o clube chegou a esta situação atual de saúde financeira.

Contador por formação, Robinson garante que este é um trabalho que demanda tempo e decisões pouco populistas. Nos últimos anos, por exemplo, o torcedor do Ceará construiu a imagem de que o clube não realizava investimentos devidos no futebol para priorizar outras áreas.

"Acontece que era preciso investir em estrutura. Tínhamos uma estrutura muito defasada e, nos últimos anos, conseguimos recuperar isso. Demos um salto de estrutura, mas precisamos dar outro salto. A gente precisa permanentemente melhorar nossa estrutura", revela.

Com a quitação do CT Cidade Vozão, reformas em Porangabuçu, aquisição de equipamentos modernos para Departamento Médico, de fisioterapia e outras áreas, agora é hora de voltar uma maior atenção ao Departamento de Futebol. Isso vem mudando a impressão do torcedor.

Para 2020, com previsão orçamentária de R$ 100.424.786,98, o Vovô terá R$59.099.551,67 para aplicar somente no futebol. Os números são os maiores da história de 105 anos do clube.

Legenda: O atacante Rafael Sóbis foi um dos nomes de maior que o Vovô trouxe para Porangabuçu
Foto: Foto: Kid Junior

Tal cenário só é possível por conta de uma gestão responsável, equilibrada, que paga os compromissos rigorosamente em dia e caminha para o equacionamento de dívidas, deixando o clube saneado. Para isso, foi preciso ter política de pés no chão e conter os gastos em temporadas anteriores, sem loucuras financeiras.

A filosofia, na realidade, se mantém. A diferença é que o lastro financeiro agora é maior. "É uma evolução. No ano passado, já fomos mais agressivos que no anterior. É cada ano superando um degrau. No primeiro ano da Série A, foi um perfil. No segundo ano, já foi mais agressivo. E agora mais ainda. Certamente, no quarto ano, se permanecermos, vai ser muito mais. O clube vai crescendo de patamar, em todos os aspectos", garante Robinson.

"E tudo depende de saúde financeira. Sem isso, não dá para fazer. O clube conquistou isso. É uma marca reconhecida. E só foi possível porque se fez o dever de casa", complementa o gestor maior do Vozão.

O dever de casa é respaldado pelos balanços financeiros. No último divulgado, em abril de 2019, referente ao ano de 2018, o Ceará registrou o 4º superávit seguido, com um lucro total de R$ 3.013.201,96. O balanço referente a 2019 deverá ser divulgado em abril próximo, após fechamento de todas as contas do último ano e a devida apresentação ao Conselho Deliberativo. A expectativa, porém, é extremamente positiva e animadora.

"Vamos pro 5º superávit seguido. Isso é certo. Ainda não vi o balanço fechado, mas vamos diminuir ainda mais nosso grau de endividamento. Vai ter um aumento maior de ativo e um balanço mais saudável ainda, mostrando um clube firme. Nosso endividamento hoje é praticamente ProFut, tributário federal. Tá em dia. Antes, tínhamos mais dívidas do que ativos. Nós invertemos essa lógica", disse o mandatário alvinegro.

A projeção orçamentária apresentada no início do ano passado foi de R$ 70 milhões, mas o clube deverá beirar os R$ 100 milhões em receitas.

"Os orçamentos são sempre conservadores. Temos uma administração conservadora. Então, a gente sempre procura, em relação às receitas, colocar na pior das hipóteses. O piso. E sempre achar que as despesas serão maiores. Não fugimos do equilíbrio".

Vovô comprador

Robinson reage bem às preocupações de torcedores com os valores que têm sido gastos nesta temporada por garantir que o clube não dá um passo maior que a perna.

Um dos aspectos que motivou isso foi o fato de o clube passar a adquirir direitos econômicos de outros atletas.

O Diário do Nordeste apurou que somente com a aquisição de jogadores, o Ceará já investiu cerca de R$ 8,1 milhões neste ano, com as compras de Charles (50% dos direitos econômicos por R$ 3 milhões), Bruno Pacheco (40% dos direitos econômicos por cerca de R$ 2,3 milhões), Mateus Gonçalves (40% dos direitos econômicos por R$ 2 milhões) e ainda a aquisição do volante Marthã, por R$ 800 mil. Este último, vindo da Ucrânia, deverá ser anunciado hoje.

"A situação do Ceará é de maturidade pra saber que a gente tem também o nosso tamanho de ousadia. Riscos calculados, dizer assim. Isso é nato do empreendedor. Todo empreendedor tem que correr risco, não pode deixar de correr risco. Os investimentos são sólidos, mas com riscos calculados. Então esse ano nos permitiu correr mais riscos, mas ao mesmo tempo, estão melhor calculados".

Por outro lado, também vai se consolidando como vendedor de atletas. Somente com a transferência de Valdo ao Shimizu S-Pulse, do Japão, o Vovô receberá US$ 800 mil (cerca de R$ 3,25 milhões na cotação atual) por 80% dos direitos econômicos do defensor e seguirá com 20%.

Sem contar que, por ser detentor de parte dos direitos econômicos do meia Artur Victor, fica também com R$ 6,25 milhões dos R$ 25 milhões que o Bragantino pagou ao Palmeiras pelo atleta, totalizando R$ 9,5 milhões recebidos com as transferências dos dois jogadores já em 2020.