Homofobia nos estádios de futebol é problema recorrente na Europa

Mesmo nos centros mais tradicionais do futebol da Europa, os cânticos homofóbicos são comuns e pouco se tem feito nas ligas para mudar o quadro

Legenda: Na Espanha, há "tolerância zero" para a discriminação de gênero dentro dos estádios
Foto: FOTO: JUAN MEDINA/REUTERS

As autoridades francesas lançaram neste início de temporada um combate contra a homofobia nos estádios, denunciando cantos e cartazes preconceituosos. Na Europa, diversos países buscam maneiras de lutar contra esse problema.

O governo francês pediu neste ano mais firmeza na luta contra a homofobia. Assim, vários jogos foram interrompidos pelo árbitro devido a cantos de torcedores e cartazes homofóbicos.

Mas o presidente da Federação Francesa de Futebol (FFF), Noël Le Graët, afirmou recentemente ser contra a paralisação de jogos, indo contra a recomendação do Governo.

Na Espanha, terceiro país do mundo a autorizar legalmente o matrimônio entre homossexuais em 2005, a abertura para o coletivo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros) segue sendo um tabu no futebol profissional.

Estádios

A tolerância parece acabar nas portas dos estádios. Nas arquibancadas os insultos homofóbicos são corriqueiros quando se quer insultar o adversário. Vários jogadores viveram estas situações diariamente, como os ex-meias espanhóis Míchel, Guti e Pep Guardiola, ou o português Cristiano Ronaldo.

Desde 2016, a Liga espanhola publica um guia de "boas práticas", no qual defende a "tolerância zero" contra qualquer tipo de discriminação.

A Liga manda também semanalmente um relatório para a Comissão de Disciplina da Federação Espanhola e para a Comissão de Combate à Violência que inclui insultos proferidos pelos torcedores nos estádios e sugere punições.

Iniciativas recentes contra a homofobia tiveram certo sucesso na Espanha. Em 2015, jogadores de várias equipes usaram cadarços com as cores do arco-íris nas chuteiras, símbolo da causa LGBT. O Eibar e o Rayo Vallecano chegaram a usar uniformes com as cores do arco-íris.

Na Inglaterra, a homofobia não é vista como um problema nos estádios, ao contrário do racismo, contra o qual as autoridades se mostram dispostas a atuar rapidamente.

A cultura dos torcedores é diferente da França, já que não existe a estrutura das torcidas organizadas no futebol britânico. Por outro lado, sofre com a descriminação.

Um estudo realizado em 2018 pela Associação Kick It Out mostrava que as discriminações de todo tipo viram um aumento nos últimos anos, especialmente os casos de homofobia (+9% entre 2016-2017 e 2017-2018), para um total de 111 incidentes de caráter homofóbico em 2017-2018.

Exemplo

A homofobia nos estádios da Alemanha não é um assunto que gere grande polêmica. O pais se mostra muito mais reativo e indignado com manifestações públicas da extrema-direita ou de cunho neonazistas. A sociedade alemã é uma das mais avançadas no que diz respeito à aceitação da homossexualidade e isso se reflete nos estádios.

O ex-jogador Thomas Hitzlsperger, que revelou ser gay após pendurar as chuteiras e se tornou comentarista de uma emissora da televisão pública, afirmou:

"Os torcedores de futebol são muito mais abertos do que no passado. Foram feitos muitos avanços no futebol contra a descriminação, os preconceitos e a intolerância. A homossexualidade já não é um tabu como era há cinco anos".

Contudo, nenhum jogador profissional em atividade revelou ser gay até hoje. A questão da homofobia é pouco presente nas arquibancadas italianas, ao contrário do racismo, muito presente.

Alguns casos de homofobia ganharam fama fora dos gramados, especialmente o de Maurizio Sarri, ex-técnico do Napoli e hoje na Juventus, suspenso por dois jogos da Copa da Itália por ter chamado de "bicha" o colega Roberto Mancini, na época treinador da Inter de Milão.

Em 2012, o ex-jogador Antonio Cassano precisou pedir desculpas publicamente por declarações polêmicas. "Homossexuais na seleção? Espero que não, mas isso é problema deles", afirmou na época.


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