Após 10 anos de produção, documentário sobre o Pessoal do Ceará chega à reta final de gravação

Pessoal do Ceará - Lado A Lado B será lançado no início de 2022

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Rodger Rogério
Legenda: Rodger Rogério afirma que o Pessoal do Ceará sabia que estava criando algo importante na música brasileira
Foto: Helene Santos

Os dez anos de maior efervescência da música cearense devem ganhar as telas de cinema no início do próximo ano, com o documentário Pessoal do Ceará - Lado A Lado B. O filme, que também levou dez anos para ser produzido, chega à fase final de gravações neste mês. Segundo o diretor Nirton Venâncio, o foco será registar o momento artístico que marcou a cultura cearense e retratar artistas além dos já conhecidos Fagner, Ednardo e Belchior

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O documentário resgata histórias a partir de 1969, quando começam a se destacar nacionalmente nomes como o trio mais conhecido do Pessoal do Ceará. O recorte do filme segue até 1979, quando começa a chamada geração Massafeira. “Quero mostrar que não foi só Fagner, Ednardo e Belchior, mas também Rodger Rogério, Téti, Fausto Nilo, Dedé Evangelista, Petrúcio Maia e Wilson Cirino, entre tantos outros”, disse o diretor em coletiva de imprensa neste sábado (14), no Theatro José de Alencar. 

De acordo com Venâncio, a ideia do documentário surgiu em maio de 2011, durante um festival de música em Jericoacoara, no Ceará. Desde então, ele afirma que tem se dedicado a pesquisar, elaborar o projeto, buscar financiamento e filmar. 

“Há anos venho sendo desafiado a não desistir desse projeto. Cheguei ao ponto de desistir de desistir. Na semente do projeto, há dez anos, eu já fui entrevistando o Rodger Rogério e a Téti. Inicialmente, meu projeto era filmar toda a música cearense, mas, depois de pesquisar, resolvi fazer só do Pessoal do Ceará”
Nirton Venâncio
Diretor do documentário

A produção do documentário caminhou a passos lentos ao longo dos dez anos, principalmente pela falta de financiamento. A solução só chegou neste ano, quando o projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc. Resolvido o problema da falta de recursos, a pandemia atrasou a retomada das gravações. 

“Devíamos estar filmando desde fevereiro e entregar agora, mas a pandemia deu um freio em tudo, e estamos retomando só agora. Vamos fazer o filme agora em agosto e entregar no fim do ano, para lançar no início de 2022. Não quero fazer um lançamento, mas um acontecimento: reunir vários artistas, fazer debates, seminários e apresentar o material da pesquisa”, adiantou. 

Pessoal do Ceará

Um dos nomes mais reconhecidos na música cearense, figura da primeira geração do Pessoal do Ceará, Rodger Rogério falou sobre a satisfação de ver parte de sua história nas telas do cinema. “Na época, o Pessoal do Ceará sabia que estava fazendo uma coisa (relevante), não sabia exatamente o que era, mas sabia que aquilo era importante. Essa certeza era constante nas nossas conversas”, afirmou.

Hoje, para ele, não há dúvida sobre a importância histórica e cultural do que fizeram na música.

“Percebemos que realmente nossa música podia ser vista como música brasileira. Isso hoje é uma certeza, tivemos muitas confirmações de que o que fazíamos tinha valor musical. O Pessoal do Ceará nunca foi um movimento porque foi uma coisa espontânea, não oficial, mas existia um pensamento comum entre nós”
Rodger Rogério
Artista

O documentário "Pessoal do Ceará - Lado A Lado B", tem roteiro e direção de Nirton Venâncio, produção executiva, Clébio Viriato, direção de fotografia de Alex Meira e Leo Mamede, captação de som de Afonsino Albuquerque, edição de Rui Ferreira, trilha sonora de Mimi Rocha, e mais 10 profissionais no suporte de assistência de produção, fotografia e elétrica. 

Grupo retomou gravações
Legenda: Equipe recomeçou as gravações após um hiato devido à pandemia
Foto: Divulgação

Conforme o diretor do filme, além do resgate histórico do Pessoal do Ceará, o “Lado B” do documentário trará histórias dos bastidores da época, pouco conhecidas pelo público. “Talvez algumas pessoas se incomodem, mas não vou fazer um filme chapa branca, até para que as pessoas entendam como se deu o momento”, disse. 

Venâncio ainda lamentou a perna de registros históricos do período. “Vivemos um memoricídio. Estou com dificuldade de achar coisas da Massafeira. Muita gente filmou e não sabe onde está. É um descuido da nossa cultura, uma falta de cuidado”, lamentou.

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