Com atletas refugiadas, clube dribla regra para ter time estrangeiro

Segundo a CBF, um time brasileiro só pode ter até cinco atletas de outros países. A não ser que parte delas seja refugiadas, como é o caso do 3B Sport, do Amazonas. Time tem sido tábua de salvação para venezuelanas, principalmente

Legenda: 3B Sport reúne meio time de jogadoras estrangeiras
Foto: João Paulo Oliveira/3B da Amazônia

Em 28 de março, o 3B Sport entrou em campo no Estádio Ismael Benigno, em Manaus, na estreia do Brasileiro Feminino A2. Na escalação, a equipe que venceu o Porto Velho (RO), por 9 a 2, tinha quatro chilenas e outras quatro venezuelanas. O uso de jogadoras estrangeiras é uma aposta do clube para tentar chegar à elite do futebol feminino. Segundo regra da CBF, equipes que disputam competições nacionais podem ter até cinco atletas de outros países relacionadas para jogos. O 3B tem oito venezuelanas e quatro atletas do Chile no seu elenco.

A condição das venezuelanas abre brecha para o time estourar o limite: elas pediram refúgio ao Brasil. O regulamento geral da CBF diz que os "clubes poderão relacionar nas súmulas de cada partida até cinco estrangeiros, excepcionados os registrados como refugiados que, para efeitos das competições coordenadas pela entidade, equiparam-se aos atletas nacionais".

As oito jogadoras da Venezuela chegaram ao Brasil por terra em Pacaraima (RR), em 19 de fevereiro, onde iniciaram os trâmites para solicitação de refúgio. Essa é a rota mais comum de entrada de venezuelanos no Brasil. Dois dias depois, em 21 de fevereiro, o presidente Nicolás Maduro ordenou o fechamento da fronteira.

A legislação brasileira permite que um estrangeiro se torne refugiado "devido à grave e generalizada violação de direitos humanos", entre outros motivos, como perseguição política ou religiosa. Assim como os mais de três milhões de venezuelanos que já fugiram da crise, a família das atletas passa por dificuldades.

A Venezuela mantém uma liga profissional feminina. O salário inicial de uma jogadora é de apenas US$ 3 (R$ 11,50), enquanto o mais alto não passa de US$ 100 (R$ 386).

A condição de solicitante de refúgio não as impede de continuar defendendo a seleção venezuelana. Todas já vestiram a camisa vinotinto, e algumas continuam atendendo às convocações. Desde o início do ano, o solicitante de refúgio pode voltar ao país de origem, desde que a viagem seja informada ao Conare (Comitê Nacional para os Refugiados).

A mais nova do grupo, a volante Dayana Rodríguez, de 17 anos, foi titular da seleção sub-17 que ficou em 4º no último Mundial, além de ser bicampeã sul-americana. A goleira Lisbeth Castro, 30 anos, é capitã da seleção principal venezuelana. Ela atua no Brasil desde 2018, quando defendeu o Osasco Audax antes de se transferir para o 3B.

A estrela do time, no entanto, é a atacante chilena Cote, de 31 anos. Ela foi atualmente convocada para defender a seleção chilena.

A folha salarial do clube é de R$ 25 mil. Os salários giram em torno de R$ 1.200 a R$ 2.500. Atual campeão da Série A do Brasileiro Feminino, o Corinthians tem um gasto mensal de R$ 170 mil e uma média de R$ 7 mil por atleta.


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