Existência de atletas com Covid-19 se opõe a discurso de Bolsonaro

Diferente do que disse o presidente brasileiro, os esportistas, em atividade ou não, são tão vulneráveis quanto a população que não treina em alto rendimento. Não há mortes até agora, mas alguns deles relatam complicações com a doença

Legenda: Thiago Wild foi diagnosticado com o novo coronavírus na terça-feira (24)
Foto: Divulgação

A ascensão do novo coronavírus tem abalado o mundo do esporte e também as autoridades nacionais. O presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer, em pronunciamento à Nação realizado na última terça-feira (24), que não tinha preocupação com a doença por ter um "histórico como atleta", mas nos últimos dias vários esportistas já confirmaram ter sido contagiados pela Covid-19 e admitem sofrer com os sintomas.

O temor com o novo coronavírus entre atletas e dirigentes levou até mesmo ao adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, para o ano que vem, em decisão tomada no início da semana em conjunto pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Governo do Japão.

Não para de crescer o número de infectados e mortos, em razão da Covid-19. A lista de esportistas também só aumenta, mas ainda não se tem notícia de morte. A maioria dos casos de doentes se concentra na Europa. O primeiro confirmado foi o zagueiro Rugani, colega de Juventus do português Cristiano Ronaldo. A partir daí, o número só cresceu.

Sintomas

Uma das muitas vítimas na Itália, país com o maior número de mortes no Mundo, o ídolo do Milan, Paolo Maldini, criticou as autoridades italianas por terem tomado providências de forma tardia para combater a pandemia.

Maldini relatou que sofreu com febre alta e dores no corpo. "Como todos os atletas, eu conheço meu corpo. As dores foram particularmente fortes, senti um aperto no peito. É um novo vírus, as lutas físicas contra um inimigo que não se conhece. Tive os primeiros sintomas em 5 de março, dor nas articulações e músculos e 38,5º de febre".

Medalhista de ouro em Londres 2012 e prata na Rio 2016 na natação, o sul-africano Cameron van der Burgh encerrou a carreira em dezembro de 2018. Há 17 dias, recebeu o diagnóstico de Covid-19. O ex-nadador de 31 anos, com um histórico de atleta de alto rendimento, contou que uma simples caminhada o exauria por horas. "Foi o pior vírus que enfrentei, apesar de ser uma pessoa saudável com pulmões fortes, sem fumar e praticar esportes a vida toda, ser jovem e ter uma maneira de vida saudável. Embora os sintomas mais graves, como a febre, já tenham diminuído, ainda estou lutando com fadiga e tosse residual que não consigo erradicar", disse Van der Burgh.

No Brasil, o caso mais recente de contaminação foi do tenista Thiago Wild, revelação do esporte e promessa olímpica para os próximos anos.

"Há uns 10 dias eu tive alguns sintomas, tive febre, fiquei um pouco gripado. Mas daqui a pouco, pelo período de incubação da doença, já vai passar", declarou.

Ao faturar seu 1º título ATP na carreira com 19 anos, ele se tornou o mais jovem brasileiro a ganhar um troféu deste nível, superando Gustavo Kuerten, campeão pela 1ª vez aos 20 anos.