Editorial: Expectativas positivas

Como se esperava, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reduziu quarta-feira (30) em mais 0,5% - para 5% ao ano - a taxa de juros Selic. E sinalizou que, na sua próxima reunião, em dezembro, cortará mais 0,5%, com o que a Selic fechará este exercício na menor marca da história, em 4,5% ao ano.

Selic é a taxa de juros que o Governo toma emprestado dos bancos para se financiar. Com taxas tão reduzidas, os bancos - além de financiarem seu principal cliente, o Governo - são obrigados a correr atrás das pessoas físicas e jurídicas para garantir um lucro maior.

É por esta e outras razões que há uma gigantesca diferença entre a taxa Selic - válida para os títulos públicos - e a cobrada das empresas e dos consumidores, que são castigados ainda mais duramente quando têm de recorrer ao cheque especial ou quando atrasam o pagamento da fatura do cartão de crédito. Neste último caso, os juros chegam a 150% ao ano.

A decisão do Copom coincide com um cenário que tem, embora discretamente ainda, animado a confiança do empresariado na economia. Neste momento, o chamado Risco Brasil desceu a 117 pontos - o menor desde 2013, quando alcançou 110 pontos.

Para essa redução, contribuíram a queda da taxa de juros, a inflação sob controle, a aprovação da reforma da Previdência e, também, a distensão das relações políticas e econômicas dos Estados Unidos com a China.

Para as empresas brasileiras que se financiam no exterior, onde os juros reais giram em torno de 2% ao ano, quanto menor o Risco Brasil, maior é a chance de obter empréstimos com baixas taxas de interesse.

Há outro dado relevante: a nova Selic alivia - e alivia muito - a despesa do Governo com o pagamento dos juros de sua dívida, que já chegou a representar 10% do PIB e hoje caiu para 5%.

Mesmo com as dificuldades que enfrenta na sua relação com o Congresso Nacional e com a mídia, o Governo do presidente Jair Bolsonaro tem produzido, na área da economia, um feixe de boas notícias.

Seu recente périplo pelo Japão, China, Emirados Árabes e Arábia Saudita resultou em acordos em diferentes áreas e, ainda, na promessa dos sauditas de que seu Fundo Soberano investirá US$ 10 bilhões em empreendimentos no Brasil, incluindo projetos no setor do saneamento básico, uma das grandes e graves necessidades do País, principalmente na periferia de suas maiores cidades.

Mas ainda falta muito para recolocar o Brasil na estrada do crescimento sustentável. Faltam as reformas administrativa, tributária e política, além de um novo Pacto Federativo a favor do qual se esforçam, conjunta e pessoalmente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; e do Senado, David Alcolumbre.

E falta maior entrosamento do presidente Bolsonaro com as lideranças do Parlamento, em que o seu PSL rachou por causa da disputa pela divisão dos mais de R$ 100 milhões que o partido recebe anualmente do Fundo Partidário. Este poderia ser - mas não é - um problema menor diante do imenso imbróglio que o Governo tem à sua frente. Mas há luz no fim do túnel.


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