Liberte-se do pânico de dirigir

O coração bate mais forte só ao sentar no banco do motorista? Você não é o único no País com medo de dirigir

A aprovação pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) nas etapas teórica e prática não significa que o candidato está pronto para sair à rua. Mesmo com a carteira em mãos, há quem não sinta plena confiança em assumir o volante. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet), cerca de 2 milhões de brasileiros não dirigem por medo e, desse total, 75% são mulheres.

Para o médico Dirceu Rodrigues Alves, especialista em medicina de tráfego há quase quarenta anos, o número de pessoas com fobia vem se mantendo alto devido, principalmente, à constante agressividade da direção nas vias. É a buzina frenética, as ultrapassagens bruscas, os faróis altos sem necessidade, entre outros exemplos.

Segundo ele, essa é a causa mais recorrente ao pânico pós-habilitação. E quando o condutor vai ganhando mais idade, ainda com os anos de experiência ao volante, o receio pode vir aparecer devido a algumas limitações, como redução da audição ou visão periférica e surgimento de dores pelos movimentos repetitivos da marcha e embreagem, que os fazem ter medo de bater em alguém ou prejudicar o tráfego.

A causa também pode vir de um trauma, um acidente. Às vezes, vem da preocupação em não querer falhar perante os outros, seja por cada demora em uma baliza ou em uma arrancada mais devagar quando o sinal fica verde.

Independente qual for o caso, tendo a certeza que conhece as leis de trânsito e o funcionamento da "máquina", então próximo passo é manter a calma e ignorar os demais.

De acordo com Dirceu, tem sempre alguém com pavio curto, os mais ansiosos que gostam de colar na traseira do carro da frente ou de costurar o trânsito, os que jogam luz alta e querem arrumar briga. Porém, é preciso seguir adiante e abster-se desses momentos de estresse.

"Sempre preconizamos a presença de um médico psiquiatra para avaliar o comportamento dos condutores", destaca. Ou seja, para ele deveria haver até, fora o teste psicotécnico realizado pelo Detran, um acompanhamento psiquiátrico maior para avaliar e tentar constatar quais os candidatos seriam mais agressivos na direção, para evitar que essas pessoas obtenham a Carteira Nacional de Habilitação e, assim, tentar diminuir esse caos atual das ruas.

Por enquanto, isso é só uma sugestão. Nesse ínterim, o trânsito segue tenso, ainda mais nos horários de pico. Por isso, para quem está começando, o indicado é fazer, periodicamente, trajetos curtos em momentos sem congestionamento para ganhar confiança. Depois, é aumentando a distância. Faça sozinha ou com alguém que tenha paciência ao seu lado, caso contrário, será uma grande situação de tensão toda essa experiência.

Recorrendo

Se o tremor não passar com o tempo e a taquicardia persistir, procure ajuda de um psicólogo e de empresas especializadas no treinamento de habilitados, na qual adaptam as aulas à necessidade de cada um. Desde se começa o treino em vias movimentadas ou é melhor iniciar em trechos ermos até se deve fazer as aulas no veículo do motorista ou da própria empresa, que tem pedais auxiliares para a maior segurança da experiência.

"A gente vê qual a situação do condutor, para ver se ele tem pânico ou algum trauma. Se tiver, encaminhamos à psicóloga Ana Paula Araújo. Depois das consultas, ela nos passa a condição deles e já o introduzimos ao trânsito. Vamos para engarrafamento, autoestrada e fazer baliza entre carros e estacionamentos em shoppings. Fazemos tudo, para ele estar ciente do que se está fazendo", diz Klebber Cavalcante, instrutor da Habilitados.Com.

Embora cada buzina ouvida cause mais ansiedade, as principais barreiras é na agilidade do uso dos pedais de embreagem e freio, na mudança correta de marchas e de manter-se em linha reta na via, seja de ré ou de frente. Essas são as dificuldades mais frequentes. "Geralmente mais pesa o controle de embreagem", enfatiza.

E, apesar que muitos comecem o curso dizendo "não vou conseguir", com cerca de dez aulas é possível, segundo Klleber, superar esse obstáculo da falta de confiança em si.

Uma média de 20 a 25 pessoas ao mês recorrem ao treino com Klleber, entre elas esteve Rebecca Riedel, a qual resolveu tirar a habilitação aos 30 anos, mas levou ainda um ano para ter o seu próprio veículo.

Nesse tempo, a carteira ficou parada. Resultado? "Eu fique muito tempo sem dirigir, dá um medo, uma insegurança de tudo. Eu não lembrava mais. Medo por estar sozinha, por não ter alguém do lado que saiba", relata.

Depois de dez aulas, fez ainda duas extras para se adaptar ao seu próprio veículo. E agora? Ela não quer mais sair de dentro dele. "Quando se começa a dirigir, se puder vai na esquina de carro. Quer ir para todo lado", brinca. Se você estiver na mesma situação da antiga Rebecca, substitua o medo pela liberdade ao volante.

Fique por dentro

Publicação com orientações de enfrentamento

A psicóloga Neuza Corassa estuda há mais de 20 anos sobre comportamento no trânsito e é autora do livro "Vença o medo de dirigir". Durante a sua pesquisa, separou em três grupos as pessoas com esse transtorno.

No primeiro, tem aqueles que nunca se aprovam, com elevado grau de exigência, e acreditam, inclusive, que a prova é que foi fácil. No outro grupo estão quem não se permitem nem ao menos fazer a prova. Por medo de reprovação, acabam reprovando a si mesmos. Alguns até iniciam as aulas, mas desistem. E por último há os que postergam para depois da aposentadoria. Eles esperam chegar a essa fase, para cuidar do dirigir, tamanha a dificuldade que imaginam encontrar nessa tarefa.

Segundo a autora, não necessariamente o medo está atrelado à falta de domínio do veículo, estando mais relacionado com a fobia social, ao medo da desaprovação de um terceiro, não permitindo o treino que resultará no domínio da máquina.

Quem se enquadra nesse cenário de medo, de acordo com os escritos de Neuza, geralmente sente tremedeira nas pernas, transpiração excessiva e taquicardia, fazendo a pessoa se retirar do automóvel.

Entre as orientação para superar o desafio, a psicóloga sugere incluir uma atividade física na agenda e trabalhar a respiração, geralmente o ansiosa inspira e expira muito rápido.

É importante iniciar uma aproximação com o veículo dentro da garagem, como só ajustar o banco e ligar e desligar o carro. Depois, começar a fazer movimentos para frente e para trás. Para aumentar a confiança, dê algumas voltas pelo quarteirão em horários sem movimento e que não tenham crianças. No começo, a dica é escolher um ou dois trajetos. Isto evitará ansiedade.

A ideia é programar pelo menos duas vezes por semana para praticar o exercício de dirigir. O hábito, conforme Neuza, fará a pessoa adquirir confiança e, em seguida, permitirá fazer percursos maiores, que tenham subidas e uma maior quantidade de veículos. Se os sintomas de ansiedade aparecerem, respire e não se assuste, eles tenderão a diminuir.

Mais informações:

Habilitados.com
Av. Rui Barbosa, 3100
Bairro: Aldeota
Tel.: (85) 3082.3407

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