Projeto envia cartas com mensagem de apoio a pacientes em tratamento do câncer, em meio a pandemia

O projeto que teve início em meados de maio, tem o intuito de motivar essa interação entre pacientes com câncer e os colaboradores da unidade hospitalar, que são as pessoa mais próximas nesse momento longe de suas famílias.

Escrito por Redação ,
Legenda: A iniciativa tem o intuito de motivar essa interação entre pacientes com câncer e os colaboradores da unidade hospitalar.
Foto: Arquivo Pessoal/ Patrícia Citó

Enfrentar o tratamento contra o câncer é uma estrada dura a percorrer, mas o apoio de pessoas importantes torna esse caminho um pouco menos desgastante. Durante a pandemia, pacientes vindos do interior do Estado, para se tratar no Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO), não puderam retornar às suas famílias, nem mesmo no final de semana, para preservar a saúde. Pensando em dar um apoio a esses pacientes, os colaboradores da unidade hospitalar, resolveram criar laços com eles através da escrita de cartas. 

Com cerca de 46 pacientes hospedados na Associação Nossa Casa, durante esse período de isolamento social, sem poder manter contato físico com a família e amigos, o setor de Terapia Ocupacional da CRIO viu a necessidade de criar laços com essas pessoas tão longe de suas casas, em um momento tão delicado.

“O projeto foi feito pensando na amenização dessa situação. A gente pensou em uma forma que esses pacientes se sentissem acolhidos por nós profissionais, porque mais do que nunca, nós estamos fazendo o papel de família, para eles. Pois somos quem eles estão podendo contar para tudo”, contou Patrícia Citó, terapeuta ocupacional e idealizadora do projeto
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O tratamento, que dura cerca de dois meses e meio, pode ser muitas vezes bem agressivo e sentir que tem alguém ao seu lado faz total diferença. Pensando em passar essa proximidade, esse envolvimento humano ao paciente, as cartas são escritas pelos próprios funcionários dos mais diversos setores da unidade hospitalar.

“Pensei também na carta pela questão do poder que tem a palavra. As palavras trazem esperança, e é por isso que uma das regras do projeto é que essas cartas sejam escritas de próprio punho, para simbolizar esse cuidado e contato”, explica a terapeuta. “Porque hoje em dia a gente usa muito a tecnologia né? É uma coisa fria. Então para eles perceberem que foi feita com carinho e atenção, elas são escritas de próprio punho”, completa.

“Eu pensei em uma forma deles terem essa segurança da gente, uma forma deles se sentirem acolhidos, de se sentirem especiais e de consequentemente se fortalecerem para enfrentar a situação e o tratamento em si”, destaca Patrícia. 

Ação

E essas boas sensações foram sentidas por Aurineide Pereira, de 50 anos, que recebeu sua Carta Amiga na manhã desta quarta-feira (17). “Eu adorei, fiquei muito emocionada pelas palavras deles, muito bonitas. Me deu muita força, ontem eu falei com a minha família e recebi força, essa carta me deu mais força ainda, para eu vencer o que estou passando, e se Deus quiser, eu vou vencer”, declarou.

“É um momento muito difícil, porque a gente fica longe da família e eu tenho um filho de quinze anos e um netinho de um ano, então para mim, é muito difícil”, completa Aurineide, natural de Aracati e está em Fortaleza para tratar um câncer de mama. 

Outro que também se mostrou bastante emocionado ao receber a Carta Amiga, foi o senhor Olavo Rodrigues, de 59 anos, que mora no município de Granja. “Eu gostei, só senti coisa boa. [Só tenho a] agradecer pela palavra amiga e força que ela está dando pra gente”, disse emocionado.

Quem escreve

Mas a emoção não é exclusiva da parte de quem recebeu a carta, a enfermeira da pesquisa, Branca Dias, também foi motivada a escrever para um desses pacientes por esse sentimento. “Eu pensei em proporcionar amparo, porque eu sabia que naquele momento eles estavam se sentindo sozinhos, por conta da doença, por conta da pandemia, de não poder ir para casa e ver a família. Então eu pensei que queria causar o máximo de conforto possível”, pontua a enfermeira. 

Para Branca saber que emocionou alguém com suas palavras e passou esse calor humano, funcionou como um engrandecimento pessoal. “Eu não tive contato direto [com quem recebeu minha carta], mas me mandaram o vídeo e foi muito emocionante. Eu me emocionei muito porque eu não imaginava de deixá-la tão feliz, tão emocionada. Minhas expectativas foram mais que superadas”, conta. 

“Eu refleti muito como uma palavra pode confortar, como ela pode curar naquele momento uma tristeza, um sentimento ruim, a solidão. Me engrandeceu assim, eu pude confirmar que uma palavra de afeto e de amor, pode curar qualquer coisa”, frisa Branca. 

De acordo com a idealizadora do projeto, Patrícia, o sentimento de agradecimento fica para todos, tanto para quem escreve a carta quanto quem recebe, e é isso que vai movendo a iniciativa. “Na verdade estão todos se agradecendo, eu agradecendo quem tem escrito, por ter transformado o dia daquela paciente. A paciente agradecendo pelas palavras. Quem escreveu agradecendo por participar do projeto, é uma corrente”, conclui.