Editorial: Curva ascendente

O Brasil testemunhou de janeiro a agosto últimos o surgimento de 2,1 milhões de empresas. Esse quantitativo representa 20,7% a mais do que foi verificado em igual intervalo do ano passado. Os números são apurados com periodicidade mensal por uma instituição particular, com base em dados públicos, e divulgadas no estudo denominado Indicador de Nascimento de Empresas. Têm sido, pela curva ascendente que apresentam, saudados com otimismo por representações das instâncias públicas e do empresariado. É justo que seja assim.

O avanço há de ser considerado positivo. Primeiro, por apontar sinais de recuperação da economia; depois, por antever princípios de valorização do empreendedorismo; por fim, por se estabelecer como via oposta à informalidade da economia - o que, em quaisquer cenários, é um sintoma de patologia nos recursos públicos e nas finanças das famílias, capaz de corroer a segurança dos cidadãos.

Na comparação com o mês de julho, avançou-se 1%, chegando a 284,143 mil novas empresas constituídas. Em relação a agosto de 2018, segundo o estudo, o número de novos empreendimentos aumentou 16,6%.

Ainda são números incipientes, mas indicam uma reação do Brasil à sequência de crises registrada desde 2005 - que têm como marcos históricos de início as articulações políticas do chamado "mensalão do PT" e de término o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016. Trata-se, é correto avaliar, de uma reação necessária após 14 anos de dificuldades.

Mais ainda: a conjuntura configura-se também como uma reação política. E é aí que possivelmente está o mais destacado ponto desse novo cenário. Afinal, se a política dá sinais de que está se robustecendo, o momento permite que se avalie a revitalização como um caminho mais independente e mais integrado aos movimentos e aos interesses dos cidadãos do que aos dos políticos e dos partidos.

É legítimo, então, que se enxerguem mostras de maturidade no panorama que se descortina. Embora possam-se identificar discursos de negação, o que parece prevalecer é o entendimento de que a política é uma ferramenta civilizatória indispensável para as relações sociais - é, enfim, a interseção de noções culturais, filosóficas, jurídicas, morais e éticas.

Também é possível, enfim, atribuir esse ganho e essa capacidade de restauração à força e à vitalidade das instituições brasileiras - aqui compreendidas não apenas como entidades governativas, mas também como as estruturas e mecanismos que sustentam a ordem social. O ganho deve ser encarado, portanto, como genuinamente qualitativo.

Essa é, sem dúvida, uma diferenciação que põe o Brasil em vantagem competitiva frente a outras nações. Atenuaram-se aqui pressões internas, à custa do entendimento de que a recomposição orgânica do País é prioritária, e chega-se agora a resultados que, se observados sobretudo por vizinhos latino-americanos, podem ser uma experiência de real valia.

O foco no interesse coletivo, o que é obrigação de todo agente público e de todo cidadão, vem sendo preservado. E bem preservado.