Paciente que venceu a Covid-19 deixa cartas de agradecimento: "Anjos com asas invisíveis"

Prestes a poder voltar para casa e pegar no colo o filho, de apenas três meses, Renata não poderia deixar de agradecer aos profissionais da saúde que a acompanharam durante os 10 dias na UTI

Escrito por Rodrigo Rodrigues , rodrigo.rodrigues@svm.com.br
Legenda: Renata ficou internada durante 10 dias na Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Nesta semana, recebeu alta médica após se recuperar da Covid-19.
Foto: Divulgação

Reconhecimento e gratidão transbordam pelas linhas escritas à próprio punho pela professora e empresária Renata Alves Lima, 36, ao vencer a Covid-19 no interior do Estado. Após 10 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, na região Norte, a paciente deixou uma carta destinada aos profissionais da saúde em forma de agradecimento:

“São como anjos com asas invisíveis”.

A professora recebeu alta médica nesta segunda-feira (3) e segue se recuperando na enfermaria do Hospital Dom Walfrido, em Sobral. “Terei alta hoje (5) à tarde. Vou ver meus filhos, pegar meu bebê de três meses no colo depois de 18 dias”, conta, emocionada. “Estou aqui vibrando de alegria em poder voltar para casa”. Onde reside, no município de Graça, o esposo, uma filha de 12 anos e o filho mais novo, de três meses, aguardam pela chegada.

Aplaudida pelos profissionais ao deixar a UTI, Renata também teve o cuidado de distribuir bilhetes aos profissionais da ala Covid I, da Santa Casa, com os quais pôde se aproximar durante os 10 dias de internamento. “Tive a oportunidade de conhecer anjos com asas invisíveis, pessoas tão normais e ao mesmo tempo tão extraordinárias, que antes dessa difícil experiência, talvez não soubesse que fossem capazes de existir”, disse, na carta. 

“É uma doença muito cruel e rápida. Não demorou nem 24 horas desde a primeira falta de ar para eu estar dentro de uma UTI. Que as pessoas possam estar levando a sério e que valorizem suas vidas. Graças a Deus, para mim deu tempo, mas pessoas da minha cidade mesmo não tiveram a mesma sorte”.

Situação epidemiológica em Graça, conforme dados da Prefeitura:

  • Confirmados: 543
  • Óbitos: 7
  • Curados: 469

Renata completa 37 anos no próximo dia 17. Agora, conta que tem duas datas para comemorar. “Meu nome é Renata, que significa renascida. Só não sabia que Deus iria me dar a oportunidade de nascer duas vezes no mesmo mês”.  Durante a internação, mesmo sem comorbidades e se considerando “muito saudável”, ela chegou a ter 80% dos pulmões comprometidos pelo novo coronavírus.

Legenda: Ao deixar a ala Covid I, na Santa Casa, distribuiu cartas como forma de agradecimento aos profissionais da saúde.
Foto: Divulgação

Superação

Moradora do município de Graça, a empresário e professora começou a sentir os primeiros sintomas em 17 de julho. No mesmo dia, foi orientada a se isolar, em casa. “Fiquei em um quarto da minha casa. Tenho uma filha de 12 anos e um bebê de três meses, que ficaram aos cuidados do pai e de uma secretária”, recorda. No dia 18 de julho, orientada por um médico, ela começou o tratamento com medicamentos, na própria residência. 

No dia 24, no entanto, os sintomas respiratórios ficaram mais fortes e ela precisou buscar ajuda de um médico. Tudo foi “muito rápido”. Ao sentir a falta de ar pela primeira vez, já buscou auxílio profissional. No mesmo dia, Renata precisou ser levada a uma unidade em Mucambo. “Depois, fui transferida para o Dom Walfrido (em Sobral) e já não conseguia mais ficar sem oxigênio”.

No sábado (25), precisou ser internada na UTI Covid I, na Santa Casa. A partir daí, foram 10 dias seguidos na UTI. 

“É como se você estivesse morrendo afogada. E aí, é melhor só fechar os olhos e deixar acontecer. Lutar é muito doloroso.  É uma batalha muito difícil, mas, graças a Deus, consegui”.

A professora lembra que os dias foram “muito difíceis” e que chegou a duvidar da recuperação. “É muito difícil, principalmente, quando se está na sala de UTI e vê alguém morrendo, como eu vi. Tudo isso mexe muito com o psicológico da gente”, ressalta. “Mas, temos que acreditar, lutar e fazer de tudo para voltar para casa e ver a família”. Meses antes, o irmão de Renata também precisou ficar internado por conta da doença. Felizmente, se recuperou.

Legenda: Renata completa 37 anos no próximo dia 17. Durante a internação, mesmo sem comorbidades, chegou a ter 80% dos pulmões comprometidos pelo novo coronavírus.
Foto: Divulgação

“Há 18 dias que não vejo meus filhos. Meu filhinho fez três meses e no dia eu sequer pude olhar para ele, colocá-lo do colo. Mas, se Deus quiser, vou ver ele fazer um aninho, dois aninhos, 50 anos… Agora, é só alegria e aproveitar a família e essa nova oportunidade de vida”.

Cartas

A professora conta que cada profissional, ao seu modo, se esforçou para que a recuperação fosse uma realidade presente. Para ela, a Medicina andou lado a lado com o calor humano e palavras de incentivo dos “anjos”, como chamou. “Quando você entra na UTI, você não conhece ninguém, não vê sua família, não tem acesso ao celular. Sentir o cuidado e o carinho de cada um faz a gente mudar a visão de tudo”, recorda. 

"Fiz uma carta citando os profissionais por categoria e também de próprio punho para aqueles que consegui conhecer um pouco mais. Vira e mexe eles iam ali onde eu estava com uma palavra de alento, de conforto, esperança”. 

Com folhas e caneta disponibilizadas pelo hospital, a professora escreveu tudo que gostaria de falar aos profissionais.

Após isso, enviou ao esposo, que digitou a mensagem e a levou no dia da alta da UTI de Renata, nesta segunda (3). “Fui escrevendo uns recadinhos em algumas. Recebi alguns retornos de pessoas de lá me agradecendo pelo reconhecimento. É um trabalho tão árduo. Eles colocam a vida deles em uma situação de exposição, deixam suas famílias para cuidar de nós e às vezes não são reconhecidos”. 

Recebendo o carinho de amigos e familiares, a professora e empresária, mãe e esposa, agora, segue para cara com uma nova missão.

“Quando a gente é abençoado a gente tem que agradecer e contar para as pessoas o quanto elas foram importantes. Quem sai de uma doença difícil como essa tem obrigação de contar histórias felizes e é isso que quero fazer daqui pra frente”. 

Legenda: Nesta quarta-feira (5), Renata foi liberada para voltar para casa, em Graça, e abraçar o filho, de apenas 3 meses, a filha de 12 anos e o esposo.
Foto: Divulgação

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