Ele mudou o rumo da história

Como o técnico Silas pegou o 'bonde andando' no Nordestão e transformou dúvidas em arrancada para a consagração do título

No dia 11 de fevereiro, uma mudança no comando técnico do Vovô também mudaria os rumos no time na Copa do Nordeste. Naquele dia, o Ceará empataria com o River no Piauí, em 1 a 1, pela 2ª rodada da 1ª Fase da competição e o então técnico da equipe, Dado Cavalcanti, deixaria o comando do time.

Mais do que o empate, que deixaria o time com dois pontos na tabela, a atuação da equipe naquele jogo e o somatório de nove partidas sem convencer na temporada, entre regional e estadual, forçou a diretoria mudar os rumos logo no início da temporada, com o temor de que os objetivos do 1º semestre ficassem pelo caminho.

No dia seguinte, Silas Pereira assumiria a equipe com a missão de dar padrão a um elenco recheado de bons jogadores, e grande parte deles, destaque da Série B do ano anterior.

Após sua chegada, o vice-presidente do Ceará foi o mais direto possível. "Queremos um time que tenha um padrão, que dê orgulho de se ver jogar e que chegue às finais da Copa do Nordeste e do Cearense, e de preferência, consiga os títulos".

Com toda responsabilidade nas costas por resultados, Silas iniciou o trabalho, dirigiu o time no último jogo da 1ª Fase do Estadual - Dado Cavalcanti deixou o time classificado antecipadamente - vencendo o Maranguape por 4 a 3 no PV, mas foi mesmo na Copa do Nordeste que o trabalho do técnico deu "liga" e engrenou.

"Quando cheguei, só pedi à diretoria acompanhar o trabalho, ver os treinos, ver o que eu estou fazendo, entender a filosofia que utilizo, para saber quando o rumo é o certo. Porque todo treinador vai passar por dificuldade e é a hora que a diretoria banca a gente, por acreditar no trabalho lá na frente. E a confiança foi construída daí e o trabalho fluiu. Esse título veio para coroar o trabalho feito no clube nos últimos anos", relata o treinador.

Vitória dramática

Seu segundo jogo pelo clube foi logo contra o Botafogo/PB, em uma verdadeira decisão, já que um tropeço poderia eliminar precocemente o time. E Silas mostrou estrela, com o gol da vitória vindo com Magno Alves, aos 40 do 2º tempo.

O time ganharia uma sobrevida, e após o inesperado empate em 1 a 1 com o time paraibano em João Pessoa, outro jogo dramático viria no colo de Silas: o Ríver, no PV, após derrota para o Fortaleza no Estadual.

E outra vez uma vitória dramática: Marinho saiu do banco para marcar o gol depois dos 40 do 2º tempo, deixando o Vovô bem próximo da vaga, até então ameaçada. Na última rodada, vitória redentora contra o rival Fortaleza por 2 a 1 e a primeira colocação do grupo D garantida.

Com a confiança em alta, o Vovô passou com autoridade pelo Salgueiro, vencendo no interior pernambucano e confirmando a classificação em casa.

Nas semifinais, a maior provação, mostrando que estava pronto para conquistar o título que escapou em 2014. Ao empatar sem gols com o Vitória, no Castelão, o time de Silas precisaria empatar pelo menos com gols ante os baianos, e conseguiu um épico 2 a 2, garantindo a vaga na finalíssima, em pleno Barradão.

Outro baiano estaria no caminho na final, o Bahia, que havia eliminado o Sport, algoz do Vovô na decisão do ano passado.

No primeiro jogo na Fonte Nova, a vitória por 1 a 0 e a atuação segura fizeram a torcida explodir em euforia, na iminência da conquista do título regional, e lotou o Castelão no jogo de volta. Depois de duas frustrações no estádio, em 2013 contra o ASA e 2014 pelo Sport, finalmente o torcedor pôde comemorar o esperado título.

Com um título dessa magnitude conquistada em menos de três meses de trabalho, o técnico preferiu não ser apontado como o principal responsável pelo título. "Antigamente, precisávamos esperar até o fim da temporada para levantar uma taça e agora com menos de três meses tivemos a oportunidade. É uma conquista não só minha, que marca a todos no clube, principalmente o Evandro, o Robinson, Cerri, mas também a mim e o grupo de jogadores. O Ceará merecia esse título e a torcida também".

SAIBA MAIS

Segredo

Muitos treinadores no Brasil são "experts" em buscar um time base e se perdem quando desfalques aparecem, perdendo o padrão. Para Silas, o segredo do sucesso no Ceará foi exatamente pensar em um sistema de jogo, e não em um time.

"Coloquei na cabeça dos atletas que não teríamos um time titular, e sim um sistema de jogo. Quem entrasse teria que desempenhar a função do sistema. Eles entenderam isso e deu certo"

Confiança

O técnico Silas Pereira dirigiu o Vovô em 10 jogos na Copa do Nordeste, com seis vitórias e quatro empates, marcando 12 gols e sofrendo apenas cinco. Sobre a campanha, o comandante opinou: "o importante foi o foco no trabalho. Se tivéssemos sido eliminados ali, contra o Vitória, nossa torcida teria reconhecido todo nosso esforço. Por isso eu digo que foi uma conquista do trabalho, a cada jogo, a cada gol que fizemos e a cada gol que evitamos"

Vladimir Marques
Repórter