Justiça húngara decide pela extradição de pivô do 'Football Leaks'

O hacker português Rui Pinto, responsável por inúmeras denúncias dos bastidores do futebol mundial, como os problemas fiscais de Cristiano Ronaldo nos tempos de Real Madrid, terá que voltar a Portugal, onde é processado. Ele é acusado de roubo de dados e tentativa de extorsão agravada

A Justiça húngara ordenou a extradição para Portugal do hacker Rui Pinto, principal arquiteto do chamado escândalo "Football Leaks", que provocou a abertura em vários países europeus de investigações relacionadas ao mundo do futebol. Apresentado pelos seus advogados como "um informante europeu muito importante", o português de 30 anos foi preso em 16 de janeiro, em Budapeste, sob mandado de detenção europeu emitido pelo seu país, que o acusa de "tentativa de extorsão agravada" e "roubo de dados".

Ao comparecer ontem perante um tribunal na capital húngara, Rui Pinto declarou que agiu de boa-fé e considerou que a sua extradição impediria as investigações em curso. "Não cometi nenhum dos crimes dos quais sou acusado. Nunca obtive lucro material pelo que fiz. Agi pelo interesse geral, para expor a corrupção no futebol europeu", disse.

Contudo, o presidente da corte, Judit Csiszar, estimou que o pedido de extradição "não poderia ser recusado" em nome da "confiança mútua entre os estados da UE".

Rui Pinto e o seu advogado anunciaram a interposição de um recurso, incluindo um argumento de "erro processual" na emissão do mandado de prisão. "Esperamos que em algumas semanas a Suprema Corte examine todos os aspectos do caso", disse o português, que foi colocado em prisão domiciliar em Budapeste.

CR7 e PSG

Da capital húngara, onde mora desde 2015, Rui, conhecido como "John", hackeou milhões de arquivos relacionados ao mundo dos negócios do futebol, a fim de, segundo ele, revelar os bastidores de uma indústria "desonesta". A partir de 2016, confiou milhões de documentos a um consórcio de meios de comunicação europeus que revelou, no fim do mesmo ano, os mecanismos de evasão fiscal, suspeitas de fraude e corrupção envolvendo vários craques e líderes de clubes.

O Football Leaks segue como o maior vazamento de informações dos bastidores da bola. Entre as revelações estão problemas fiscais de Cristiano Ronaldo relacionados à sua passagem pelo Real Madrid ou a tolerância da Uefa aos casos de fair play financeiro do PSG e Manchester City.

Estes documentos interessam às justiças de vários países europeus. A Procuradoria Nacional Financeira francesa (PNF), com quem Rui Pinto iniciou uma colaboração em 2018, considerou que os documentos permitiram "grandes desenvolvimentos" nas investigações por fraude fiscal.

Controvérsias

Portugal acusa, porém, Rui Pinto de roubar dados, incluindo do Estado português e, sobretudo, de ter realizado tentativas de chantagem antes de suas revelações, especialmente em detrimento do fundo de investimento Doyen, também envolvido em transferências de jogadores.

O hacker, que é defendido por uma equipe internacional de advogados, admitiu recentemente ter contatado esse grupo no fim de 2015, apesar de insistir que simplesmente quis testá-lo. Ele, inclusive, voltou a acusar Portugal de tentar silenciá-lo e atrapalhar as investigações europeias, impedindo-o de fornecer novos documentos.

"Eu não confio nas autoridades portuguesas. Elas têm uma abordagem tendenciosa em relação ao futebol. É do interesse deles que algo desagradável aconteça comigo".

O hacker alegou ter sido alvo de "numerosas ameaças de morte". O tribunal de Budapeste estimou, no entanto, que sua "segurança pessoal" foi considerada "garantida" em Portugal.


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