Editorial: Os bancos e a tecnologia

Mais rapidamente do que se imaginava, a Tecnologia da Informação, que ganhou o mundo digital, chegou aos bancos. Agora, estas instituições se sentem desafiadas pela rapidez e simplicidade com que a inesperada concorrência das "startups" invade um espaço que sempre foi exclusivamente seu.

No Brasil, onde o mercado financeiro está concentrado em apenas meia dúzia de grandes estabelecimentos bancários, cujos lucros já foram chamados de obscenos, surge uma luz no fim do túnel da falta de competição. O Banco Central baixou, na quinta-feira, 25, uma Circular estabelecendo diretrizes que nortearão o chamado "open banking" - um novo sistema de concessão de crédito que, de acordo com as melhores previsões dos especialistas, permitirá a livre concorrência por meio da entrada das "fintechs" - empresas tecnológicas que oferecem serviços financeiros de forma inovadora, a começar pela rapidez e brevidade com que recebem, analisam e concedem o crédito - e tudo feito por meio de aplicativos instalados em telefones móveis, os celulares. Isso já acontece em vários países do mundo e é uma tendência contra a qual não adianta a oposição dos governos ou do próprio sistema bancário.

Para além de donos do dinheiro, os bancos, no Brasil, dominam também o cadastro pessoal dos seus clientes, aos quais fornecem serviços e produtos não solicitados, como cartões de crédito com juros igualmente pornográficos. A tecnologia e a inovação estão, porém, iniciando uma mudança, que será radical, na relação dos agentes financeiros com sua clientela. Uma dessas mudanças permitirá que, autorizado pelo cliente, as "fintechs" (empresas que usam intensivamente a tecnologia para oferecer, também, produtos financeiros) acessem os seus dados pessoais, hoje disponíveis apenas no cadastro dos bancos. E mais: o "open banking" permitirá que o consumidor visualize - em um só aplicativo - o extrato consolidado de todas as suas contas bancárias e investimentos, podendo ainda realizar transferências e pagamentos sem a necessidade de utilizar o aplicativo do banco. Em resumo: o sistema financeiro brasileiro, hoje encapsulado pela carência de competição, será escancarado à livre concorrência.

Esse câmbio não se dará no curto prazo. No segundo semestre deste ano, o Banco Central promoverá audiências públicas para recolher opiniões e sugestões das partes interessadas. A autoridade monetária pretende que o novo sistema compartilhe os dados cadastrais e transacionais dos clientes, incluindo informações sobre contas de depósito, operações de crédito, produtos e serviços contratados, para o que haverá a abertura e a integração de plataformas e infraestruturas de tecnologia, desde que o correntista o autorize.

Os operadores do mercado financeiro consideram acertada a decisão do Banco Central de incluir as "fintechs" na oferta de crédito, o que favorecerá os pequenos negócios. Mas eles mesmos admitem que os grandes beneficiados do novo sistema serão os grandes bancos, cuja estrutura tecnológica é suficientemente forte e capaz de ofertar, com a mesma velocidade e eficiência das "fintechs", crédito mais barato para quem dele precisa.


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