Fomos à Uruburetama

Impossível ficarmos inertes ante as terríveis denúncias que mulheres estariam sendo abusadas e estupradas por um médico, eleito pelo povo para a Prefeitura Municipal de Uruburetama. Juntamo-nos às pressas e saímos em caravana para dizer pras mulheres que elas não estão mais sozinhas.

Fomos a Uruburetama dizer para elas que é comum a voz da mulher não ter credibilidade quando oferecem denúncias, principalmente, quando é contra um senhor da casa grande. Fomos dizer para elas que entendemos a dor que lhes vai na alma, quando são abusadas ou estupradas e que nós sabemos o que isso significa. Sabemos que a dor trava a alma da gente que, inicialmente, não conseguimos acreditar no que aconteceu, queremos esquecer para sempre sermos as vítimas dessa hediondez.

Nossa ação, foi apenas o primeiro passo, ainda estamos impactadas com o tamanho da denúncia. Muitas daquelas mulheres sequer jamais conheceram um consultório médico, ou um hospital público, porque as políticas públicas, na maioria das vezes, não chegam para quem efetivamente necessita. Muitas daquelas mulheres sequer sabem realmente o que é violência, pois foram criadas no grito, no chute e aprendendo sua insignificância social desde cedo. Muitas delas não sabiam que aquilo era violência e não consultas médicas. Todas elas foram em busca de alguém que lhe curasse o corpo, e lembro de uma que foi porque havia sido estuprada e foi novamente, segundo seu depoimento na TV.

Estamos tentando que elas entendam que ser mulher neste País ainda é muito difícil e apenas umas poucas conseguem realmente ter acesso ao Estado e, geralmente ele nem entende o que elas dizem. Somos muito poucas as que conseguiram se libertar dos grilhões que a cultura machista nos impõe desde cedo nos obrigando a ser só belas, agradáveis e úteis.

Vamos contar pra elas que lutamos muito para conseguirmos votar e quase não somos eleitas. Vamos dizer que todas as nossas histórias se parecem, umas mais, outras menos. Mas depois, vamos chamá-las para juntar-se a nós e, juntas não permitirmos que nem mais uma de nossas mulheres sirva de objeto para as taras de bandidos que usam da sacralidade de uma profissão digna e de um cargo público para extravasar sua maldade.

Vamos sim.