Cinquenta anos da Copa de 1970

Naquele 3 de junho de 1970 adentraram o gramado da cidade mexicana de Guadalajara para um jogo contra a Tchecoslováquia onze rapazes vestidos de amarelo. O santista Carlos Alberto Torres os capitaneava, e seu companheiro de clube Pelé era o seu jogador mais prestigioso. Noventa milhões de brasileiros, ou assim dizia a propaganda ufanista, os acompanhavam de longe, pela primeira vez ao vivo, em imagens preto e branco transmitidas por um dos raros satélites da época. O País que deixaram atrás era eufórico e podre.

Eufórico - altas taxas de crescimento econômico, novas estradas e hidrelétricas, virtual falta de críticas apontavam para um presente maravilhoso e um futuro melhor ainda.

Podre - meio século depois colhe-se os resultados de uma economia que cresceu concentrando renda, de obras que destroem a biodiversidade e os recursos hídricos, e de uma mentalidade de que a força soluciona os problemas e de que a democracia não é eficiente.

Fortaleza também não era a mesma. A aparente placidez da cidade, hoje celebrada por alguns mais velhos, vinha muito mais do tamanho que de qualquer virtude dos poderes da época. Nem sequer se pode dizer que era a mesma cidade - tal a diferença entre uma urbe de meio milhão de habitantes para outra, hoje, cinco vezes maior. A rua Coronel Jucá, ao lado do BNB Clube, era fronteira - além dela, um descampado a ladear a Av. Santos Dumont até a Cidade 2000. Ir do Centro até o Clube de Regatas Barra do Ceará constituía uma excursão, quase uma viagem. O mesmo clube que hoje os jovens conhecem como o Cuca da Barra.

Os 11 rapazes nada sabiam disso - concentravam-se em vencer e nos dar alegrias, e o fizeram e alguns se tornaram lendas - como Tostão, Jairzinho, Gerson, Rivelino, além de Carlos Alberto e Pelé. Que as lembranças daqueles momentos na distante Guadalajara nos façam esquecer nossas mazelas. Ao menos por um momento.

Paulo Avelino

Administrador


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