Editorial: Amor ao livro e à leitura

O fim de ano costuma fazer aflorar bons sentimentos coletivos, que se traduzem em campanhas tendo em vista boas ações e comportamentos inspiradores. Dentre estas movimentações do período natalino chamou a atenção aquela que colocou, no centro de suas atenções, o livro. A ideia consiste em estimular a aquisição de obras impressas, para serem presenteadas aos entes queridos, visando a um movimento em espiral, intensificando sua força e arrebatando novos entusiastas.

Ao contrário do que se pode imaginar, a corrente não foi concebida por departamentos de marketing, como algum tipo de estratégia para alavancar as vendas do setor livreiro. Mais acertado ver como um movimento mais ou menos espontâneo que teve por inspiração uma carta-aberta, de declaração de amor aos livros, escrita por um editor veterano, Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras.

As palavras do editor foram motivadas por uma crise sem precedentes no negócio do livro no Brasil. As duas maiores redes de livrarias do País entraram com pedidos de recuperação judicial na Justiça, acumulando dívidas milionárias. Entre os principais credores, as casas editoriais brasileiras. A recuperação destas empresas depende, dentre outros fatores, da confiança de seus fornecedores; estes, no entanto, enfrentam dificuldades de continuar operando por conta do déficit em suas contas, causado pela falta de pagamentos por parte de seus parceiros.

A preocupação de todos aqueles que fazem parte do negócio brasileiro do livro é justificada e, portanto, é compreensível o engajamento numa campanha que estimula a aquisição de obras num período do ano em que as pessoas estão mais dispostas a gastar. Para mitigar os efeitos da crise, seria oportuno irrigar de recursos o comércio de livros, que tradicionalmente tem um ritmo lento de retorno do capital investido. O impacto, cultural e econômico, deste imbróglio, ainda está por se adivinhar. Pode-se afirmar, com segurança, que um movimento espontâneo, com tal pauta, já se inicia vitorioso.

Lembra que há muitas formas de expressar o amor aos livros e que é importante evidenciar todas elas. Cada uma traz ganhos específicos. O Verso, do Diário do Nordeste, também contagiado pela bibliofilia e pela paixão pela leitura, lançou uma campanha, intitulada "Eu Te Dedico", para reunir declarações de leitores entusiasmados, dispostos a declarar seu amor por suas obras literárias favoritas. Na edição do dia 29 de dezembro, serão publicadas as manifestações mais criativas.

Se, por um lado, é saudável pensar em estratégias, de ordem macro e micro, para restabelecer o negócio de livrarias e editoras; por outro, é fundamental voltar as atenções para as bibliotecas, em especial aquelas abertas ao público, pertençam ao Estado ou a particulares. A frequência nestes espaços é o testemunho de sua importância e dá a dimensão da necessidade de investimentos.

Os livros são receptáculos e veículos da sabedoria, dos conhecimentos e das sensibilidades. Cultivar o apreço por eles e estimular sua leitura trazem ganhos individuais, do divertimento à ilustração, e coletivos, contribuindo para uma sociedade formada por cidadãos mais instruídos e empáticos.


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