Projetos voluntários motivam jovens atletas e crianças autistas

Em busca de oportunidades iguais para crianças e adolescentes, empreendedores criaram espaços para prática de futebol e de musicoterapia como formas de lazer e de educação para novas gerações

Legenda: Escolinha do Arnobão dá espaço a jovens que querem praticar o futebol

O publicitário Paulo Henrique Donato e a pedagoga Fernanda Cavalieri tinham sonhos distintos, mas ligados por um objetivo em comum: dar oportunidades para quem não as tinha. A vontade de ver o crescimento daqueles que não tinham perspectiva de mudança deu forças para criarem projetos que atendem, no caso de Donato, jovens de Aquiraz que sonham em jogar futebol e, no de Fernanda, crianças autistas.

Ambos buscaram ajuda de amigos e de profissionais para montarem projetos de lazer que contribuem para o desenvolvimento humano de todos os envolvidos nas atividades. Hoje, seus espaços alcançam centenas de pessoas que buscam uma vida mais saudável e mais justa.

Exemplo

Em setembro de 2010, o ex-jogador de futebol e hoje publicitário Paulo Henrique Donato, junto do amigo contador Cláudio Nobre, decidiu levar a paixão pelo esporte para o bairro de Tapuio, em Aquiraz. Todos os sábados, jovens de nove a 18 anos jogam bola na Escolinha Arnobão, nome inspirado pelo apelido do pai de Donato, Francisco Arnóbio Tavares.

Donato e Cláudio jogaram futebol e futsal juntos desde os 13 anos de idade e viram na amizade e no amor pelo esporte, um horizonte para auxiliar aqueles que tinham os mesmos sonhos que os dois: jogar bola, seja como profissional, seja somente por lazer.

Os amigos fundaram o Arnobão em um bairro afastado do centro de Aquiraz, que precisava de maior atenção. "A principal tarefa do projeto é transformar a criança em cidadão. A gente quer que todos tenham a possibilidade de ser alguém na vida, através de uma melhor formação. E acreditamos que o futebol seja um elemento agregador", contou Donato sobre o foco idealizado para a Escolinha.

O intuito era ter um espaço de socialização e de educação para a comunidade. Donato via no projeto uma rota de fuga para o cenário de violência crescente, trazendo as crianças e os adolescentes do local para atividades esportivas que ajudam na evolução pessoal.

Uma alternativa não só para lazer, mas para passar ensinamentos de vida. Para treinarem na Escolinha, é obrigatório que os alunos estejam matriculados em escolas do bairro, visto que esse é o público-alvo atendido, e não faltarem mais de três vezes consecutivas. Além disso, eles recebem apoio psicológico, motivacional e treinamentos com palestrantes convidados.

Hoje, o projeto possui 53 alunos inscritos, com foco nas categorias de base, da faixa etária dos 11 aos 16 anos. Donato revela que planejam ampliar as atividades esportivas para futevôlei, lutas e dança, tentando atingir o maior número de jovens possível.

Legenda: Fernanda Cavalieri comanda Associação famílias de pessoas autistas a superarem preconceitos

Conscientizar

A pedagoga Fernanda Cavalieri é mãe de dois gêmeos, Daniel e Gustavo, ambos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Preocupada com o pouco conhecimento das pessoas acerca do autismo, Fernanda, junto de um grupo de pais, criou, no final de 2014, uma associação para transparecer as dificuldades enfrentadas pelas famílias com parentes autistas. Surgia assim a Associação Fortaleza Azul (FAZ).

No projeto, além de informarem sobre a deficiência, são feitas visitas a escolas, atividades de lazer, como cinema e teatro, esportes como dança e stand up paddle, e acolhimento às famílias que recebem o diagnóstico.

"Os principais desafios enfrentados são o acesso e a permanência na escola regular, além do acesso a médicos e terapias especializadas da rede pública de planos de saúde", comentou Fernanda.

Como abril é o Mês Mundial da Conscientização do Autismo, a Associação realizou uma programação especial. No último sábado (13), ocorreu a 3ª Jornada da FAZ, no Shopping RioMar, com palestras, debates e atividades artísticas voltadas para o público interessado em aprender e conhecer mais sobre a deficiência, perder preconceitos e ajudar o próximo.

"O objetivo da Associação é a construção de uma sede para atendimento, e realizar oficinas para jovens autistas, além de esportes adaptados para as particularidades de cada membro", afirmou a idealizadora da FAZ.

Musicoterapia

Em abril de 2016, a Associação organizou o espetáculo musical "Azul da Cor do Mar - Uma Sinfonia Diferente", no Teatro Via Sul. O evento contou com a participação de psicólogos, músicoterapeutas, voluntários, pais e suas crianças dentro do espectro autista, em um momento de conscientização e de alegria para todos os presentes.

Hoje, a FAZ auxilia centenas de pessoas que convivem com a deficiência, encorajando os familiares a crescerem junto de seus parentes. "É um desafio diário conviver com o autismo. Se não tiver amor e apoio de terapeutas, não somos capazes de superar determinadas barreiras", concluiu Fernanda, ressaltando o cotidiano de muitos que acompanha.


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