Carisma e mobilização pesam como gols e títulos para valorizar

No futebol, jogadores como Gabigol, do Flamengo, e Dudu, do Palmeiras, se destacam não só pelo desempenho técnico em campo. Mas também pelas suas atuações fora de campo e sua qualidade de “exemplo a ser seguido”

Legenda: Gabigol é um dos jogadores que se valorizou nesta temporada
Foto: Carl de Souza/AFP

No início deste ano, o atacante Gabriel Barbosa tinha um valor de mercado da ordem de R$ 60 milhões. Hoje, ele vale cerca de R$ 106 milhões, quase o dobro. É o montante mais alto que ele já alcançou na carreira, de acordo com o Transfermarket, site especializado em transferências internacionais.

A valorização não se deve apenas aos gols que marcou e aos títulos do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores que conquistou com o Flamengo. Entram nessa conta também seu carisma e poder de mobilização, simbolizados pelos cartazes que os torcedores levavam aos estádios com a frase “Hoje tem gol do Gabigol” e até os sósias com barbas pretas e cabelos descoloridos.

Especialistas apontam que a composição do valor de um jogador é formada por aspectos objetivos, como títulos conquistados e desempenho em campo, mas também por fatores subjetivos, como a maneira como o atleta é visto pela torcida e a imprensa. Outros apontam as redes sociais como aspecto importante.

Os fatores objetivos envolvem até estudos matemáticos. A consultoria internacional KPMG, por exemplo, desenvolveu uma metodologia baseada em algoritmos. A empresa analisou as transações de jogadores nas últimas sete temporadas de futebol (de 2012/2013 a 2018/2019). A partir daí, definiu as principais variáveis que influenciam no valor do jogador. Entre as principais estão posição, idade, contrato, desempenho individual, sua importância para o time e ações disciplinares (faltas e número de cartões).

Na lista de fatores importantes, a idade tem grande peso, pois representa o potencial do atleta de gerar receita em futuras transferências. O atacante Reiner, de 17 anos, do Flamengo, é um dos atletas que mais se valorizou neste ano. Ele vale hoje R$ 116 milhões. Em agosto, valia R$ 23 milhões.

“Por questões técnicas, o clube consegue moldar o jovem de acordo com a sua cultura. Além disso, a equipe pode crescer com ele em posicionamento e na forma de atingir novos mercados”, avalia Pedro Daniel, diretor executivo da consultoria Ernst & Young.

Fernando Trevisan, diretor da Trevisan Escola de Negócios, lembra das redes sociais também como componente importante. “Fatores como número de seguidores, nível de engajamento dos fãs e capacidade de comunicação digital são mais levados em conta”.

Também existe espaço para a percepção que o mercado e a torcida têm do atleta. Aí entra, por exemplo, o caso do palmeirense Dudu. O atacante foi o único jogador poupado dos protestos da torcida por causa da temporada difícil.

O atual campeão brasileiro caiu em todas as competições que disputou, mas é indicado como “modelo” para o perfil de contratações em 2020. Ele “passa” imagem positiva. Seu valor de mercado saltou de R$ 37 milhões para R$ 69 milhões. “Existe um componente subjetivo que não é irrelevante no mercado”, diz Darcio Genicolo Martins, professor do departamento de Economia da PUC/SP e pesquisador em Economia do Futebol.