Análise: Estratégia funciona e Leão vence Vovô

Após perder o primeiro Clássico-Rei no 1º turno da Série A, Fortaleza dá o troco no Vovô e se aproxima da permanência; gol do Leão foi no início do jogo, segurando a pressão do rival a partir daí, fazendo a festa de sua torcida

Legenda: Wellington Paulista comemorou com os companheiros de time o gol da vitória
Foto: FOTOS: THIAGO GADELHA

O técnico do Fortaleza, Rogério Ceni disse antes de seu primeiro Clássico-Rei como comandante do Leão, ainda em 2018, que Clássico não se joga, se vence, pela vasta experiência como jogador no São Paulo. E foi isso que o Fortaleza fez ontem no Castelão, vencendo o Ceará por 1 a 0, gol de Wellington Paulista, respirando na luta pela permanência da Série A e complicando a vida do eterno rival.

Claro que a frase de Ceni e a atuação do Fortaleza ontem não indicam que a equipe não jogou futebol. O contexto dela é que em um jogo tão grande, de extrema rivalidade e importância da vitória, a qualidade de jogo é secundária se o resultado for conquistado.

E o Leão soube vencer o jogo, utilizando as estratégias corretas a cada fase diferente que a partida oferecia.

Com um ataque mais efetivo do que o rival ao longo da Série A, o Leão saiu na frente logo aos 12 minutos em grande jogada envolvendo 3 de seus 4 atacantes e segurou a pressão, mais territorial e de posse do que de oportunidades efetivas do Vovô.

Foi a vitória de uma equipe que havia falhado em segurar os placares contra Atlético/MG e Corinthians quando esteve na frente no placar, mas no Clássico-Rei, onde a necessidade da vitória era imperativa, o Tricolor de Aço saiu no gramado festejado por sua torcida e respirou na tabela da Série A, chegando aos 39 pontos em 13º, tomando a posição do rival, que ficou em 14º com 36.

A vitória deixa o time de Rogério Ceni a duas vitórias da permanência, enquanto para o lado derrotado, do técnico Adílson Batista, a necessidade será maior, de três vitórias.

Estratégia

A vitória leonina foi da estratégia, iniciada desde o jogo fora de casa com o Corinthians, ao poupar Jackson, Gabriel Dias e Wellington Paulista.

Com uma equipe mais inteira fisicamente em relação ao Ceará (Luiz Otávio só foi escalado após reavaliação minutos antes da partida), a estratégia foi pressionar no início e buscar o gol, que veio logo aos 12 minutos.

Em grande trama do melhor setor da equipe, o ataque, o Leão saiu na frente, em jogada envolvendo 3 dos seus 4 atacantes. Romarinho tocou de cavadinha para Osvaldo, que cabeceou, encobrindo o goleiro Diogo Silva, Wellington Paulista completou de cabeça: 1 a 0.

Legenda: O Ceará pressionou o Leão, mas erros demais nas finalizações

No lance do gol, o zagueiro Luiz Otávio deu condição para os tricolores, Wellington Paulista e Gabriel Dias, que estavam na jogada, e o goleiro Diogo Silva ficou no meio do caminho entre interceptar a jogada e Osvaldo ou esperar a finalização.

A partir daí a estratégia do jogo mudou. O Fortaleza baixou suas linhas e passou a se defender, esperando brechas para encaixar contra-ataques.

E assim o Ceará cresceu no jogo. Escalado com 3 zagueiros - Luiz Otávio, na sobra, Eduardo Brock e Valdo - e sem um dos volantes no tradicional esquema de Adilson Batista - com William Oliveira contundido e Pedro Ken suspenso, apenas Ricardinho e Fabinho atuaram no meio campo - a equipe teve dificuldade de jogar pelo meio, concentrando sua pressão pelas laterais, com Samuel e João Lucas.

Com paciência para trocar passes, o Vovô teve mais posse de bola, mas errou o alvo na finalizações que teve no 1º tempo, em finalização de Samuel que raspou a trave e Felipe Silva no travessão.

Os contra-ataques leoninos pouco apareceram no 1º tempo, embora a dupla Osvaldo e Romarinho tenham dado muito trabalho aos defensores alvinegros.

Ao fim do 1º tempo, o atacante Wellington Paulista, que marcou seu 13º gol na Série pelo Leão, afirmo que a missão do atacante é sempre conferir o lance para marcar o gol, mesmo com a finalização de Osvaldo e ter o companheiro Gabriel Dias na jogada.

Emoção

Com a derrota parcial, o técnico do Ceará, Adilson Batista deixou o time mais ofensivo, tirando o zagueiro Valdo, já com cartão amarelo, e lançou o meia Wescley, visando povoar mais o meio campo, e criar mais por ali.

A mudança demorou a surtir efeito, com o Leão começando melhor o início do 2º tempo, tendo uma chance com Osvaldo, defendida por Diogo Silva.

Quando o jogo do Vovô encaixou, o time de Adilson Batista voltou a criar, exigindo defesa espetacular de Felipe Alves, de puro reflexo em finalização de Luís Otávio na pequena área.

A pressão do Ceará não cessava devido aos erros de passe do meio-campo e ataque leoninos, fazendo com que Felipe Silva e Ricardinho, controlassem o jogo com posse de bola.

Mas quando essa bola chegava ao ataque, nos pés de Leandro Carvalho, Felipe Cardoso e Wescley, todos tomavam decisões equivocadas quando tinham a bola e travavam o ataque alvinegro.

Foi quando aos 30 minutos, os dois técnicos fizeram alterações para ter o domínio do jogo: Rogério Ceni fortaleceu o meio com Nenê Bonilha, tirando um esgotado Osvaldo, que era o destaque do Leão. Já Adilson Batista pôs Matheus Gonçalves no lugar de Thiago Galhardo, visando ganhar mais velocidade na frente.

Com o jogo indo até os 49, o Leão conseguiu ser sólido na defesa, desarmando com precisão as tentativas alvinegras, conseguindo um resultado notável para suas pretensões. E a torcida leonina, maioria nas arquibancadas pelo mando do Leão, fez uma grande festa no apito final, satisfeita com o clube ter voltando a vencer e encaminhando sua permanência na Série A.

Além disso, o Leão voltou a vencer o Ceará na Série A depois de 46 anos (a última tinha sido em 1973), consolidando sua hegemonia em 2019, vencendo o último Clássico-Rei do ano, e o terceiro na temporada, contra um do Vovô.

Para a sequência da Série A, é buscar mais 6 pontos em 6 rodadas para garantir a permanência e em seguida, carimbar uma vaga inédita na Copa Sul-Americana.

Para o Ceará, é recuperar os atletas desgastados fisicamente e ligar o alerta pela produção ofensiva baixa nos 6 jogos restantes, visando sua permanência na elite do ano que vem. Ser mais efetivo é se aproximar de vitórias e o Vovô ainda precisará delas.

Ficha Técnica:

Série A do Brasileiro - 32ª rodada
Arena Castelão, em Fortaleza (CE)
10 de novembro

Fortaleza 1

Felipe Alves, Gabriel Dias, Juan Quintero, Jackson (Paulão), Bruno Melo, Felipe, Juninho, André Luís
(Kieza), Romarinho, Osvaldo (Nenê Bonilha), Wellington Paulista. Técnico: Rogério Ceni

Ceará 0

Diogo Silva, Valdo (Wescley), Luiz Otávio, Eduardo Brock, Samuel Xavier, Fabinho, Ricardinho, Felipe Silva
(Leandro Carvalho), Thiago Galhardo (Matheus Gonçalves), João Lucas, Felippe Cardoso. Técnico: Adílson Batista

Arbitro: Flavio Rodrigues Souza (SP). Gol: Wellington Paulista (FOR); Cartões amarelos: Gabriel Dias, Juan Quintero, Bruno Melo e Osvaldo (FOR); Leandro Carvalho, Eduardo Brock, Valdo e Wescley (CEA)