O gênio e o louco

Contracenado no século XIX, o longa-metragem "O gênio e o louco" (2019), dirigido por Farhad Safinia, narra a quase impossível, à época, missão de se produzir um dicionário, que mais tarde se transformou no Dicionário Oxford. A empreitada foi intentada por um autodidata, o professor James Murray (1837 - 1915), e um médico, o Dr. W.C. Minor (1834 - 1920), este que enlouquecido, embora inocentado por um crime inconteste, passa a viver num hospício.

Os atos de produção se desenvolvem em meio a uma equipe diminuta de lexicólogos e num vai e vem de problemas editoriais, ao tempo em que, paralelamente, a história mostra a gritante capacidade de perdão por parte da viúva Eliza, a qual, ao perder o marido, morto pelo médico, por absoluto equívoco advindo da esquizofrenia, passa a desenvolver a compaixão pelo assassino.

Dr. Minor, por sua vez, nunca se perdoou pelo ato de dar cabo à vida de um pai de meia dúzia de filhos. Ao demonstrar a absurdez com que se faziam tratamentos a esquizofrênicos, o filme, em equipe hollywoodiana de escol, possibilita uma viagem ao tempo passado, com rápidas cenas de uma família em que os filhos da viúva passam fome, em decorrência da ausência do pai, cessada a penúria quando a viúva aceita receber a ajuda financeira, advinda do soldo do médico, aposentado do Exército.

No transcurso dos fatos da verídica narrativa, percebe-se o fiel tratamento que o médico, no cárcere, recebe do carcereiro-amigo, na clara percepção de que a dor da mente exige cuidado e, sobretudo, parcimônia e amor ao semelhante. Aos que nutrem apreço às palavras, à lexicografia, à antropologia e, também, às boas telas, vale a pena assistir ao filme.