Editorial: O desafio da precisão

O anseio por respostas sobre os tempos vindouros, em especial sobre quando certa normalidade poderá ser restabelecida, é constantemente frustrado pela dificuldade de se chegar a dados precisos sobre a crise sanitária. Notícias sobre os avanços da rede multidisciplinar de cientistas que estudam a Covid-19 dão provas de que ainda há muito o que se conhecer sobre a doença. Cada pesquisa é uma adição à tentativa de se mensurar toda a extensão do que pode o coronavírus causar em um organismo e, olhado de forma panorâmica, sobre uma comunidade - palavra capaz de abranger de uma aldeia ou quilombo até um país, um continente ou mesmo todo o gênero humano.

Tanto a ação dos profissionais de saúde que atuam em unidades de atendimento e tratamento médico, quanto aqueles dedicados a ações profiláticas, no sentido de conter a epidemia em seu território, dependem de informações, precisas e abundantes. Em todo o mundo, as autoridades sanitárias reconhecem o problema da subnotificação de casos. A pandemia é, portanto, não inteiramente conhecida em sua extensão.

Há projeções que buscam dar uma ideia mais precisa do quadro. Epidemiologistas se valem de modelos matemáticos, estabelecidos a partir de casos precedentes de epidemias, com o objetivo de se acercar mais da realidade, considerando não apenas os dados concretos sobre o comportamento da doença na sociedade, como o vasto e vago terreno ainda desconhecido.

É fundamental que se saiba, de forma cada vez mais aproximada, a extensão da pandemia. Ter uma ideia precisa de quais regiões são mais afetadas permite que políticas sanitárias sejam gestadas e implementadas para solucionar problemas localizados. Há, claro, problemas crônicos que demandam esforços e investimentos de fôlego, caso da cobertura precária do sistema de saúde nas áreas mais pobres das grandes metrópoles e de cidades do interior. Contudo, há medidas emergenciais que podem e devem ser adotadas, paralelamente ao esforço necessário para superar estas limitações mais graves.

A testagem em massa da população se colocou como um desafio desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a crise da Covid-19 como uma pandemia. Houve uma questão de método e de logística a ser equacionada, a disponibilidade de recursos e a alta demanda por testes, impossível de ser suprida no momento de explosão da doença. Há, também, um componente político a ser considerado, já que em algumas partes a baixa testagem garantia a maquiagem do número de casos.

Passado um semestre deste enfrentamento da doença, o desafio continua posto, com novas dificuldades. Nas últimas semanas, especialistas têm aumentado o tom das críticas contra certos tipos de exames, em especial os de testagem rápida. A disponibilidade de testes continua problemática. Tanto que foi sancionada a Lei 14.023/20, que garante a prioridade dos exames de diagnóstico da Covid-19 para os profissionais considerados essenciais ao controle da doença e à manutenção da ordem pública.

Aos entes públicos, cabe o dever de continuar confrontando este obstáculo. O conhecimento fundamento da ciência é arma indispensável para se combater a pandemia.


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