Editorial: Chuvas e esperança

O 19 de março é consagrado Dia de São José. A tradição religiosa popular credita a ele o poder de intervir por seus devotos, na intenção de um bom período de chuvas, que garanta a colheita do ano. Não haveria um santo mais apropriado para ser o padroeiro do Ceará, estado que historicamente convive com a estiagem e tenta encontrar formas de superar os infortúnios impostos pela seca.
A chuva nessa data é vista com um bom augúrio, uma promessa de que o inverno será farto e a colheita bem-sucedida. A esperança em relação à data vai além dos credos. Mesmo sem a mediação da figura do santo católico, não faltam preces das mais diversas confissões pedindo uma boa quadra invernosa. A ciência diz que há alguma razão aí: o Dia de São José coincide com o equinócio de outono, que marca a mudança de estação e vê um céu favorável, pois a incidência de raios solares sobre a linha do Equador, nesse momento, atrai ventos úmidos e, com ele, a chuva.
O Dia de São José deste ano é marcado de expectativas, de uma ponta a outra do Ceará. Afinal, a segunda década deste século tem sido de difícil travessia e já está inscrita, definitivamente, na história de embates do cearense com a estiagem, assim como aconteceu em 1877 e 1915, por exemplo. O Estado enfrentou um dos períodos mais severos de seca de sua história, numa sequência de seis anos de chuvas escassas. 
O sofrimento pôde ser sentido na agricultura e na pecuária, com a dificuldades dos produtores de garantirem suas colheitas e a manutenção de seus rebanhos. O nível crítico a que se chegou nessa década também assombrou comunidades do Interior, em especial aquelas localizadas em áreas mais distante das sedes dos municípios e sem acesso a serviço de água e esgoto. O risco, nesses casos, era de colapso hídrico e falta da água necessária para se sobreviver. Foram necessárias ações, do Estado e dos municípios, para a seca não chegar a resultados tão nefastos.
O ano de 2019 começou diferente. É cedo para dizer que a seca ficou no passado, mas o volume de chuvas tem animado os municípios do interior – enquanto a Capital se divide entre a celebração de temperaturas mais amenas e os transtornos provocados pelas águas. As chuvas tem alimentado os reservatórios, públicos e privados, numa recuperação  lenta, mas positiva.
De acordo com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), subiu para 19 o número de açudes que estão sangrando no Ceará. O São Vicente, em Santana do Acaraú, o Quandu e Poço Verde, em Itapipoca, todos na Região Norte; Gavião, de Pacatuba, e o Itapebussu, em Maranguape, ambos na Região Metropolitana de Fortaleza, foram os últimos a ocuparem o máximo de sua capacidade de armazenamento hídrico. Entre as regiões hidrográficas, a de Coreaú e a do litoral Oeste são que se encontram em melhor situação – a primeira com 92% de volume d’água armazenado e a segunda com 71,5%.
Os números inspiram e dão força ao cearense. Além de fé, é preciso perseverança, engenho e vigilância para atravessar as temporadas ruins. Seca tão prolongada serve para lembrar que os recursos disponíveis devem ser, cada dia mais usados da forma mais eficiente, com criatividade e consciência.


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