O que é um spotter? Conheça o hobby dos apaixonados em fotografar e observar aviões

Prática iniciou na Segunda Guerra Mundial, mas acabou se popularizando entre amantes da aviação como um hobby

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Legenda: Aeroporto de Fortaleza promoveu evento de encontro de spotters
Foto: Renato Bezerra

Do barulho das turbinas à fascinação pela mecânica da coisa, o universo da aviação desperta a curiosidade não só de quem pretende trabalhar com isso, mas também de quem acompanha como hobby. Foi a partir disso que surgiram os spotters, em tradução livre do inglês, observadores, no caso dos aviões, são chamados também de plane spotter.  

Essas pessoas são observadoras de aeronaves e que podem também fazer registros fotográficos. A prática, conforme a spotter Raylane Marinho, de 27 anos, iniciou na Segunda Guerra Mundial, mas com outra função.   

“As nações acompanhavam e observavam as ações dos outros para saber quais eram inimigos, a partir daí foi se popularizando com a evolução da aviação. Hoje, é uma forma de observar aviões por pessoas que têm um amor pela aviação e fazer, caso queiram, registro fotográfico e de vídeo”, explica Raylane.  

A paixão da jornalista pela aviação começou ainda na infância, quando a avó a levava ao antigo aeroporto no Vila União e o pai ao mirante do novo Aeroporto de Fortaleza. “Eu não conhecia o plane spotting. Quando tava fazendo a faculdade de jornalismo, em 2017, conheci um spotter durante a disciplina de fotografia. Um dia, fui fazer registros com ele e pensei que queria fazer aquilo”.  

Legenda: Mesmo doente, Raylane foi ao Aeroporto de Fortaleza fazer registros do Airbus Beluga
Foto: Raylane Marinho/Ray Spotter

Desde 2018, então, Raylane acompanha aeronaves e faz registros fotográficos. O interesse aumentou tanto que, hoje, ela estuda para ser comissária de bordo. “Trabalhar com aviação é o que eu quero pra minha vida”.  

Como ser um spotter  

Para ser um spotter, basta ter o interesse em observar as aeronaves. Fazer registros fotográficos ou audiovisual é algo opcional. O spotter e analista de planejamento logístico, de 34 anos, Davi Ávila iniciou em janeiro de 2019 no hobby também tem fascinação desde a infância pela aviação. Ele explica que há grupos que se organizam, mas que também a participação não é obrigatória.  

“Existem grupos oficiais de spotters, em que trocamos informações sobre atualizações do mundo aeronáutico, falamos sobre voos, aviões com pinturas especiais, aviões antigos que ainda estão em operação, etc”.  
Davi Ávila
spotter

Legenda: Aeronave pelo clique do spotter Davi Ávila
Foto: Davi Ávila/@spotter.for

Lucas  Melquisedec, spotter e técnico help desk de 23 anos, conta ainda que existem canais de informações como Instagram, Flight Radar, aplicativos em que acompanham os trajetos das aeronaves, bem como quando há alguma diferente.  

Assim como Raylane e Davi, Lucas também se apaixonou por esse universo quando criança. “Eu frequentava o Aeroporto de Fortaleza, quando tínhamos acesso ao mirante, mas iniciei a observação de aviação depois de viajar em 2021”.  

O analista de TI Assis Laurindo, de 32 anos, é outro spotter e começou a registrar itens da aviação em 2019. “Mas a paixão começou em 2017, quando fiz minha primeira viagem de avião, com medo, mas fui”.  

“Logo após a viagem, comecei a ir atrás de conteúdo sobre aviação e, desde então, comecei a ler e estudar um pouco sobre. Na minha lua de mel, quando fiz minha primeira viagem internacional, desembarquei na remota em Córdoba na Argentina, quando passei por perto de várias aeronaves e quando comecei a registrar o momento me veio a vontade de começar a fotografar aeronaves”. 
Assis Laurindo
spotter

Para além da observação, o hobby vai a fundo e os spotters estudam e têm conhecimentos para identificar as aeronaves pelo som dos motores e até pelas luzes.  

Legenda: Aeronave da Minnie pelo clique de Lucas Melquisedec
Foto: Lucas Melquisedec/@limaspottersbfz

Tudo pelo melhor clique 

“Ficar até a madrugada para realizar alguns registros, pegar chuva, sol, subir no teto do carro para registrar alguns aviões, dentre outras loucuras”, relembra Lucas sobre o que já fez para conseguir o melhor clique das aeronaves.  

A paixão é tanta que vale quase tudo. Raylane, por exemplo, já foi ao Aeroporto de Fortaleza fazer fotos quando estava doente com Chikungunya.

“Quando o Beluga (Airbus A300-600ST) veio para Fortaleza, eu tava doente e corri até o lugar onde o avião tava estacionado pra fotografar, debaixo do sol quente e com muita dor”.  
Raylane Marinho
spotter

Outra vez, ela conta que atravessou a Av. Carlos Jereissati sem olhar se vinha carros para conseguir uma foto.  

Davi também já cometeu algumas ‘loucuras’, desde sair às três horas da manhã para fazer algum registro, subir em árvores, enfrentar sol e chuva. Já Assis chegou a subir no teto do carro, em árvores e muros.  

Legenda: Davi, em uma árvore, para fazer fotos de aeronaves
Foto: Arquivo pessoal

Encontro dos aficionados  

A popularização da prática é até reconhecida pelas empresas operadoras de aeroportos e algumas promovem encontros de spotters, oferecendo uma experiência única de visitar e fotografar bastidores dos aeroportos. Edições do Spotter Day já aconteceram em Brasília, São Paulo, Belém e outros.  

Em Fortaleza, a 3ª edição do Spotter Day aconteceu no dia 20 deste mês. Os participantes passaram uma tarde em locais privilegiados do pátio do Aeroporto de Fortaleza, gerido pela Fraport, para render muitos registros fotográficos. 

Legenda: Aeronave do Pato Donald pelo clique de Assis Laurindo
Foto: Assis Laurindo

Para Raylane, a experiência traz ainda mais fascinação. “Você estar dentro dos bastidores do aeroporto é uma sensação totalmente diferente. Quando você conhece a estrutura interna do aeroporto, a segurança, os detalhes todos, você percebe como é mágico. Estar no aeroporto em lugares que pessoas comuns não têm acesso é uma experiência muito legal”.  

Assis, inclusive, menciona o Spotter Day de 2022 como um momento marcante da vivência como spotter. “O evento foi maravilhoso, os profissionais que nos receberem foram demais e foi bastante satisfatório pra mim, pois a última vez que tinha entrado em um aeroporto para registro havia sido em 2019”. 

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