Editorial: Atenção redobrada

O monitoramento realizado pela Organização Mundial da Saúde tem registrado aumentos consecutivos dos casos notificados de sarampo no mundo, nos últimos dois anos. Ainda assim, chamou atenção a assombrosa expansão da doença em 2019. Nos primeiros três meses deste ano, houve um crescimento 300% de casos notificados, em comparação a igual período do ano passado. O Ceará é referência em imunização, mas precisa ter atenção redobrada frente aos avanços da enfermidade no Brasil.

A OMS estima que as notificações são inferiores a 10% do número real de casos. Mesmo com a subnotificação, os números globais do sarampo impressionam. A doença foi registrada em 170 países, mas um grupo de 10 deles, em situação mais crítica, é responsável por 74% do aumento de casos nos últimos dois anos. O Brasil figura neste grupo. O País zerou seus casos entre 2015, 2016 e 2017 - quando ganhou um certificado da OMS que atestava a eliminação do sarampo em território nacional.

Em 2018, houve uma explosão de novos casos, superando os 10 mil registros. O Ceará conseguiu ficar de fora. O último caso oficial no Estado foi notificado em julho de 2014. Por dez anos consecutivos, o Estado tem ultrapassado a meta de vacinação (que é de 95%). A vacina pode ser tomada por qualquer pessoa que busque uma unidade básica de saúde. É ela quem garante a proteção contra o contágio.

O sarampo é considerado pelos especialistas como uma das doenças mais contagiosas do mundo. E é perigosa, evoluindo por vezes para quadros extremamente grave, que põem em risco a vida do paciente. Em 2017, ano mais recente para o qual há dados estabelecidos pela OMS, a doença foi responsável por quase 110 mil mortes. Há ainda riscos de sequelas graves e vitalícias, caso de danos cerebrais, cegueira e perda auditiva. Mesmo em países de alta renda, com atendimento de saúde de ponta, as complicações da doença levam a internações em cerca de 25% dos casos.

Apesar de sua gravidade e do alto potencial de contágio, o sarampo é uma doença que pode ser combatida, com eficiência, por meio de uma cobertura vacinal que minimize drasticamente o número de casos. Ela é quase totalmente evitável por meio da vacinação, em duas doses. A expansão do sarampo nos últimos anos tem a ver, entre outros fatores, com uma deficiência da cobertura vacinal global. Há anos, ela está estagnada em 85%, quando os especialistas ratificam o marco 95% como o necessário para evitar surtos. A cobertura com a segunda dose fica em apenas 67%. Em alguns países, há uma tendência à diminuição desta cobertura.

De acordo com a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o Estado tem registrado diminuição da quantidade atingida de vacinação, mas nunca chegou a ficar abaixo da meta. A cobertura, aliás, nos últimos dez anos atingiu, repetidamente, patamares acima de 100%. Frente ao desafio global que se enfrenta, é importante estar atento a estes movimentos de redução, por mínimos que sejam.

O combate ao sarampo requer uma gestão de saúde eficaz, focada nas crianças. É preciso garantir facilidade de acessar serviços clínicos, em especial, para a população mais carente. E não é demais repetir: para além do Estado, depende da atuação e do compromisso dos cidadãos.


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