Os milhões pagos aos treinadores

Expediente deplorável é o que vasculha quanto ganha fulano ou beltrano nesta ou naquela função. Quem tem que cascavilhar isso é a Receita Federal, máxime quando da declaração anual do contribuinte. Aí, sim, o Fisco tem razões para penetrar nesta área íntima dos ganhos de cada um. Se existe algo desagradável é a pergunta "quanto você ganha"? O sigilo salarial é coisa tão sagrada quanto os segredos do amor. Não cabe a ninguém bisbilhotar quanto a rádio me paga pelas minhas participações profissionais. Jamais, em toda a minha vida, eu perguntei a um companheiro qual seu faturamento. Mas muitas pessoas já me perguntaram quanto o Sistema Verdes Mares deposita na minha conta no fim do mês. Se milhões de reais são pagos a determinados treinadores brasileiros, a mim pouco importa. Se não sou eu quem paga, por que vou querer saber quanto ganha Renato Gaúcho, Lisca, Rogério Ceni, Felipão, Washington Luís, Luan Carlos, Marcelo Vilar... Se ganham milhões é porque souberam se valorizar e encontraram quem pagasse o valor pedido por eles. No mundo, há bobos e sabidos. Nos negócios, então, nem se fala.

Inflação

O futebol no mundo todo passou a ser negócios de bilhões de euros. Então os jogadores sabem que terão de construir um patrimônio significativo em dez anos ou um pouco mais. Nesta parte, chegam patrocinadores fortes que garantem suporte nos mais diversos segmentos. Assim, os países europeus souberam investir pesado. Estão colhendo os frutos.

Campeões

Não por acaso somente países europeus ganharam a Copa do Mundo nos últimos 16 anos. Foram vencedores os países onde o investimento no futebol é maciço: 2006, Itália; 2010, Espanha; 2014, Alemanha; 2018, França. Nesses países os clubes têm saúde financeira. No Brasil, clubes vivem em dificuldades financeiras, mas pagando o que não podem.

Questionamento

Os supersalários no futebol produzem resultados positivos com ótimo retorno, mas são inflacionários. Bom, inflacionários são, mas trazem resultados positivos sim. Só mesmo quem tem lastro pode entrar nestas disputas. A Europa colhe, hoje, os frutos dos pesados investimentos e importações de craques.

A Raia miúda do futebol está distante dos milionários salários. A grande maioria no Brasil não consegue sequer formar um bom pé-de-meia. Depois de encerrar a carreira, passa por dificuldades financeiras, geralmente sobrevivendo em empregos modestos. Supersalários são para um grupo restrito de craques privilegiados. Os demais, fora do eldorado, vivem apenas de ilusão.

Especulam sempre sobre os supersalários, mas dificilmente sai matéria sobre os baixos salários de jogadores e técnicos dos times médios e pequenos. Como sobrevivem esses atletas. Como projetam o futuro e que alternativas terão quando pendurarem as chuteiras? Não raro encontro hoje em situação difícil atletas que vi aplaudidos, ovacionados nos estádios. É doloroso.