Moradores instalam pias compartilhadas em comunidades do Grande Bom Jardim, em Fortaleza

Os pontos colocam à disposição sabão e água para higienização das mãos. São nove pias no total e a previsão é que mais duas sejam instaladas até quinta-feira (24). Ação é acompanhada pela Fiocruz e conta com apoio da Cagece

Escrito por Redação ,
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Legenda: O modelo do sistema de higienização foi desenvolvido pela equipe da Frente de Luta por Moradia, em conjunto com a comunidade

No Grande Bom Jardim, em Fortaleza, moradores distribuíram pias compartilhadas nas comunidades que compõem a área. A ação, preventiva, começou em abril e é encabeçada pela Frente de Luta por Moradia, em parceria com a Rede de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim (DLIS). Até o momento, nove pontos foram instalados e a rede segue em expansão: nesta quinta-feira (24), a área deverá receber mais duas pias comunitárias, a serem instaladas na Comunidade do Marrocos, no território do Bom Jardim.   

O modelo do sistema de higienização foi desenvolvido pela equipe da Frente de Luta por Moradia, em conjunto com a comunidade. A estrutura é abastecida por dois recipientes com água, além da disponibilização de materiais de limpeza. O esforço chamou atenção de instituições de peso, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), explica Rogério Costa, psicólogo e membro da comissão de articulação da Rede DLIS.   

“Fomos selecionados em um edital da Fiocruz. Eles nos acompanham nessa parte científica, além de orientar sobre a manutenção e ações de comunicação. A Fiocruz supervisionou, inclusive, a elaboração do novo modelo de pias com pedais. A Cagece entrou para instalar mais cinco unidades, que contam com encanamento próprio e isenção da tarifa de água”, explica.   

Mais prático, o novo sistema de pia comunitária dispõe de dois pedais: um, ativa a água e o outro o recipiente com sabão. Segundo Rogério, a estrutura é metálica e foi elaborada por um metalúrgico da comunidade “após o acompanhamento das instituições parceiras”.   

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Legenda: Primeiro modelo de pia instalada no Grande Bom Jardim
Foto: Fora o Grande Bom Jardim, bairros como o Lagamar e o Conjunto Palmeiras, já adotaram a prática

Apoio  

Existe uma logística estratégica por trás de cada instalação, complementa o coordenador. A equipe optou por espaços com grande circulação de moradores, principalmente em áreas comerciais. “Nossos pontos ficam por perto de associação de moradores e de comércios. Mas decidimos não colocar próximos de redes grandes de mercantil, que já tem um projeto sanitário. Nossas pias ficam perto de bodegas e iniciativas populares”, reforça Rogério.   

Segundo o vice-presidente da Associação Espírita de Umbanda São Miguel, Pai Neto, a recepção das pias pela comunidade está sendo bem sucedida. “Foi uma necessidade que a gente não sabia que tinha, uma ferramenta barata para combater o coronavírus. É útil e bem aceita pela comunidade. Enquanto eu pensava que ia ser vandalizada, as pessoas cuidam”, afirma. 

Para gerenciar a rede higiênica, o projeto conta com a disponibilidade dos moradores do Grande Bom Jardim. Cada pia está sob responsabilidade de um voluntário, que se compromete a trocar os materiais higiênicos e a fazer a limpeza dos espaços. O serviço é custeado pela iniciativa Adote uma Comunidade, outro projeto que atua no Grande Bom Jardim durante a pandemia.   

Pai Neto é responsável pela pia localizada na Granja Lisboa e reconhece o êxito da ação, já que o uso pela comunidade é regular. No momento ainda não há expectativa de novas instalações, o que pode depender do tempo e da adesão da população.  

Alternativa  

Do ponto de vista sanitário, a movimentação no Grande Bom Jardim é bem-vinda por estender cuidados a pontos com acesso sanitário precário, avalia o epidemiologista Luciano Pamplona, professor do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Não somente para a Covid-19. Existem doenças que são combatidas com esse ato de lavar as mãos. É uma coisa simples, mas que previne, principalmente, as doenças diarreicas, também comuns nesses espaços”, avalia.   

Além disso, a acessibilidade ao sistema estimula o hábito de lavar as mãos. “É uma intervenção extremamente eficiente nesse sentido, que serve não só para doenças respiratórias”. Ainda na avaliação do infectologista, acompanhar o resultado da investida pode trazer um novo olhar sobre saúde pública. “É preciso observar, antes de tudo. Acompanhar essa intervenção, entender como a população está usando esse acesso. O grande desafio é esse, avaliar antes de espalhar por outras comunidades.”, completa o médico.   

Fora o Grande Bom Jardim, outros bairros já adotaram a prática. Existem pias compartilhadas nas comunidades do Lagamar e no Conjunto Palmeiras

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