Comunidade do Surf em alerta após morte de Luzimara

O Sistema Verdes Mares procurou ouvir a opinião de pessoas de diferentes segmentos vinculados ao surf para entender o que muda no esporte a partir desse trágico episódio.

Legenda: Luzimara Sousa era Campeã Cearense de Surf, da categoria Open.
Foto: Arquivo Pessoal

Diante da fatalidade que acometeu o surf cearense na manhã desta quarta-feira (27), que levou a óbito a Campeã Cearense de Surf, categoria Open, Luzimara Sousa, e ainda deixou outro surfista gravemente ferido, após uma descarga elétrica provocada por um raio, o Sistema Verdes Mares procurou ouvir a opinião de pessoas de diferentes segmentos vinculados ao surf para entender o que muda no esporte a partir desse trágico episódio.

Para o surfista Professor Doutor do Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal do Ceará e Coordenador do Grupo de Estudos Socioculturais e Psicológicos sobre o Surfe, Léo Barbosa Nepomuceno, a resposta para a pergunta que todos estão se fazendo sobre o por quê de alguém estar no mar em uma condição como aquelas está no fato de todo surfista cearense já ter passado por situações como essa inúmeras vezes. Estar no mar e começar a chover e eventualmente, raios caírem, é quase comum nessa época. Além do que, segundo ele, enfrentar o medo é uma constante na experiência dos surfistas:

“De algum modo estamos acostumados a enfrentar o medo e a viver sob o efeito da adrenalina. Mas, com a morte dessa grande surfista, fica uma aprendizagem sobre alguns limites de nossa aventura... Agora, não seremos os mesmos dentro d'água e diante das chuvas”. Que Luzimara possa descansar em paz.

Segundo Odalto de Castro, 59 anos de idade e 46 anos de surf, Pioneiro e Legend do Surf Cearense, quando era jovem e intempestivo, pegou muitos ondas debaixo de chuva, mas confessa que hoje, apenas uma coisa o amedronta mais que um tubarão dentro d’água, chuva forte com raios e trovões:

“Com 46 anos de prática de surf por vários mares e continentes não me lembro de relato parecido. Não tem quem faça eu ficar no mar se começar a chover. Não espero nem começarem a cair os raios pra ficar com medo... Resta-nos rogar a Deus que a receba em seu reino e conforte o coração de seus amigos e familiares. Vá em paz Luzimara!”.

Já Raimundo Bernardo Pena, surfista, empresário de surf, Legend do Surf Cearense que aprendeu a surfar na Leste-Oeste, destacou o impacto da perda de Luzimara (e também o estado grave de Felipe) para ele próprio, pelo fato ter ocorrido nas águas da praia da Leste-Oeste, local que tem grande importância para a sua vida, já que foi lá que ele aprendeu a surfar:

“Saber que um raio caiu na Leste durante um temporal e veio a causar tamanha tragédia, tirando a vida da Luzimara e atingindo também o Felipe gravemente, é quase que inacreditável! O Surf está de luto! Perdemos uma Campeã, uma garota alegre, cheia de sonhos, uma princesa das ondas! Que Deus conforte os corações dos seus familiares e dos amigos...

Tita Tavares, Campeã Mundial de Surf do QWS (Divisão de Acesso à Elite do Surf Mundial) e Tetracampeã Brasileira de Surf Profissional, lembrou que recentemente esteve com Luzimara em uma etapa do Brasileiro de Surf Profissional e destacou a garra e determinação da jovem:

“Ano passado ela foi pela primeira vez competir uma etapa do Brasileiro de Surf Profissional e eu estava com ela, acompanhei as baterias que ela competiu, sem prancha adequada para as ondas de Maresia, no Litoral Paulista, que são muito fortes... se não me engano, ela ainda passou duas fases nessa competição... E ela surfou muito bem, com aquele surf radical... Dizia ela que se inspirava em mim... Uma menina feliz, humilde, batalhadora... Deus sabe o que faz.”, concluiu Tita, enviando seu pesar à família.

Charlie Brown, atual Campeão Cearense de Surf Profissional e ilustre local da Leste-Oeste, que acabara de chegar de viagem, lamentou a morte de Luzimara e destacou as qualidades da campeã cearense dizendo que ela era uma atleta dedicada e muito guerreira. Que sempre treinavam juntos na Praia da Leste-Oeste e na mesma academia e que ela sempre estava focada em alcançar seus objetivos, tanto que é a atual Campeã Cearense. Charlie também deixou sua mensagem:

“Em dias de chuva não devemos surfar e procurar sempre um local seguro... Nenhuma onda é mais importante que sua vida.”

Para Itim Silva, Surfista Profissional, proprietário de Escolinha de Surf e local da Praia da Leste Oeste, a tragédia poderia ter sido ainda maior, já que sua filha tinha acabado de sair do mar quando começaram a cair os raios. Segundo ele, os instrutores de sua escola de surf tinham acabado de encerrar a aula porque têm recomendação expressa de cancelar a aula caso comece a chover e cair raios. Tanto que os instrutores foram os últimos a sair e sentiram na areia a descarga elétrica, tamanha foi a força do raio, relata. Segundo ele, quando morou em Florianópolis-SC e no Guarujá-SP, viu muitos casos de acidentes e essa tragédia tem de servir de alerta de que em dias de chuva nenhum surfista está seguro nem na água e nem na areia.

Para Amélio Junior, Presidente da Federação de Surf do Estado do Ceará, a perda de Luzimara marcará uma mudança no comportamento dos surfistas cearenses, acostumados a surfar em dias chuvosos sem nunca ter ouvido falar de um caso dessa natureza por aqui:

“De agora em diante, os surfistas irão pensar duas vezes em entrar na água em dias de chuva. Só lamentamos uma tragédia ter de acontecer para que um hábito, que deveria ser corriqueiro para todo surfista, passasse a ser adotado como via de regra. Esse procedimento já era estimulado em nossas diretrizes, inclusive para eventos e agora iremos intensificar ainda mais essa recomendação, pois, como todos vimos, o perigo é real”, declarou o dirigente.  


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