Festa acaba em invasão e violência

Brilho de final histórica e emocionante é ofuscado por cenas de vandalismo, no palco do espetáculo, após o apito final

Legenda: A celebração do título deu lugar ao encontro violento entre as duas torcidas, após falha da segurança o que acabou provocando a selvageria
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Jogadores e torcedores poderiam comemorar e ampliar a celebração do título tricolor dialogando entre campo e arquibancada da Arena Castelão. Não foi o que aconteceu. Eufóricos, centenas de fãs do Fortaleza invadiram o gramado após o apito final, impedindo a comemoração da equipe campeã e provocando a torcida do Ceará, que também ultrapassou os portões que dão acesso ao campo.

> Apoteose tricolor
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O palco do duelo emocionante decidido nos últimos minutos, com o 2 a 2, deu lugar ao encontro violento entre as duas torcidas, e a bola foi substituída por cadeiras quebradas das arquibancadas e arremessadas, por uns contra os outros.

Houve corre-corre de quem estava trabalhando, mas nem todos conseguiram escapar da confusão, como um funcionário do estádio, que sofreu um corte profundo na cabeça, e uma "leonina" (animadora de torcida do Tricolor do Pici), que desmaiou. Ambos precisaram ser levados aos vestiários com emergência.

A polícia reagiu com balas de borracha e gás lacrimogêneo para conter a violência e retirar a maioria dos torcedores de campo, o que aconteceu apenas depois de 30 minutos.

Após o controle dos ânimos, os alvinegros deixaram a Arena, enquanto muitos tricolores permaneceram no gramado e foram isolados por um cordão policial, que também seria transposto durante a cerimônia da entrega da taça do Campeonato Cearense 2015, atrapalhando a tradicional volta olímpica.

O tenente-coronel Aginaldo Oliveira, responsável pelo Batalhão de Policiamento de Eventos da Polícia Militar, afirmou que as arenas modernas de futebol - como o Castelão se tornou após a reforma para a Copa do Mundo - "facilitam a invasão de campo" e alegou que o Batalhão de Choque estava se preparando para ingressar no gramado, mas conflitos paralelos nas arquibancadas impediram que o comando se deslocasse.

Apesar dos danos ao patrimônio e dos conflitos violentos dentro do campo, ninguém foi preso, segundo o delegado da Polícia Civil, Jéferson Lopes Cristovam. "Os policiais estavam se organizando em campo, preocupados em conter os torcedores que invadiram o gramado. Não tinha como a polícia conduzir pessoas para a delegacia", argumentou.

Atendimentos

A sede da Polícia Civil no estádio registrou o total de 18 boletins de ocorrência durante o jogo, por infrações como roubo, furto e lesão corporal, e larvou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) contra um torcedor que portava uma "bomba caseira recheada de pregos", segundo Cristovam. O suspeito não chegou a detonar o artefato, mas foi enquadrado no Estatuto do Torcedor por insulto à violência e foi encaminhado ao Juizado do Torcedor.

O ambulatório central da Arena atendeu dez pessoas lesionadas, sendo a mais grave a de um torcedor que sofreu traumatismo craniano e escoriações no tórax por causa de um extintor de incêndio arremessado das arquibancadas contra o campo.

Lucas Ribeiro/Messias Borges
Colaboradores

Guerra do lado de fora com torcedores e policiais feridos

 

A tensão entre torcidas antes da partida já anunciava o óbvio: ânimos acirrados em dia de clássico. Acirramento que finda em violência. Antes da disputa, ainda era tranquila a movimentação nas ruas e avenidas, e mesmo nos terminais, estes com segurança reforçada.

Nos terminais de integração, ficou vetada a entrada de grandes aglomerados de torcedores. Nas proximidades da Arena, seguiu-se a orientação de ir a pé ao estádio. As torcidas de Ceará e Fortaleza foram escoltadas até o palco do jogo pela Polícia Militar, conforme feito na semana anterior. A intenção era evitar confrontos ao longo do caminho. Mas logo na chegada, em alguns pontos isolados, a Polícia Militar precisou intervir com bombas de efeito moral.

O que saiu de tensão consolidou-se em quebradeira e briga de maiores proporções ao final da partida. Logo que o árbitro ergueu o braço, o fim do jogo foi o começo de uma cena de guerra. Todo que estivesse ao alcance, inclusive a própria poltrona, era arma na mão de um grupo revoltoso.

Fora do estádio, dois policiais militares foram feridos durante confronto entre torcidas. Um soldado levou golpe com uma cadeira e fraturou o maxilar. Torcedores dos dois times que não faziam parte dos agrupamentos violentos relatam ter sofrido tiros de borracha. A briga tem sequência no bairro Manuel Sátiro. No cruzamento das ruas João Amora com Cônego de Castro, houve troca de tiros entre torcedores, e a PM tentou intervir.

Análise

Por que poucos ainda estragam a festa de muitos?

O maior jogo de futebol (pelo menos em emoção) disputado por aqui nos últimos anos teve seu brilho ofuscado por uma meia-dúzia. A mesma canalhada que oprime cidadãos comuns, impedidos de sair de casa em dia de jogo, seja na Boa Vista ou no Benfica, e torna reféns aqueles que querem apenas a parte boa do espetáculo. Infiltrados no meio da multidão que ama o futebol, se aproveitam do anonimato para instalar o terror e desejam fazer com que as praças esportivas se tornem apenas deles.

Até quando o poder público, os órgãos envolvidos com a segurança, os clubes e a Federação serão lenientes com essas pessoas que NÃO gostam de futebol e só atrapalham?

Sabemos que o problema da segurança pública é muito complexo e soluções fáceis não resolverão. Mas é nosso dever, como pagadores de impostos (e não só apreciadores do esporte) exigirmos providências. Mudança. O Ministério Público não pode descansar. O Estado, por sua vez, precisa ter a mão mais pesada.

Mas, para começar, é preciso que se apure como foi viabilizada aquela imoral invasão de campo. Faz-se necessário refazer cada passo, cada erro que culminou com essa quase tragédia. Quem são os culpados por um ocorrido que manchou o que era para ser apenas uma linda festa? Depois que tudo esteja devidamente claro, urge atacar o que ou aqueles quem desejam ver o futebol apenas como espaço para expressão de sua vocação maligna. Que respostas efetivas surjam, e rápido, de quem deve satisfações imediatas à sociedade.

Pery Negreiros
Editor

Confira galeria de imagens da invasão no campo da Arena Castelão