Aos 5 anos, colocou uma bacia de verdura na cabeça e saiu pelas ruas do bairro Bom Jardim, em Fortaleza, para vender. Precisava trabalhar para ajudar a mãe e os irmãos na sobrevivência. Ainda muito menina, Katiana Pena, entendeu a gravidade da miséria e a urgência da fome. Hoje, aos 40, a bailarina, coreógrafa, educadora e empreendedora social não esquece o quanto dói a falta. Por isso, trabalha arduamente para transformar a vida de meninos e meninas da periferia com dança, educação e comida.
Ela conta sua história, desafios e sonhos no episódio desta quinta-feiras, às 18h, no podcast Que Nem Tu. Com apresentação de Alan Barros e Karine Zaranza, o podcast vai ao ar no yputube do Diário do Nordeste e nas principais plataformas de podcast. O programa também vai ao ar na TV Diário, às 21h.
Cria de projetos sociais como o Circo Escola Bom Jardim e o Edisca, a bailarina que começou na arte para conseguir um prato de comida e aplacar a fome ganhou não só formação, oportunidades e vivências internacionais, como também a vontade de mudar outras realidades. Foi então que a bailarina que dançou em palcos pelo Brasil e até fora dele decidiu transformar sua casa em uma escola de dança para a comunidade. Sem recursos financeiros, mas com muita coragem abriu as portas do seu Instituto Katiana Pena há 7 anos. De lá pra cá, já foram mais de 5700 alunos beneficiados.
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"Quem mora na favela é muito cruel pq você acorda sem expectativa nenhuma. Você só consegue ver aquilo alí que tá na sua volta. Então a dança me proporcionou tudo: o comer, a cultura, a conhecer outras pessoas, a dançar em grandes palcos. transitar em vários mundos", explica Katiana.
Por viver os contrastes, fez questão de se fincar no bairro-casa. Nunca pensou em sair de lá, pelo contrário, queria que o bairro tivesse tantas oportunidades quanto seus moradores merecessem. Ela queria ressignificar a imagem de bairro violento para um local de criatividade, oportunidade e arte.
"Teve uma época que todo artista não queria dizer que era do Bom Jardim. Eu não entendia porque as pessoas tinham a necessidade de negar o bairro. E pra mim era motivo de alegria estar dançando no palco da Unesco na França e na semana seguinte estar na favela, que é um dos bairros mais perigosos de Fortaleza. Aquilo começou a me incomodar. Eu queria mudar o contexto do bairro Bom Jardim", justifica.
Katiana modificou muitas vidas. Teve aluno do Instituto que foi estudar em Oxford, outros que montaram empresas de referência em Fortaleza, outros se tornaram grandes bailarinos. Cada vida transformada é celebrada pela mulher que não descansa nem aceita negativas. Para ela, é preciso esperançar! Um verbo difícil para quem vive na periferia, mas que deve ser de todos.
"Eu sonho um futuro bem justo para esse bairro. Que a gente consiga colocar ele no lugar onde merece e que esse lugar seja propício para as pessoas. Eu sonho que o Bom Jardim seja todo saneado, que tenha hospitais, pracinhas, academias para a terceira idade, iniciativas... Eu sonho e pretendo ver o Bom Jardim feliz. Não o Bom Jardim sempre naquele discurso de não tem vez. Meu fiho morreu na fila de espera, meu pai morreu na fila de espera do hospital...Não tem, não tem... Eu sonho o Bom Jardim num lugar justo e feliz. E dar jus ao nome, né, Bom Jardim".