O empresário que revolucionou o consumo de banana no Ceará

Na década de 90, um agrônomo maranhense começou a produzir banana-prata no Cariri e mudou a dinâmica de consumo da fruta. Hoje, sua empresa é a maior produtora de banana do Ceará e uma das maiores do Brasil

Legenda: Fábio Régis de Albuquerque, fundador do Sítio Barreiras, maior produtor de banana do Ceará
Foto: Fabiane de Paula/Diário do Nordeste

Você tem ideia de onde é produzida a banana que consome? Saiba que é grande a possibilidade de ela vir de Missão Velha, no Cariri. Ali, nasceu o Sítio Barreiras, a maior produtora de banana do Ceará e uma das principais do País.

A empresa foi aberta em 1996 pelo agrônomo maranhense Fábio Régis de Albuquerque, que rapidamente revolucionou o consumo da fruta no Ceará.

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Antes da chegada do Sítio Barreiras, em linhas gerais, a forma como os cearenses consumiam banana era bem diferente. O hábito das famílias era comprar a fruta majoritariamente em feiras, pois nos supermercados não se encontrava banana de qualidade. Isso mudou em 1997.

"Quando chegamos ao Ceará, não se vendia banana em supermercado. Quem levava a banana para o supermercado era a pessoa que vinha da Ceasa. E ele já vinha de uma produção ruim, transportava mal, não fazia o processo de amadurecimento correto e nem a exposição correta (no supermercado)", relembra o produtor.

Ele conta que o primeiro supermercado para o qual vendeu a banana foi o São Luiz, em uma antiga unidade no Bairro Cocó, em Fortaleza.

Pediu uma chance e fez a banana virar campeã de vendas

banana venda supermercado
Legenda: Banana é campeã de vendas nos supermercados de Fortaleza
Foto: Thiago Gadelha

Como ninguém conhecia o seu produto, pediu ao gerente da seção de frutas uma oportunidade para disponibilizar a banana de Missão Velha nas prateleiras do São Luiz. Recebeu a chance de que precisava, e o resultado foi uma veloz transformação no hábito dos consumidores.

"Em um mês, a banana saiu do oitavo lugar nas vendas do hortifruti para o primeiro", narra Fábio Régis.

Desde então, a banana-prata nunca saiu do número 1 na preferência dos fortalezenses, sendo o produto de maior valor de venda na maioria dos supermercados.

"Foi uma virada por uma mudança de conceito, desde a produção agrícola, com o amadurecimento em câmaras frias, o transporte em câmaras frias, a exposição e a variedade adequadas da fruta", destaca o empresário, que vem de uma geração de fruticultores.

Produção de 40 mil toneladas e 730 funcionários

Hoje, o Sítio Barreiras produz em torno de 40 mil toneladas de banana por ano, escoando a fruta para o Nordeste, mas mantendo o Ceará como principal mercado consumidor. A fruta é vendida para as principais cadeias supermercadistas e atacarejos. A empresa, que conta com 730 colaboradores, chegou a exportar banana para o Uruguai, em uma ação experimental.

Sítio Barreiras
Legenda: Sítio Barreiras
Foto: Divulgação

A escolha por Missão Velha se deu pela vantagem logística, considerando a equidistância do Cariri para as capitais nordestinas. A cidade foi a primeira do Ceará a receber uma câmara fria para o processo de maturação de banana.

Escola com valores humanos

E hoje, a região se beneficia das ações sociais implementadas pela empresa, que financia uma escola de ensino básico na zona rural de Missão Velha, em parceria com a Federação da Agropecuária do Ceará (Faec). O objetivo do projeto, que já impactou centenas de crianças e famílias, é garantir educação na primeira infância ensinando valores humanos.

"A formação da criança até os 7 anos de idade é essencial na constituição do caráter do ser humano. Isso é mais definidor do que uma faculdade ou pós-doutorado", defende o empresário,

Bem-sucedido, o conceito do projeto está sendo ampliado pela Faec. Já são quatro unidades semelhantes em Viçosa do Ceará, Ubajara, Quixadá e Russas. A ideia da Federação é instalar 100 escolas inspiradas na de Missão Velha.

"É muito pobre quem pensa só em dinheiro"

Fábio Régis de Albuquerque
Foto: Fabiane de Paula

Segundo o empresário, um momento crucial para a companhia ocorreu após a realização de uma consultoria, na metade da jornada da produtora.

"Isso nos possibilitou pensar em perenidade, pensar em fazer com que a empresa sobreviva ao dono, um conceito humanizado que faz sentido. sendo lucrativa, mas servindo à sociedade, a todos os stakeholders. É muito pobre quem pensa só em dinheiro"

Avanço tecnológico

Fábio Régis afirma que o grande diferencial tecnológico na produção de banana hoje é a maior utilização de bioinsumos.

"Caminhar mais para uma agricultura regenerativa. Esse seria o estado da arte na produção agrícola, o uso cada vez menor de insumos químicos, menos defensivos agrícolas, menos adubos nitrogenados".

Para além da banana, o Sítio Barreira cultiva cacau na Bahia e iniciou a produção de tomate (com cultivo protegido), além de ser distribuidora de frutas como laranja, tangerina e abacaxi.