O quadro de apreensão imposto em caráter planetário pelo novo coronavírus oferece, em contrapartida aos receios que alcançam os meios governamentais, sociais e econômicos, raras oportunidades de reflexões sobre saúde, investimentos públicos, convivência e harmonia de relacionamentos. Não se trata, deve-se reconhecer, da mais adequada circunstância para análises dessa natureza, mas certamente não se pode perder a chance, que acaba sendo pedagógica, de se pesar, medir e apurar devidamente o que vem sendo aplicado em políticas nesse campo.
Em primeiro lugar, é necessário observar que as repercussões de uma epidemia como a que está em configuração com o novo coronavírus tendem a ser desastrosas em quaisquer sentidos. Não é a qualidade de vida o único fator a se considerar - embora seja prioritário e, por si, tenha importância inquestionável -, mas há também aspectos respectivos a emprego, renda e desenvolvimento econômico, entre outros.
E é a propósito disso que precisa ser saudada com expectativa positiva a manifestação do embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, de que seu país pretende preservar parcerias comerciais com o Brasil mesmo em circunstâncias distintas das normais. Vale destacar que esse posicionamento há, de certa forma, de tranquilizar parte da economia do Ceará, que mantém relações com fornecedores e compradores da China em atividades como, por exemplo, as do agronegócio.
Palavras de Yang Wanming: “Temos toda confiança de que as relações comerciais do agronegócio não serão prejudicadas, uma vez que o Brasil prometeu não impor qualquer restrição a nosso comércio. Espero que nossa relação de agronegócio esteja a cada dia mais consolidada. O governo chinês se dedica a manter essa relação de longo prazo e estável com o Governo brasileiro. Os produtos agrícolas são bem-vindos. Não acredito que a relação sino-brasileira será prejudicada”.
De forma paralela, o Governo da China indica que não estabelecerá nenhum entrave para a remoção de brasileiros que estejam na região da cidade de Wuham, que seria o epicentro do surto da doença. Essa postura amistosa até já viabilizou o envio, pelo Planalto, de projeto de lei definindo medidas sanitárias para enfrentamento do coronavírus no Brasil, incluindo o modelo de repatriação e quarentena dos cidadãos brasileiros que estão na região mais afetada - a ser feito até o próximo sábado com dois aviões que servem à Presidência da República.
São, obviamente, sinalizações otimistas, uma vez que apontam para um quadro estável. Respeitam-se, assim, as obrigações constitucionais que o Estado tem de proteção e segurança de compatriotas que se encontram em outras nações, o que é inquestionavelmente devido.
No entanto, é indispensável que cada pessoa, com as responsabilidades individuais e coletivas que tem, assuma obrigações tácitas em favor de sua saúde, da de suas família e comunidade e, de forma ampla, da saúde pública. Eventuais soluções para o problema não se restringem aos governos. Devem, sim, ser tratadas por todos, em esforços compartilhados e distribuídos com equilíbrio.
Há uma crise, admita-se. Enfrentá-la é um dever comum.