Uma Furglaine cheia de boas memórias

E antes da Discovery de Dominguinhos, Paulo passou bons momentos com o carro que foi Luiz Gonzaga, o rei do baião

A paixão pelo forró enraizou desde menino e alegria foi tamanha quando descobriu que iria para Exu, no interior de Pernambuco, onde Luiz Gonzaga morava. "Meu pai foi ser gerente do banco da cidade. Ele (o cantor) era maçon, meu pai também, então eles ficaram próximos. Foi uma amizade em um período muito curto de tempo, mas foi muito intensa", ressalta Paulo Vanderley, pesquisador sobre Gonzaga e forró nas horas vagas, além de bancário por profissão.

Assim como Paulo fechou negócio anos depois com Dominguinhos (história na capa), seu pai, Paulo Marconi, também adquiriu um veículo de um ícone do forró. "Ele tinha um Chevrolet Monza novinho, com dois ou três meses. E uma vez o meu pai chegou a um posto de gasolina e viu uma Furglaine, ficou apaixonado pelo carro e ficou sabendo que pertencia ao Luiz Gonzaga", lembra. Sem perder tempo, pediu para comprar o carro. No primeiro momento, não conseguiu. Mas, em torno de 20 dias depois, a pai trocou o Chevrolet dele pela van.

> Recordações em forma de carro

No entanto, a Furglaine estava em Recife. O seu pai foi com Luiz Gonzaga até Juazeiro, para o cantor ir até a capital pernambucana de avião, enquanto ele seguiria na estrada de Monza.

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Fotos: arquivo pessoal

"Quando chegaram em Juazeiro, não tinha mais voo. Gonzaga, com 76 anos, mesmo cansado e doente, disse: 'vamos de carro até Recife'. Meu pai conta essa história de uma forma extraordinária, se emociona quando fala, diz ser um dos momentos mais inesquecíveis da vida dele", destaca. "Uma chateação que tenho é que não há nenhum registro fotográfico da viagem", acrescenta Paulo.

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Uma curiosidade: o Monza ainda existe, está com os familiares de Gonzaga, na casa do Gonzaguinha, com a viúva dele, do filho do rei do baião. "O carro foi do meu pai, do Luiz Gonzaga e do Gonzaguinha. A gente está tentando recuperar esse carro para nossa família", diz.

Memorável

Depois da compra, quatro meses depois em média, Luiz Gonzaga morreu. Mas, antes desse triste fato, o pai de Paulo ainda conseguiu ter mais um grande momento ao lado de Gonzaga. Também guardado com carinho, porém dessa vez a bordo da Furglaine.

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Momentos: Paulo ao lado d o pai na viagem de carro pelo Brasil com a Furglaine. Carro tinha cama, geladeira, videocassete. Era bem equipada e ficou cerca de quatro anos em sua família

O artista convidou para os dois darem uma volta de carro, sem dizer previamente o destino. "Eles começaram a subir a serra do Araripe, meu pai começou a ficar preocupado porque Gonzaga tinha horário para dar uma descansada, para tomar remédio e já estava anoitecendo. Foi subindo e subindo, em determinado momento, Gonzaga disse: 'pronto, pare aqui e dê a volta'. Meu pai não entendeu, porém fez o que ele pediu. 'Agora, nós vamos ficar observando', ele disse", relata. Não esperaram tanto, de repente, diante deles, os dois viram o nascer da lua."Papai disse que foi uma das sensações mais incríveis que teve em toda vida. Aos 30 e poucos anos, ele, ao lado de Luiz 'Lua' Gonzaga, começou a ver uma lua cheia subir no céu do sertão. Foi a primeira vez que ele sentiu a energia e vibração do luar ao lado do 'Lua' Gonzaga, diz o meu pai", completa.

Último passeio

No dia do enterro de Luiz Gonzaga, o pai de Paulo, novamente, ficou ao lado do cantor para mais uma volta de veículo.

Infelizmente, a emoção nesse passeio foi mais triste. Com o traje da maçonaria, o seu pai foi acompanhando o corpo localizado no caminhão do Corpo de Bombeiro.

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"Meu pai foi representando a maçonaria e eu fui embaixo no cortejo filmando. Com nove anos, era menino e não tinha ideia, dimensão, da genialidade da obra de Luiz Gonzaga. Fiquei impressionado com a quantidade de gente no enterro, as pessoas se emocionando, chorando, de todas as idades. Me marcou demais e marca até hoje. Foi ali, nesse momento, meio que intuitivo, comecei a colecionar jornais, revistas, gravar tudo que passava de Luiz Gonzaga na televisão", explica.

Viagem em família

A Furglaine marcou a história na vida de Paulo. Entre os momentos marcantes está o percurso até a Argentina. "Saímos de Exu e fizemos uma viagem passeando pelo Brasil. Fomos para São Paulo, Rio, Belo Horizonte até Foz do Iguaçu, Paraguai e Argentina. O automóvel era lindo. Tinha cama, geladeira, televisão, colocamos videocassete. Era um carro diferente, onde a gente chegava ficavam olhando. Foram 32 dias de estrada, foi fantástico", detalha Paulo.

A Furglaine permaneceu na família por em torno de quatro anos. "Até entendo um pouco a situação, porque morávamos em Mossoró, íamos morar em Recife, o veículo era muito grande para a capital. Porém, foi um desgosto muito grande realmente", afirma.

Então, agora segue na saga de retomar esses dois veículos marcantes em sua vida: a Furglaine, onde esteja, e também o Monza 1989, o qual está na garagem do Gonzaguinha.