Projeto bilionário do Ceará ganha força com retomada do urânio no mercado global

Minas nos Estados Unidos são reativadas em cenário de maior demanda pelo urânio, cujo preço vem escalando; Projeto Santa Quitéria é importante para o Brasil neste contexto

Legenda: Mineração de urânio
Foto: Shutterstock

Grandes mercados internacionais estão reavivando suas estratégias em torno do urânio, diante da crescente demanda global por combustível nuclear

Nos Estados Unidos, segundo reportagens recentes do Financial Times e Bloomberg, produtores reativaram minas nos estados de Wyoming, Texas, Arizona e Utah.

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A exploração comercial do urânio havia sofrido declínio após o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, levando à desativação de várias jazidas. No entanto, a guerra Rússia versus Ucrânia mudou o cenário.

"O urânio triplicou de preço nos últimos 5 anos e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia está abrindo uma 'janela' de mercado para os produtores de países ocidentais, entre eles o Brasil", comenta Tomás Figueiredo Filho, advogado especialista em Mineração e membro da Comissão Nacional de Direito Minerário da OAB.

Conforme a Bloomberg, uma estimativa da Agência Internacional de Energia Atômica prevê que o mundo demandará mais de 100.000 toneladas de urânio por ano até 2040. Isso exigiria o dobro de mineração e processamento em relação ao quadro atual.

Projeto Santa Quitéria ganha evidência

Essa reviravolta no panorama mercadológico do urânio põe em evidência um megaprojeto bilionário do Ceará. 

"O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo, mesmo tendo parado com as pesquisas desse mineral nos anos 1980, sendo a jazida de Santa Quitéria a maior reserva conhecida do País, com uma produção mínima estimada em 2.600 toneladas de urânio/ano. Atualmente, produzimos cerca de 300 toneladas de urânio/ano. Quando somadas a produção de Santa Quitéria, incrementará em 10 vezes a produção nacional desse minério", contextualiza o especialista.

Ele frisa também que o Brasil domina a tecnologia de toda a cadeia de processamento do urânio, que culmina nas usinas de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro, e na venda do produto para abastecer as usinas termonucleares na Argentina.

Potencial

"O Brasil tem potencial para fornecer muito mais que urânio, mas combustível nuclear para várias nações pacíficas. Para isso, aproveitando esse momento, ele precisa da capacidade produtiva da Mina de Santa Quitéria", diz Figueiredo.

Investimento e geração de emprego

Com previsão de investimentos superiores a R$ 2 bilhões o complexo mineroindustrial de Santa Quitéria deverá gerar 8 mil empregos durante as obras de construção.

Estima-se que a produção anual alcance 2,3 mil toneladas de urânio em seu estado natural (sem enriquecimento), o que equivale a 0,2% do material a ser produzido no empreendimento.

A maior parte da extração será para a produção anual de 1,05 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados e 220 mil toneladas de fosfato bicálcico.

Status do projeto

Em outubro do ano passado, o projeto recebeu autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para a instalação da jazida. Com validade de cinco anos, esse aval chancela os requisitos de segurança e proteção radiológica da instalação.

Com o Ibama, o empreendimento está em fase de licenciamento prévio, tendo entregue os estudos complementares solicitados pela autarquia ambiental em dezembro de 2023.



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