Editorial: Bons augúrios

As chuvas de 2019 serão lembradas no futuro não apenas pela insistência de continuarem caindo, julho adentro. A quadra chuvosa pôs fim - não se sabe por quanto tempo - no ciclo de estiagem severa que já durava cinco anos, e ameaçava sobretudo quem vive do campo. Distribuição irregular das precipitações motivou uma geografia desigual, com lugares onde a água caiu da forma necessária contrastando a outros ainda secos. A situação lembra que é prudente ser previdente, quando se trata de recursos hídricos. Encontrar soluções para a economia e vida no campo deve estar sempre entre as prioridades da administração pública, tanto nos anos de calamidade, como naqueles de eventual fatura.

Nesse sentido, merece registro novo projeto do Banco Mundial, em parceria com o Governo do Estado, que projeta beneficiar mais de 90 mil moradores de zonas rurais do Ceará. Aprovado na semana passada, o programa "Desenvolvimento Rural Sustentável e Competitividade do Ceará (Fase II)" vai injetar 100 milhões de dólares na economia agrícola do Estado. É fácil antever benefícios de um recurso desta monta sendo aplicado em uma área que, apesar de seu potencial, vive sempre às voltas com o desafio das intempéries - além das variações de humor dos mercados, como em qualquer negócio.

O investimento dá continuidade a uma parceria já estabelecida com o Governo cearense. Sequência que chega em boa hora, não apenas por conta dos crônicas problemas climáticos com que o Estado convive, mas também pelo momento econômico do País. A agricultura é a principal atividade econômica nas áreas rurais do Ceará, e atualmente corresponde a 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.

O recurso será repassado por meio de um empréstimo, com exigência de uma contrapartida da ordem de 53,5 milhões de dólares. O prazo de vencimento estabelecido pelo Banco Mundial é de 25 anos, com carência de cinco anos.

Os objetivos econômicos do programa são ampliar o acesso de pequenos produtores a mercados com potencial para absorver suas produções; aumentar a produção, aprimorando tecnologias agrícolas usadas pelos agricultores; e elevação do valor bruto das vendas realizadas pelos membros das organizações apoiadas pelo projeto.

Há de se atentar para o que vai além da dimensão econômica, neste caso, mas está intimamente ligado a ela e, de certa forma, figura no projeto como método sem o qual os outros objetivos não podem ser alcançados. É o caso dos planos de ampliar o acesso a fontes de água tratada e a serviços de saneamento - que, por sua vez, deve ter impacto positivo direto sobre a saúde das comunidades atendidas; e o fortalecimento da capacidade institucional e de coordenação de órgãos setoriais que atuam na implementação dos programas e políticas de desenvolvimento do Estado.

Combinar o desenvolvimento econômico com melhorias na infraestrutura tem potencial de oportunizar situações positivas para além do que está estritamente no projeto original. A resiliência do homem do campo, alinhando ao conhecido engenho do povo cearense, são potenciais motores de desenvolvimento local. É questão de serem estimulados, na hora certa, do jeito apropriado.