"Vou começar a fazer algo que dê retorno pra mim". Foi com esse pensamento que Carlos Diego da Silva, 33 anos, tomou a decisão de usar a experiência com filmagem e participação em eventos da igreja para seguir o rumo de influenciador digital. Assim, ele vestiu o nome "Diego Tripinha" e se dedicou às redes sociais, passando a mudar de vida.
Morador da Comunidade do Lagamar, Diego conta agora com quase 143 mil seguidores no Instagram, onde, além de publicar vídeos humorísticos, passou a fazer propagandas de marmitarias. O trabalho rendeu a ele e à família envios de refeições como retorno do trabalho realizado.
No entanto, a atividade na rede social foi ampliada — sem o propósito de lucrar, Diego Tripinha passou a usar o perfil com o intuito de promover solidariedade. Dessa forma, ele provocou mudanças não só na sua, mas também na vida de outras pessoas.
Doações
O influenciador destaca que o desejo de ajudar o próximo o acompanha desde muito pequeno, embora não tivesse condições de realizá-lo até recentemente. "Nunca tinha uma pessoa que acreditasse no meu potencial", aponta, dizendo que decidiu fazer isso a partir do ganho de "recebidos".
"Tava chegando bastante comida e lanche pra mim, e aí senti no coração a chance de compartilhar", afirma, pontuando que, inicialmente, chegou a dividir os alimentos com vizinhos. "Eles falavam brincando: 'Tomara que nunca se mude daqui, porque um banquete desse'", comenta aos risos.
Daí para a frente, ele decidiu levar as refeições a outras pessoas, dado que a comunidade sofre com situação precária e tem muitas pessoas em situação de rua. Uma galeteria com a qual mantém parceria o ajuda quinzenalmente com 100 quentinhas, distribuídas por ele a quem precisa matar a fome na região.
Campanha solidária
No entanto, o influenciador não organiza apenas doações de alimentos: ele já chegou a realizar o sonho do pequeno Carlos Eduardo Uchôa Carvalho, nove anos, conhecido afetuosamente como "Dudu": ganhar uma cadeira de rodas motorizada.
Ao ser buscado pelo tio de Dudu e conhecer a história do menino, o influenciador se sensibilizou com a situação do garoto, que perdeu o movimento das pernas com um ano e sete meses. De lá para cá, a criança não recebeu diagnóstico sobre o caso, mas passou a fazer fisioterapia como tratamento.
"Quando cheguei lá, fiquei muito sensibilizado, porque ele recebeu a gente com uma alegria tão grande que nem parecia cadeirante", conta, resumindo o encontro como uma "lição de vida". "Ele recebeu a gente com um sorriso no rosto que não pareceu, em nenhum momento, estar triste com aquela situação".
Depois de ouvir Dudu e a mãe dele, a auxiliar de serviços gerais Maria Cristiane Uchôa Carvalho, Diego se prontificou a ajudá-los, mas não sem antes levar um susto: o equipamento custaria R$ 22 mil. "Foi um desafio muito grande. Pensei: 'Rapaz, é o valor de um carro. Mas seja o que Deus quiser, vamos lá'".
Início de campanha
O influenciador passou a buscar contatos, mas não conseguiu arrecadar muitos fundos para a compra da cadeira motorizada. Isso não o desanimou, e ele pediu para amigos compartilharem a campanha.
Os próprios moradores do bairro se sensibilizaram, o que motivou a criação de uma vaquinha. Contando com pequenos valores a início, a ação foi avultada com uma "bênção", segundo Diego: uma pessoa da região doou R$ 4 mil de uma vez. "Esse valor me deu um 'up' para correr atrás", diz.
No dia seguinte, ele buscou o Instagram de uma loja de cadeiras motorizadas seminovas, que possuía um item do tipo em estoque, com apenas quatro meses de uso, avaliado em R$ 8 mil.
O achado motivou novo depoimento, e a campanha foi ampliada. "A gente de grão em grão foi completando o valor", relata, dizendo que a quantia foi levantada após duas semanas. Quinze dias depois, o material chegou ao seu alcance.
Ao revelar a compra à mãe de Dudu, a auxiliar de serviços gerais Maria Cristiane Uchôa Carvalho, a mulher não conseguiu segurar as lágrimas, conta ele. "Pra mim, isso foi mais do que uma vitória, foi muito desafiador", avalia. Assim, decidiram manter sigilo sobre o assunto até que o presente fosse entregue.
A alegria pelo recebimento da cadeira motorizada estampa felicidade e gratidão na mãe de Dudu. "A cadeira significa liberdade de locomoção pro meu filho, era a coisa que ele mais sonhava. Hoje, ele consegue andar na cadeira só", comenta Cristiane, ressaltando a busca por adaptar a criança à realidade em que vivem.
"É muito difícil, até porque minha casa não é adaptada pra ele. Mas a cadeira foi o primeiro passo; eu espero a gente poder fazer o resto", destaca.
Outras ações
Além de superar desafios como o de juntar grandes quantias, a solidariedade de Diego Tripinha já cruzou fronteiras. Em viagem à Venezuela, ele chegou a levar mantimentos para algumas pessoas carentes enquanto o país estava em crise.
No entanto, o foco do influenciador é ajudar as pessoas da própria comunidade. Ele conta que, entre os próximos projetos, pretende ajudar uma pessoa acamada após um acidente de moto e abrir espaço em suas redes para que moradores da área contem suas histórias e possam conseguir fazer alguma campanha junto ao público.
Trabalho como influenciador
Antes de seguir como influenciador digital, Diego Tripinha acumulou uma série de atribuições: já trabalhou em locadora de videogame, higienizou carros em um lava-jato, vendeu rifas e foi auxiliar de loja. Com o trabalho nas redes sociais, porém, decidiu abdicar dos benefícios da carteira assinada em um shopping da Capital em prol da nova atividade.
"Botei na balança e pensei: 'Vou ter que abrir mão de alguma coisa aqui', pois não tava conseguindo nem dar conta da minha vida de influencer, nem do meu trabalho", disse. Assim, tomou a iniciativa de negociar uma demisão no antigo emprego, no qual ficou por seis anos, ao tomar a decisão.
A escolha do influenciador assustou a família. "No começo, a família tomou um susto, pois pra eles eu me precipitei, troquei o certo pelo duvidoso", relata, com a ressalva de que a internet "não é hoje nem amanhã", principalmente na era do cancelamento.
Em razão disso, segundo o influenciador, ele já quase foi vítima de hackers, o que lhe gerou medo de perseguição. "Tem gente que não quer ver o nosso progresso e quer fazer maldade na nossa rede social".
Apesar do baque inicial, Diego conta com o apoio das familiares no percurso da nova ocupação. Segundo ele, o trabalho exercido lhe rendeu prestígio e respeito na comunidade, estendidos à sua família.
Atualmente, Diego Tripinha tem contrato com empreendimentos de ramos variados, que o pagam em troca de divulgação de produtos. Mesmo com a fama crescente na rede social, o influenciador frisa a intenção de seguir com o propósito solidário. "Quero mesmo é ajudar a comunidade, o próximo", destaca.