Mais de 8,2 mil bebês estão com vacinação atrasada em Fortaleza; veja onde atualizar a imunização

Crianças menores de 1 ano de idade são foco de busca ativa pelo município, que tem meta de imunizar 31 mil

É regra: 18 vacinas, entre primeiras doses e reforços, devem ser carimbadas no cartão de bebês de até 1 ano, de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação. Em Fortaleza, porém, 8.250 pequenos de até 12 meses estão com imunização incompleta e atrasada.

O número – que representa 1 a cada 4 bebês que deveriam ser vacinados – inclui as crianças que têm pelo menos uma dose de imunizante em atraso, seja BCG, tríplice viral, poliomielite ou outras fundamentais à proteção da saúde.

A meta da capital cearense é completar a imunização de 31 mil crianças de até 1 ano de vida.

As informações são da coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Vanessa Soldatelli, dadas ao Diário do Nordeste durante lançamento da Campanha Nacional de Multivacinação, no bairro Paupina, na manhã dessa segunda-feira (2).

Ao comentar a cobertura vacinal geral ainda abaixo da meta na cidade, a coordenadora destacou a preocupação específica com o público infantil, um dos mais vulneráveis a infecções transmissíveis – e preveníveis por imunizantes.

“Estamos priorizando os menores de 1 ano de idade, que formam o calendário básico. Nossa meta é vacinar 31 mil, mas desses ainda há mais de 8 mil com pelo menos uma vacina em atraso”, lamenta Vanessa.

74%
é a média da cobertura vacinal atual de Fortaleza, considerando todos os imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação.

>> Confira as vacinas obrigatórias para cada idade da criança

Segundo a coordenadora, “as vacinas, isoladamente, estão com cobertura em torno de 80%”, e outras aparecem com cobertura considerada baixa. “Mas não é por falta de vacina, e sim por erros de registro. O próprio SI-PNI está com problema”, explica.

Na última sexta-feira (29), o Diário do Nordeste acessou o Sistema do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) para checar as coberturas vacinais do Ceará, mas as autoridades de saúde locais afirmaram que os dados estão defasados – e, portanto, não refletem a realidade.

Por que há bebês não vacinados?

Em Fortaleza, a SMS tem convocado a população para buscar os postos de saúde e atualizar o cartão de vacinação das crianças. Além disso, Vanessa Soldatelli aponta que a principal estratégia atual é a realização de busca ativa.

“Estamos pegando o relatório de faltosos, vendo os nomes, quem são as crianças que precisam de vacina, pra irmos atrás. Levantando as relações das escolas para bater com a da saúde e não deixarmos escapar nenhuma criança”, frisa.

A medida é fundamental para driblar as dificuldades que ainda impedem as famílias de levar os bebês, crianças e adolescentes aos postos.

“Tem regionais onde o posto não é tão próximo da residência – e nenhuma regional da cidade tem 100% de cobertura de agentes de saúde. Estamos procurando essas áreas de mais difícil acesso. Neste ano, vamos recuperar essas coberturas vacinais”, sentencia Vanessa.

Vacinação e escola

A integração entre as gestões de saúde e de educação, ressaltada durante o lançamento da campanha nacional, que contou com presença do ministro da Educação, Camilo Santana; e da ministra da Saúde, Nísia Trindade, é uma ferramenta-chave para ampliar a imunização.

Nísia destacou, inclusive, que todos os municípios cearenses aderiram ao programa Saúde na Escola, atendendo a 2,6 milhões de estudantes, mas alertou que as coberturas vacinais do Estado ainda estão aquém do esperado.

“Aqui, já atingimos 86% na cobertura de poliomielite, 82% na tríplice viral e mais de 100% na BCG. Mas ainda não é suficiente”, disse a ministra.

A fala foi endossada por Camilo Santana. “A escola não é só o lugar para aprender as matérias, a ler e a escrever. Ela ultrapassa esses muros, tem que discutir a saúde das crianças”, sublinhou o titular do MEC.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, também no evento, o secretário de Saúde de Fortaleza, Galeno Taumaturgo, destacou que uma ferramenta de inteligência artificial tem contribuído para monitorar a vacinação infantil na cidade.

“O Big Data me diz quantas crianças, em que escola e quais as vacinas estão atrasadas, em tempo real. Assim, facilmente nos dirigimos à creche já sabemos quais são as vacinas e a quantidade de crianças que precisam tomar”, pontua.

Dia “D” de Multivacinação

No próximo sábado (7), ocorre o Dia D da Campanha Nacional de Multivacinação em todo o Brasil. Em Fortaleza, todos os 118 postos de saúde fixos e 3 unidades itinerantes terão os imunizantes disponíveis à população.

>> Veja lista com endereços de postos de saúde de Fortaleza

Vacinas disponíveis para crianças:

  • BCG;
  • Hepatite B;
  • Poliomielite (VIP – inativada e VOP – atenuada);
  • Rotavírus;
  • Pentavalente;
  • Pneumocócica 10;
  • Meningocócica C (conjugada);
  • Febre Amarela;
  • Tríplice viral (Sarampo, Caxumba, Rubéola);
  • Varicela;
  • Hepatite A;
  • Tríplice Bacteriana (Difteria, Tétano e Coqueluche);
  • Papilomavírus humano (HPV).

Vacinas disponíveis para adolescentes:

  • Hepatite B;
  • Dupla bacteriana (Difteria e Tétano);
  • Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba, Rubéola);
  • Papilomavírus humano (HPV) e Meningocócica ACWY (conjugada), conforme esquema vacinal.
  • Covid-19.

Riscos do atraso vacinal

A pediatra Vanuza Chagas observa que há uma queda progressiva nos índices de “praticamente todas as vacinas do PNI” desde 2013, e aponta a “falsa sensação de segurança” como um dos fatores para isso.

“As pessoas começaram a ter uma sensação de falsa segurança, por não se ver doenças que estavam sob controle ou erradicadas justamente pelas altas coberturas vacinais. E isso levou muito a não procurarem atualizar o cartão de vacina”, lamenta.

As crianças e os idosos, extremos da vida, são pacientes que podem complicar diante de várias doenças imunopreveníveis, e que pelo fato de as pessoas não estarem buscando a vacinação, ficam mais vulneráveis a doenças que voltaram a circular, como sarampo e poliomielite.
Vanuza Chagas
Médica pediatra

A pediatra reforça, ainda, a importância de garantir esquemas vacinais completos, mas que os imunizantes possam, de fato, atuar.

“As vacinas precisam ter esquema completo para que possam gerar resposta imunológica efetiva: vacina dada é computada, quando vem a dose de reforço, a memória é reativada e a proteção é gerada”, ilustra.