Análise: a bola puniu o Adílson e o Ceará

Após bom 1º tempo e sair na frente com Galhardo, Ceará é goleado no Maracanã após mudanças controversas do treinador Adilson Batista, que não resistiu a mais uma derrota. Luta contra o Z-4 fica complicada para o Vovô

Legenda: Recuado, o Ceará sofreu com as investidas do Flamengo. Logo, tomou a virada e foi goleado
Foto: FOTO: ALEXANDRE VIDAL/FLAMENGO

Existe um jargão no futebol, criado pelo ex-técnico Muricy Ramalho que sentencia: “A bola pune”. E foi exatamente o que aconteceu com o Ceará ontem no Maracanã, ao ser goleado por 4 a 1 para o Flamengo, pela 35ª rodada da Série A.
Mas em que circunstâncias a bola puniria o Ceará jogando fora de casa contra o melhor time do país, campeão da Libertadores e Série A no último fim de semana? Pelas decisões controversas, para não dizer pragmáticas demais, do técnico Adílson Batista, que foi demitido após o vexame.

O treinador do Ceará, após um bom 1º tempo razoável e vencendo por 1 a 0 no placar em bela jogada de Felipe Silva, voltou para o 2º tempo com um zagueiro a mais, um terceiro defensor, no caso Thiago Alves, tirando o autor do gol, Thiago Galhardo, referencia no ataque.

Excessivamente recuado, desorganizado e sem jogadores do ataque, tomou o Ceará uma presa fácil. A mudança chamou o Flamengo para cima, que como não poderia ser diferente, pela qualidade indiscutível do time de Jorge Jesus, pressionou até virar a partida e transformar um jogo de festa para o torcedor rubro-negro em goleada.
E olha que o time carioca estava visivelmente desgastado pelos dias de comemoração de seu elenco, jogando muito abaixo do possível. O retrato do 2º tempo foram os 10 jogadores de linha rubro negros no campo de ataque, e os 10 do Vovô no campo de defesa.

Mas ainda assim, o Flamengo conseguiu o que queria, vazar a defesa alvinegra em 19 minutos, contando com uma falha do zagueiro Valdo, que não cortou a bola que chegou a Bruno Henrique.
Depois do gol sofrido, do empate, o técnico Adílson Batista desfez sua bobagem, lançando Matheus Gonçalves para saída de Ricardinho.

A entrada do veloz atacante, que poderia ter sido na formação inicial pela característica do jogo, mostrou-se tardia, mas Adílson preferiu improvisar o meia Chico no setor, jogador claramente sem velocidade para a função.
Mas a mudança de um volante para a entrada de um atacante não fez nenhum efeito no Vovô, que foi impiedosamente goleado na sequência da partida, se mostrando um time apático e entregue.

O gol da virada rubro negra saiu aos 28 minutos, mais uma vez com Bruno Henrique, tornando o placar da partida justo, favorável a a quem quis jogar futebol.
Aos 38 minutos do 2ºtempo, Samuel Xavier foi expulso, após parar ataque do Flamengo com Everton Ribeiro, complicando ainda mais a vida alvinegra.
Já com Leandro Carvalho no lugar de João Lucas, outra alteração sem maior relevância para melhora da equipe, o Ceará, com um a menos, sofreu mais dois gols, aos 40 minutos com Bruno Henrique, de novo, e um belo gol de Vitinho, aos 46 minutos do 2º tempo.

Saldo
Totalmente entregue, o Ceará não tinha mais o que fazer, apenas aceitar um desfecho catastrófico para as pretensões do clube. Perder para o Flamengo seria um resultado mais do que normal ontem, pela força do Rubro-Negro e as sérias limitações técnicas e táticas do time alvinegro, mas a forma que foi escancara o que mais decepciona uma torcida: a falta de ambição.
Mais do que os 4x1, e emocional do time alvinegro vai ainda mais abaixo, pela postura, principalmente pela situação alvinegra na tabela, precisando desesperadamente dos 3 pontos para não entrar na zona de rebaixamento. 
O Ceará saiu de um jogo aceitável no 1º tempo, com um placar que poucos acreditavam, uma vitória parcial que melhoria sua situação na tabela, para uma derrota dolorosa, pela postura burocrática de seu treinador.
É uma derrota que vai além do resultado, que acarreta em danos ainda maiores para um grupo que precisa de confiança e resultados nas 3 rodadas finais.

Faltam mais 3 jogos para o Ceará neste Série A, contra o Athlético/PR, no sábado, às 19 horas, Corinthians, dia 4 de dezembro, às 19h30 também no Castelão, com a última rodada sendo diante do Botafogo, no dia 8, às 16 horas.
Com 37 pontos e em 16º, uma posição do Z4, o Alvinegro pode chegar a estes jogos dentro da zona de rebaixamento, e com uma pressão crescente.
E com um futebol limitado, um treinador sem ambição da vitória, a partida de ontem passa um cenário nada alentador para o torcedor do Vovô.

Demissão
E as decisões equivocadas do técnico Adílson Batista custaram caro a ele, que foi demitido após a partida. Os auxiliares técnico Cyro Garcia e Milton do Ó também deixam suas funções no Ceará.
Adílson deixa o clube com apenas 35,9%, sendo quatro vitórias, dois empates e sete derrotas.
Com a saída do treinador, o Ceará precisará, além de um choque de motivação imediato, de uma mudança de postura, visando salvar o clube do rebaixamento.

O passo a seguir será definir quem comanda o Alvinegro nas três partidas restantes da Série A, sem o tempo necessário para revoluções táticas e buscando a pontuação necessária para uma permanência.
Três nomes são os mais cotados: Sérgio Alves, ídolo da torcida e atual técnico do time feminino; Fábio Capone, treinador do Sub-20, que está na final da Copa do Nordeste, e o nome óbvio de Lisca, que já treinou o Vovô duas vezes.