O que se espera de uma Fortaleza sem um Theatro José de Alencar?

No cartão-postal e na rota turística, ele permanece grande e imponente, mas por dentro tratam de apequená-lo cada dia mais

Legenda: TJA foi inaugurado no Centro de Fortaleza em 1910
Foto: Ismael Soares

Quem passa pelo Centro da Cidade, mais precisamente pelas imediações da rua Liberato Barroso, logo avista o prédio histórico. A arquitetura imponente chama atenção. Quem entra, logo pode ver também os vitrais coloridos, o jardim grandioso, os espaços múltiplos, uma sala de espetáculos que já foi sinônimo de luxo e riqueza.

Atravessar a entrada do Theatro José de Alencar sempre me traz a sensação de passar por um portal. Esse senhor de 113 anos guarda tantas memórias que parecem contar a história de Fortaleza, e a minha também.

Fui adotado e criado por esse senhor. Durante muito tempo da minha vida, me dediquei ao TJA. Não só como artista que usufruiu e cresceu nesse espaço, mas porque também fui professor do Curso de Princípios Básicos de Teatro (CPBT). Ter esse lugar na minha trajetória me lançou pro mundo. Talvez venha daí a imensa dor que sinto com todo o seu abandono.

Não é de hoje que a situação do TJA é crítica. O teatro tem mantido a duras penas equipamentos de som e luz que parecem ter nascido também em 1910, em estado de sucateamento. São vários os relatos de artistas que tiveram seus espetáculos prejudicados por problemas técnicos, afastando profissionais da cultura por não oferecer estrutura adequada.

Onde está a grande programação que havia antes? Que futuro se inspira para os alunos do CPBT com o próprio teatro sem abrigar os grupos artísticos da cidade? Apreciar espetáculos também faz parte do processo de aprendizado. Por que a primeira lição deve ser a de como trabalhar com uma estrutura capenga? O que isso diz aos futuros atores?

Sem contar o entorno. Depois de um ano de obra, a Praça José de Alencar ganhou uma nova cara, uma fonte luminosa com águas que dançam ao som das músicas emitidas por caixas de som e tudo mais. Um investimento de mais de três milhões de reais para, à noite, só se encontrar escuridão e vazio. Não há segurança, não há estacionamento amplo e não há movimento de gente. Isso, definitivamente, as pessoas com medo de ocupar o teatro, de assistir espetáculos pelo perigo que o entorno oferece.

Para um lugar ser tombado como Patrimônio, ele precisa ser reconhecido como um bem coletivo, ele precisa ter sua importância para a construção e manutenção da história de uma cidade valorizado, ele precisa fazer parte da identidade de uma comunidade. O José de Alencar pertence à memória do Brasil e precisa de conservação e proteção.

Aqui fica o meu imenso apelo ao Governo do Estado do Ceará e à Secretaria de Cultura do Estado: o Theatro José de Alencar pede socorro. Ele precisa de investimento, precisa de cuidado, precisa de um olhar criterioso e estratégico. Até quando vamos seguir afundando nossos teatros? Até quando os profissionais daquele lugar trabalharão sem suporte? O que se espera de uma sociedade sem cultura e sem arte? O que se espera de uma Fortaleza sem um TJA?