Formação para o futuro

A educação sempre foi tida como ponte para um futuro melhor, tanto pessoal como coletivo, sobre o qual se subentende acesso à renda, ao trabalho, à saúde, à moradia, dentre outras garantias básicas de subsistência. A pandemia, no entanto, fechou escolas e universidades praticamente em todos os países no mundo.

Embora seja prematuro apontar o impacto da mudança de rotina na educação, há pouca discordância de que os efeitos serão negativos. Além de apresentar altos custos individuais, a crise desencadeada pela Covid-19 poderá afetar, de forma significativa, a produtividade da força de trabalho no futuro.

Um conjunto de pesquisas inéditas realizadas com 13.879 alunos das universidades públicas federais no Ceará apontou que 4.541 acadêmicos (32,7%) relataram ter a saúde mental afetada em decorrência da pandemia. São principalmente quadros de depressão ou falta de condições emocionais, psicológicas e físicas para um possível retorno às aulas.

Para especialistas, o ambiente de incertezas oriundo da crise alimenta a ansiedade e gera uma sensação de medo em relação ao futuro. Pesquisas anteriores evidenciam os impactos no aprendizado e, consequentemente, na formação do estudante e futuro profissional.

Um estudo de pesquisadores das Universidade do Arizona e de Miami, nos Estados Unidos, mediu o efeito do fechamento das escolas durante a pandemia de poliomielite em 1916 no desempenho educacional. Como coincidiu com o início do ano escolar, parte das crianças não voltou à escola naquele ano. Além disso, a pesquisa mostrou que adolescentes entre 14 e 17 anos de idade na época tiveram menor índice de escolaridade quando adultos em comparação com seus pares um pouco mais velhos.

Na Universidade de Edimburgo, na Escócia, estudo mostrou que a suspensão das aulas na Bélgica, em 1990, devido a uma greve de professores, entre maio e novembro, diminuiu a probabilidade de conclusão do ensino superior.

Ainda que muitas escolas e universidades tenham adotado o ensino remoto, muitos estudantes não têm equipamentos adequados, acesso à internet e ambiente propício ao estudo. Além disso, há professores com pouca ou nenhuma experiência para lecionar virtualmente. Dados de 2017 do Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Saeb, mostraram que 70% dos professores relataram alta necessidade de aperfeiçoamento no uso de tecnologias da informação.

Fatores emocionais também podem impactar alunos e professores. A diminuição da renda, o medo de contágio, a perda de um familiar, a duração do isolamento e até mesmo a ocorrência de violência podem afetar tanto a aprendizagem dos estudantes como a capacidade de transmitir conteúdo dos professores.

É preciso estabelecer meios e ferramentas para que alunos e professores se sintam bem e tenham boas perspectivas de futuro. No Ceará, a Secretaria da Educação estadual desenvolve, desde 2018, a Política de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais com foco em auxiliar estudantes na construção de projetos de vida e de preparação para o mundo acadêmico e profissional.

Mesmo diante de uma crise sem precedentes, os pontos frágeis da formação dos estudantes do presente estão postos à mesa para que se encontre formas de auxiliar, hoje, os profissionais do futuro.