Desinformação viral


Em tempos de pandemia, a desinformação avança nos territórios do mundo hiperconectado e causa crises nas mais variadas instâncias de poder.

Tanto que as Nações Unidas avaliam que o surto do novo coronavírus foi acompanhado por uma infodemia, definida como uma epidemia de informações fraudulentas que dificultam o acesso a fontes confiáveis.

Enquanto a crise segue se agravando, a cada momento surgem novos áudios com relatos mentirosos, vídeos manipulados, tutoriais sobre combate e cura sem evidências científicas. Por falar em ciência, essa catástrofe mundial acontece em um contexto em que as relações de poder com a verdade são colocadas em xeque, inclusive no campo científico. E, assim, a desinformação segue fluindo diante das paixões em detrimento da razão, das opiniões em detrimento dos fatos numa crise informacional planetária.

Esse cenário fez surgir uma série de projetos de lei com intuito de criminalizar a disseminação de informações fraudulentas. Mas, seria esta a solução? Eis uma longa discussão que precisa ser enfrentada com muito cuidado, para evitar danos a diversas conquistas relacionadas aos direitos fundamentais.

Em meio às dissonâncias, um diagnóstico: o anticorpo para combater desinformação é informação apurada com rigor técnico e compromisso ético. Um trabalho hercúleo feito por milhares de jornalistas incansáveis. E a profilaxia está atrelada à educação.

O letramento digital é indispensável para que o cidadão forme repertório e seja capaz de entender que o conteúdo que dissemina pode curar ou matar. Afinal, checar antes de compartilhar é uma responsabilidade coletiva que deve ser atribuição de todos, inclusive em respeito ao trabalho dos que se arriscam, como cientistas, profissionais da saúde e jornalistas, em prol da humanidade.

 

Eulália Camurça

Jornalista e professora universitária