Ex-treinador, Zetti garante: 'Fortaleza tem condições de se manter muito tempo na Série A'

O ex-comandante tricolor Zetti, que veio da mesma escola futebolística que Rogério Ceni, diz, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, que o Fortaleza tem que manter o planejamento e o padrão atuais

Legenda: Zetti era o treinador do Fortaleza no acesso da Série B para a Série A, em 2004
Foto: Foto: Thiago Gaspar

Ele é ex-goleiro com passagens pela Seleção Brasileira, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes com o São Paulo. Teve conquista marcante pelo Fortaleza como treinador. De quem estamos falando? Mesmo com tantas particularidades, as opções são duas: Rogério Ceni e Zetti. Mas é o ídolo tricolor mais antigo que é o foco desta matéria. Atualmente, comentarista esportivo do ESPN, ele concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste analisando o momento do clube cearense, de quem guarda boas lembranças.

Zetti também opina sobre a performance do técnico Rogério Ceni, a quem acompanhou desde o início da carreira, nos arredores do Morumbi. O goleiro Felipe Alves também foi alvo de análise do ex-goleiro campeão mundial de clubes em 1992 e 1993. Para Zetti, Felipe Alves guarda na sua maneira de jogar algo que o aproxima dele mesmo e de Ceni: a liderança em campo e a qualidade técnica.

Confira as respostas deste que também é considerado um dos maiores ídolos do São Paulo e também é lembrado com muita satisfação pela torcida tricolor.

Como você avalia a campanha do Fortaleza na Série A do Brasileiro de 2019?

Acho que o planejamento que foi feito no Fortaleza foi o mais importante. O acesso, primeiro de tudo, e as pretensões do clube em relação até ao pensamento do Rogério Ceni. Tanto o Fortaleza como o Ceará oferecem condições muito grandes para se manter na Série A e se tornarem potências. A torcida comparece em massa. Estava precisando talvez desse Rogério Ceni colocar para fora todo esse conhecimento que ele tem, esse aprendizado, e de passar esse conhecimento.

O que mudou da sua passagem de 2004 para o atual momento?

Tive oportunidade de trabalhar em 2004, ano do acesso que nós tivemos, mas ainda faltava muito essa estrutura física. Não adianta subir e não se manter. Hoje, o Fortaleza tem uma condição de ficar muito tempo na Série A, desde que dê continuidade a essa estrutura, essa vontade de querer estar entre os tops da Série A. O campeonato regional, às vezes, é muito valorizado, assim como acontece em São Paulo. Muitos clubes tentam se valorizar dentro do campeonato regional, pelos clássicos que existem, pela cultura do regional. O Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil, a Sul-Americana e própria Libertadores é o que vai ajudar os clubes a se manter num padrão muito legal. Acho que o Fortaleza está nesse caminho, isso que é legal. Torço para isso. Estou sempre acompanhando.

O que fazer para manter o alto nível?

O time tem que fazer um planejamento para esta colocação que o Fortaleza conseguiu. Chegou muito bem. Se o Rogerio Ceni tivesse dado continuidade, já que houve essa interrupção na carreira dele, ninguém sabe o que poderia ter acontecido. Na sequência, retornou depois- mas acho que isso valeu também para fortalecer cada vez mais as convicções do treinador e do próprio clube, para não haver acomodação. Mas entendo que essas experiências contam nesse momento para o próprio time. Espero que o Fortaleza siga nesse padrão para o time tricolor permanecer na primeira divisão por muito tempo.

Como você vê a evolução de Ceni como treinador?

A convivência minha com o Rogério no São Paulo foi boa. Nós tivemos quase seis anos juntos. Ele ficou um período na reserva. Mas ele foi sendo lapidado para ser o meu substituto. Acabei saindo como atleta. Porém, nosso pensamento é muito parecido. Nós convivíamos muito juntos, em concentrações, claro, cada um com a sua opinião, com a sua maneira de pensar, mas o objetivo final ali era muito parecido. Eu sempre fui muito ambicioso, muita vontade, muito determinado a buscar a primeira colocação e sempre brinquei que, na escola, eu aprendi que não precisava ganhar, tinha que participar, mas dentro da profissão e do profissionalismo você quer ser o primeiro sempre. Só existe um resultado que é a vitória. Então você começa a conviver muito com isso. O Rogério tem essa filosofia também, porque ele é um cara que vence hoje; amanhã ele já quer vencer a próxima batalha que tem pela frente. E a gente trabalhava muito a mente nisso, porque o tempo é curto, passa muito rápido.

Hoje, você é atleta; noutro dia, treinador. Ele sempre quer quebrar recordes, chegar nas primeiras colocações e isso o incentiva no trabalho positivo. No Fortaleza, essa era a maneira como eu pensava quando cheguei em 2004. Claro que marcou você subir o time. Foi boa a campanha que fizemos. Na parte financeira, o clube não tinha muitos investimentos. Tive duas passagens lá. As duas foram muito bacanas, muito importantes. Mas eu acho que o Rogério também está nesse caminho. Hoje ele é o maior treinador da história do Fortaleza. É um dos ídolos também, mesmo fora de campo. É um cara que compra briga, que tem empenho mesmo de ser o melhor. E, às vezes, ele é contestado porque quer o bem, quer que as coisas se desenrolem para o lado positivo. Então, se ele continuar, tomara que continue, espero que isso aconteça. Vai conseguir muitas coisas pelo Fortaleza. Vamos torcer que o Fortaleza esteja nas primeiras colocações. Seria maravilhoso.

Como você analisa a fase de Felipe Alves?

Excelente. O goleiro precisa estar no contexto da equipe, não ser só passageiro, mas chegar e dizer que vai fazer história com o clube. Ele tem esse comportamento, de comprar briga, não ser mais um em campo. O goleiro consegue ficar mais tempo no clube e, para isso, precisa fazer algo diferente. Mostrar postura, vontade, tentar ser um líder para o seu time, com a participação junto à comissão técnica. Ele é um pouco de segundo treinador. Cara que dentro de campo tem que falar, organizar, não é gesticular por fazer, mas participar do jogo com essa intenção, sempre concentrada. Ele fez uma grande participação e tem a cobrança de um treinador que foi goleiro, um ídolo, um dos melhores do Brasil. E existem os conselhos. Acredito que o Rogério sempre deve dar uma opinião: faz isso, faz aquilo, assim é melhor. Isso ajuda muito um goleiro que está atuando, e a confiança de saber que ele tem a responsabilidade de fechar o gol.