Atletas cearenses ganham título do Pan-americano

Legenda: Equipe feminina após a conquista do Campeonato Mundial. Elas estão se preparando agora para a nova disputa e querem voltar com mais uma taça
Foto: Divulgação

Próxima competição da Seleção Brasileira da modalidade será o Mundial, que acontecerá em Cádiz, na Espanha

Originalmente, todos eles são jogadores de handebol de quadra. Mas eles vêm se destacando também no handebol de praia (ou beach handeball, como queiram). E na penúltima semana do mês de fevereiro ajudaram as seleções brasileiras permanentes masculina e feminina da modalidade a conquistar os primeiros títulos internacionais nesta temporada. Falamos dos cearenses Djandro, Jefté, Darlene da Silva Soares, Emanuelle Moreira Lima e do alagoano Fábio Dias, radicado em nosso Estado há um ano.

Com as participações de Darlene e Emanuelle na Seleção Feminina, comandada pela técnica Cláudia Monteiro, e de Fábio, Djandro e Jefté na Seleção Masculina, orientada pelo treinador Antônio Guerra, o Brasil terminou nas primeiras colocações do Campeonato Pan-Americano de Handebol de Praia, competição disputada em Montevidéu, no Uruguai, no período de 19 a 24/02.

No Pan feminino, o selecionado verde-amarelo ganhou a medalha de ouro sem perder nenhuma partida, tendo derrotado as seleções da República Dominicana, Argentina, do Chile e Uruguai. Idêntica performance alcançou a equipe masculina, que garantiu o lugar mais alto do pódio no Pan e o tetracampeonato da categoria após vencer os selecionados do Chile, Argentina e Uruguai.

Com as vitórias na edição 2008 do IV Campeonato Pan-Americano de Handebol de Areia, as duas seleções brasileiras garantiram classificação para o Campeonato Mundial, que acontecerá no período de 9 a 13 do próximo mês de julho, na cidade de Cádiz, na Espanha.

Além do IV Pan, a Seleção Brasileira Feminina Adulta de Handebol de Areia também participou, em Montevidéu, do Torneio Ibero-Americano, competição que ainda contou com os selecionados do Chile, República Dominicana, da Argentina e Espanha, como convidada da organização do evento. E as brasileiras também ficaram com esse título, obtido com uma campanha invicta. A segunda posição nesse torneio ficou com as uruguaias, enquanto a equipe espanhola terminou na terceira colocação.

Mesmo com este positivo início de temporada, três dos campeões pan-americanos com quem conversamos no dia 3 passado, sob sol escaldante no Aterro da Praia de Iracema, não pareciam muito felizes. Darlene, Emanuelle e Fábio Dias contaram as dificuldades para garantir presença na seleção. “Participar de uma Seleção Brasileira é uma positiva experiência, mas temos que trabalhar duro para manter o nível de excelência e assegurar nova convocação”, afirmou o alagoano Fábio, que já vai completar “bodas de prata” como atleta da modalidade - 25 anos no handebol de quadra e praia.

“Diariamente treinamos a parte física aqui mesmo na Praia de Iracema. Já a parte técnica é mais difícil, pois não temos bola, redes, traves para trabalharmos”, disse Fábio.

REIVINDICAÇÃO - Atletas têm que realizar exames médicos

Mais experiente e mais “rodado” do grupo do Ceará na Seleção Brasileira de Handebol de Areia, por isso funcionando como uma espécie de “porta-voz”, o alagoano Fábio Dias informou que os cinco têm que se apresentar no próximo mês de abril, em São Paulo, para participar da primeira fase de treinos das seleções permanentes já visando ao Campeonato Mundial em Cádiz. “No dia da apresentação teremos que entregar à comissão técnica da seleção os resultados de uma bateria de exames médicos exigidos, como ecocardiograma, testes de resistência física etc”, informou o campeão mundial Fábio.

E prosseguiu o alagoano porta-voz do grupo: “Apesar de contarmos com o benefício da bolsa-atleta, de nível federal - com um valor em torno de R$ 1,5 mil -, a maioria não tem condição para fazer um plano de saúde. Por isso, vamos ter que realizar os exames em um laboratório particular, o que representa custo elevado para o nosso bolso”, disse Fábio, que mora sozinho e paga aluguel.

Como beneficiários da bolsa-atleta, não podem correr atrás de um patrocínio para minimizar despesas com alimentação - suplementos alimentares, também um dispendioso gasto extra, vestuário, transporte -, o que dificulta ainda mais o dia-a-dia dos atletas.

Por isso, os cinco representantes cearenses na Seleção Brasileira de Handebol de Areia, que vêm contribuindo para que o País mantenha a hegemonia internacional na modalidade, gostariam que a Federação Cearense de Handebol (FCHd) colaborasse com eles.

Essa colaboração, por exemplo, segundo Fábio, poderia se concretizar com a oferta de bolas, redes e traves. Dessa forma, eles teriam condição para aprimorar a parte técnica, “pois o treino físico é importante, mas trabalhar com bola também é necessário”, ressaltou.

Uma outra saída, como sugeriu Darlene, seria um contato com a Secretaria do Esporte do Estado, comandada pelo secretário Ferruccio Feitosa. “Nós gostaríamos de manter um contato com o Ferruccio, para solicitar ajuda, não em termos financeiros, mas que ele possibilitasse a realização dos nossos exames médicos na Secretaria da Saúde do Estado”, explicou a atleta. “Na gestão anterior”, justificou Darlene, “da Secretaria de Esporte, a gente tinha mais aproximação com o secretário Lúcio Bomfim, mas atualmente não sabemos como chegar ao atual secretárío para conversarmos e tentarmos viabilizar essa possibilidade”. E ela complementou: “O tempo está passando, a gente já tem que viajar em abril, e esses exames terão que ser realizados”.

Quanto à presença de cinco jogadores do Ceará nas seleções brasileiras permanentes de handebol de areia, Fábio Dias respondeu: “No Ceará temos muitas praias, sol o ano inteiro, ou seja, condições propícias para a prática e evolução do esporte. No ano passado, três equipes da Paraíba e uma do Ceará decidiram o Brasileiro de Handebol de Areia”.

 

Alex Dourado - Destaques do NE
Técnico de handebol

Pivô Emanuelle (27) sempre foi sinônimo de dedicação e superação. Perseguiu o sonho de se tornar uma grande atletas desde os 11 anos de idade. Em 1998, resolveu se transferir para a equipe de Handebol do CEFET-CE, que posteriormente passou a ser Fortaleza/CEFET-CE, quando iniciou nova fase na carreira. Foi durante 10 anos o maior destaque no Nordeste na posição. Em 2002 conquistou a medalha de ouro no Brasileiro de Clubes, na cidade de Aracajú-SE, sendo escolhida a melhor atleta da competição. Em 2003 foi convocada para a Seleção Brasileira Olímpica indoor, mas foi cortada antes do embarque para Atenas.

No handebol de areia Emanuelle começou em 1999, quando se sagrou campeã brasileira do I Campeonato Brasileiro de Clubes, realizado em Fortaleza. Em 2004, foi medalha de Prata no Brasileiro de Seleções, também realizado em Fortaleza, quando foi convocada, pela 1ª vez, juntamente com a atleta Darlene, para a seleção brasileira, que participaria do I Mundial de Beach handebol, em El Gouna - Egito. O 6º lugar deixou claro que o Brasil poderia evoluir muito nesta modalidade. As previsões de confirmaram quando, em 2005, o Brasil de Emanuelle e Darlene, conquistou o Ouro nas disputas do World Games da Alemanha. Em 2006, em Copacabana-RJ, a FIH realizou o segundo Campeonato Mundial de Beach Handball. Lá, estavam novamente as atletas cearenses Emanuelle e Darlene, como grandes destaques: Brasil que sagrou-se campeão Mundial da modalidade.

CURRÍCULO RECHEADO - Darlene Silva Soaresé bicampeã mundial

Além dos recentes títulos do Pan-Americano e Ibero-Americano, a armadora Darlene Silva Soares contabiliza no currículo outros significativos troféus. Ela também é bicampeã mundiais de handebol de praia após as vitórias alcançadas com a Seleção Brasileira no World Games (Jogos Mundiais), competição disputada na cidade de Duisburg, Alemanha, em julho de 2005, e Mundial do Rio, na Praia de Copacabana, em novembro 2006.

Darlene , que atua na posição de armadora, começou no handebol de quadra aos 14 anos de idade, jogando pelo time do Colégio Marista. Depois passou pelas equipes do Clube dos Diários, Fortaleza/Cefet, Aracati, Handebol Clube e COPM, ambos da Paraíba, Osasco/SP e Ulbra/RS. Ela foi companheira da pivô Emanuel Moreira Lima nos times do Fortaleza/Cefet, do Handebol Clube e COPM, ambos da Paraíba. Nesta temporada, Darlene vai defender a equipe do Aracati.

A importante participação de Darlene e Emanuelle na Seleção Brasileira de Handebol de Areia ensejou a convocação de outros cearenses, mas, para a seleção masculina, casos de Antônio Djandro e Jefté Leite, que também participaram da campanha vitoriosa do Brasil no Pan-Americano do Uruguai. Djandro e Jefté, anteriormente, tiveram rápidas passagens nas seleções brasileiras juvenis de handebol indoor, mas sem maiores repercussões. Contudo, foram convocados e asseguraram as vagas para o Mundial do Rio, em 2006, e de maneira surpreendente foram campeões mundiais. ´Foi surpreendente porque a participação da Seleção Masculina em Mundiais sempre foi pífia. A presença de atletas nordestinos e do Ceará passou a ser o diferencial, pois em nossa região sempre se praticou esportes na praia e o cearense joga handebol na areia desde a década de 70´, afirmou Alex Dourado.

FIQUE POR DENTRO - Modalidade está em estágio de crescimento

O handebol de areia é disputado em uma quadra menor, que mede 27 por 12 metros. Cada equipe é formada por quatro atletas e as partidas são disputadas em sets, que têm duração de dez minutos. Vence o jogo a equipe que conquistar dois sets. A modalidade foi criada para proporcionar ao público jogos espetaculares. Por isso, não pode haver contato físico entre os atletas. O esporte é baseado na filosofia do fair play, jogo limpo, explica Cláudia Monteiro.

De acordo com a técnica, o handebol de areia é uma modalidade em crescimento, dentro e fora do país, com equipes que apresentam bastante equilíbrio entre si. Surgido há cerca de dez anos, o esporte chegou com mais força ao Brasil há aproximadamente seis anos.

Atualmente, já existe um Campeonato Brasileiro e algumas ligas estaduais. ´Estamos trabalhando para que isso aconteça também em Santa Catarina´, revela Claudia. Ela informa que o Estado de São Paulo será o primeiro a introduzir a modalidade em seus Jogos Abertos.

FÁBIO DIAS - Experiência na Seleção Brasileira foi muito importante
Jogador de handebol

Quando começou no handebol?

Comecei jogando na Escola Moreira e Silva, em 1983, disputando os Jogos Escolares de Alagoas, e no ano seguinte estava jogando no time do Sagrada Família, primeiro clube que defendi em Maceió. E foi uma coisa engraçada porque na verdade eu fui ao clube para treinar natação, mas como a piscina do complexo esportivo estava com defeito, na saída passei pelo ginásio e estava havendo treino de handebol. Eu entrei para ver como é que era, gostei e até hoje estou no handebol.

Quantos times defendeu?

Olha, eu não tenho um número exato, mas com certeza já passei por mais de 25 equipes, de vários estados como Alagoas, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Ceará. Dentre os times que joguei estão Metodista/SP, Unifil/PR, Chapecó/SC, Concórdia/SC, Náutico/PE, Aracati/CE, Handebol Clube da Paraíba (HCP), Sagrada Família, Ypiranga, Iate Clube e CRB, todos de Alagoas.

E os títulos mais importantes nesta trajetória?

Dos títulos mais importantes na minha carreira no handebol eu cito o do Campeonato Mundial de Handebol de Areia, conquistado na arena da Praia de copacabana, no Rio de Janeiro, em 2006; o tetracampeonato do Pan-Americano, também no handebol de areia, sendo duas edições disputadas no Brasil e outras duas no Uruguai; e bicampeão Sul-Americano. Somando os títulos na quadra e praia tenho 11 conquistas.

MOACIR FÉLIX
Repórter