Experiência de campeão no Rally dos Sertões

Com muito tempo de pista, o piloto de rally Jean Azevedo divide com o Auto dicas para competir no offroad

A experiência é o caminho para aprender pôr no automático o acúmulo das funções de piloto e navegador sobre duas rodas. E bagagem tem de sobra o competidor jean azevedo, que começou no motocross cedo, com doze anos de idade. Logo ele passou para a modalidade enduro, na qual foi campeão brasileiro duas vezes, e depois seguiu para o rally, onde conquistou por dez vezes o título de campeão brasileiro, sete delas no sertões.

"A gente não começa vencendo", ressalta. Fora disso, o segredo é iniciar em provas menores para poder ganhar prática nas duas posições.

Para completar, independente do tipo da categoria ser velocidade ou regularidade, é preciso dedicar tempo também para a planilha. No caso do rally dos sertões, ela é entregue na noite anterior a cada etapa. Mesmo cansado, é preciso estar atento e fazer as marcações adequadas, cancelando as tulipas, ou seja, as referências que são irrelevantes para a competição na opinião do piloto.

"A planilha é feita pensando em carro, utv, moto, quadriciclo, em todos. Então, tem muitas referências que a moto pode ignorar. A gente vai desenvolvendo uma marcação para que eu possa olhar só as indicações que me interessam, aí eu não preciso ficar olhando o tempo inteiro para baixo. Isso me tira muito a atenção e velocidade", explica.

Esse processo leva algumas horas. No caso de um percurso com 400km, por exemplo, pode demorar três horas ou até mais para estudar o trecho e fazer as adaptações necessárias no papel. Mas, como resultado, além de reduzir o tamanho da planilha, dando mais agilidade à prova, é também um meio de antecipar ao piloto um pouco dos obstáculos e riscos que ele irá enfrentar na etapa posterior.

"Ela é super importante, porque primeiro vou ter uma facilidade de achar o caminho no dia seguinte e, segundo, lá tem os perigos", completa.

Aliás, é essa planilha bem feita que permite o equilíbrio das duas funções: navegar e pilotar. "não adianta andar rápido demais e errar o caminho. É uma prova de velocidade, tem que chegar com menor tempo possível, então não pode ir muito devagar, procurando o caminho", lembra.

E diferente dos carros, jean recorre apenas a planilha de papel. Nada de celular ou um visor ditando em voz alta o caminho, mostrando os marcadores de tempo ou quando será o próximo ponto neutro ou de deslocamento. Prefere não arriscar.

"Eu não tenho como pôr os dois, então para escolher entre um eletrônico que pode dar problema e o papel, a gente vai no papel sempre. É elétrico, tem um comando no meu dedo, conforme muda as referências e quilometragens, eu vou mudando. Às vezes quebra o elétrico, mas eu vou na forma manual, mas eu não fico sem (planilha), porque o papel não rasga, ele fica em um local chamado road book", detalha.

Preparação

Para estar preparado para suportar sete dias pesados no Sertões, sempre pedala ao ar livre de quatro a cinco horas periodicamente, aproveitando o relevo montanhoso natural da cidade onde mora. E ainda inclui na rotina a natação e a corrida para manter a forma física e o fôlego em dia.

"Para você conseguir aplicar a técnica tem que estar muito bem fisicamente. Nenhum piloto, pode ser o melhor que for, se não tiver bem fisicamente, na hora que cansar, não coloca mais nada em prática. O treinamento é intenso, estou fazendo desde janeiro. Pedalo muito, sempre tento fazer outdoor, não gosto de ficar na academia, só a parte de força, que sou obrigado a ficar", detalha.

Já para enfrentar o calor do Nordeste, tem a velocidade da moto a seu favor, para ventilar e não sentir tanto o mormaço. "O problema é quando a gente para. Se tem algum problema ou até mesmo na largada ou quando chega no deslocamento e é preciso esperar vinte a trinta minutos, se sente muito o calor, mas andando, com o vento, fica tranquilo", afirma.

Companheira

A competição começa no dia 18 de agosto, próximo sábado, e Jean está mais que preparado para conseguir a sua oitava vitória e tornar-se o maior campeão na categoria de motos no Rally dos Sertões.

Na estrada, ele estará sozinho, contando apenas com a sua moto Honda CRF 450 RX, que é uma atualização da antes usada: CRF 400X, com melhorias principalmente na eletrônica.

É uma nova geração que ainda não está no mercado, provavelmente estará no estande da marca no Salão do Automóvel de São Paulo, quando a japonesa costuma mostrar todas os segmentos atuados e não somente automóveis.

Ela é usada basicamente como é produzida, apenas com alterações no tanque. Aliás, essa mudança é indicada para qualquer modelo offroad para o Sertões. "Porque tem que ter autonomia mínima de 180km, nenhuma moto vai ter autonomia para isso", orienta. Também é preciso colocar a torre de navegação, com road book, hodômetro e GPS.

Pé na tábua

Ao lado dele, está a principal concentração de inscritos da prova. Outros 59 competidores irão participar na disputa pelo primeiro lugar no pódio e enfrentar mais de 3 mil quilômetros de diferentes terrenos em uma semana.

"A gente trabalhou bastante, já sou o maior vencedor no Rally dos Sertões dentro de uma só categoria, a moto. Tem outro piloto empatado comigo com sete títulos, este ano quem sabe vem mais um título, quem sabe chegue ao oitava, que é o meu grande objetivo", pontua.

Dicas

"É prova de velocidade, tem que chegar com menor tempo possível, então também não pode ir muito devagar, procurando o caminho"

"A planilha é importante, porque vou ter uma facilidade de achar o caminho no dia seguinte e lá tem os perigos"

Jean Azevedo - Piloto