Ceará voa sobre obstáculos rumo ao 19º SAE Aerodesign

O Auto foi conferir da preparação ao resultado da participação dos alunos da UFC de Engenharia Mecânica

O Ceará foi bem representado na 19ª competição SAE Brasil Aerodesign. Doze integrantes da extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), grupo batizado de Avoante Aeromec Aerodesign, dedicaram longas noites e horas do dia para conseguir fazer o seu avião alçar voo em São José dos Campos, no interior de São Paulo, em outubro.

Foram dez meses de elaboração e execução dos planos. Todos são da Engenharia Mecânica, mas de semestres variados, os quais compartilham o interesse pela aeronáutica. O evento reuniu mais de mil universitários do Brasil e do exterior (México e Venezuela) para mostrar o seu melhor resultado no pouco tempo que tiveram para executar o projeto.

Para chegar nessa disputa nacional, primeiro foi preciso passar pelo torneio de acesso realizado ano passado: enviar projeto, planta e vídeo com o avião voando. Com a vaga garantida na nova etapa, a corrida contra o relógio iniciou logo em janeiro, quando receberam o edital com as especificações para o novo avião.

Desafios

Conseguir voar era apenas um dos obstáculos. Dentre as exigências, o avião deveria caber em um cone imaginário de medidas. Para isso acontecer, foi necessário mexer mais do que na dimensão, alterando o formato principalmente de peças as quais estão na extremidade da estrutura. “Mudamos o desenho inteiro porque uma das imposições é que não poderia usar o mesmo avião. Tivemos que adequar completamente o projeto. Ano passado a aeronave deveria ter até 2 metros de envergadura. Já este ano, para caber dentro de um cone, mudamos várias partes dela, como formato da empenagem”, explica Matheus Pinheiro, responsável pelo segmento de cargas e estrutura do projeto. 

As proporções já seriam empecilhos na execução da tarefa, porém não foram os únicos desafios. Entra ainda na equação o peso da aeronave, devendo ser o menor possível para conseguir carregar o máximo de carga durante o voo. O valor mínimo é de quatro quilos. 

“O pessoal está acostumado a ver os aeromodelos. Ou seja, modelos com grandes dimensões passados ao tamanho pequeno. Mas, no nosso caso, a gente projeta todo ele em si, não temos nenhuma base para diminuir. E também o nosso avião é cargueiro. Diferente dos que a gente vê voando nos aeródromos, até de costa, o nosso é para levar carga. O voo é o mais fácil, difícil está sendo pousar”, relata.

Para completar, tem que enfrentar ainda a questão de diferença climática, de ventos e de altitude entre Fortaleza e São José dos Campos, local da avaliação. “Parece besteira, no entanto muda completamente as condições de voo. Aqui o vento é muito mais forte. Em São Paulo tem uma maior umidade”, completa Matheus. E toda a estrutura precisa ser desmontável para conseguir ser levada pelos alunos na viagem até o interior paulista.

E se não bastasse tudo isso, a questão financeira pesa também: precisam de verba para construir mais de um protótipo. Afinal, quando cai durante o voo de teste, nem sempre dá para reaproveitar, além de outros acidentes. Ao todo, foram três modelos construídos este ano. “Acontece de ter imprevisto de última hora, de estarmos finalizando o período de construção e, sem querer, bater e quebrar alguma coisa, porque parte dos materiais são bem frágeis, para manter a estrutura leve. A gente usa muito madeira balsa, que é muito frágil. Quando fazemos o revestimento acaba quebrando o perfil, aí tem que colar ou até tirar tudo para remontar”, pontua Rodrigo Aragão, membro responsável pela estabilidade e controle no projeto.

Resultado 

No dia anterior à viagem para São Paulo, o avião parecia um quebra-cabeça em cima da mesa. “A gente passou o ano trabalhando, tivemos alguns problemas no percurso, mas a gente se dedicou até o último minuto, virando noites na faculdade. Todos se esforçaram para conseguir o nosso objetivo. Não paramos de trabalhar até conseguir a melhor colocação possível”, frisa Daniel Victor Simões, responsável pela aerodinâmica.

E, dessa forma, seguiram para São Paulo, mostraram o projeto, no entanto, não executaram a segunda fase da prova. “Muitas das equipes não conseguem o voo, isso é muito comum, apresentando apenas o relatório, e ainda assim conseguindo boas colocações”, explica Daniel.

Mas, nem tudo foi perdido. “Ficamos muito felizes em conhecer pessoas de outras equipes, ter aprendido com eles e trazer esse conhecimento para cá. O feedback dos juízes também ajudou muito para que o nosso nível aumente mais ainda nos próximos anos”, acrescenta João Barreto, capitão do grupo. E próximo ano tem novo desafio. 

Destaques

"Tornar o nosso projeto algo concreto por si só já seria complicado, mas é mais difícil devido à falta de recursos"

Rodrigo Aragão
Membro da aerodinâmica

"Ficamos muito felizes em conhecer pessoas de outras equipes, ter aprendido com eles e trazer esse conhecimento"

João Barreto
Capitão do grupo

"Tivemos alguns problemas no percurso, mas a gente se dedicou até o último minuto, virando noites na faculdade"

Daniel Victor Simões
Membro da aerodinâmica

"Mudamos o desenho inteiro (do torneio de acesso) porque uma das imposições é que não pode usar o mesmo avião"

Matheus Pinheiro
Membro de cargas e estrutura