Quando percebemos que nos perdemos no meio do caminho?

Foto: StunningArt/ Shutterstock

No terceiro ano, não sabia muito bem o que eu queria fazer da vida. E fui pro direito. Naquela época era uma carreira bastante promissora, ainda não se falava em concurso. Não que hoje não seja mas era atraente, um curso que teoricamente não seria tão difícil de futuramente engatar um trabalho, por exemplo.

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Me encantei por diversas áreas do direito, detestei outras. Foram quase 6 anos de faculdade. E durante esses seis anos (muita atenção, agora), eu trabalhei em rádio como locutora, apresentava eventos, comecei a faculdade de publicidade, trabalhei numa agência e acho que ali pela metade do curso, fiz um estágio num escritório de advocacia que nem durou nem 3 meses.

Parece bem óbvio pra quem está lendo que eu não estava exatamente no curso ideal pra mim. Mas pra quem tá vivendo, pra quem está dentro, parecia apenas devaneios da vida enquanto o curso não terminava. A idade, o medo de frustrar expectativas, de mudar me fizeram achar que sim, eram apenas devaneios.

Seis anos depois, quando terminei a faculdade, todo mundo foi fazer pós, mestrado e eu fui realizar um grande desejo de morar fora. Absolutamente nenhuma inveja de quem estava na pós – futuramente eu faria a dos meus sonhos: marketing. Mas naquela época eu não sabia que viveria isso. Eram apenas devaneios, ao meu ver.

Voltei e adivinhem pra onde fui. Estudar pra concurso. Para a surpresa de 0 pessoas com todo esse histórico, eu não tinha muito interesse em advogar. Fui pros concursos porque era o que tinha, porque teoricamente eu já tava atrasada diante dos outros. Nunca, de fato, sentei com um foco 100% ali.  Essa é a verdade.

Porque nunca foi ali que eu queria estar. Foram apenas devaneios que me levaram. Nesses devaneios que me perdi, no meio do caminho, da juventude, da vida, das expectativas.

O resto já sabem. Comecei os vídeos e hoje estamos aqui. É difícil mesmo a gente conseguir se livrar de amarras, principalmente emocionais, algumas que nós mesmos criamos e outras que outras pessoas criaram em nós – até por amor. Por achar que é o melhor, o menos sofrido. Eu compreendo. Compreendo meu pai que até hoje me indica concursos pra fazer. Ele quer um dia ir embora e ter certeza que estou garantida de algo. Eu compreendo minha mãe que colocou em mim alguns sonhos. Eu compreendo. Mas não posso vivê-los. Não todos, não dessa maneira.

Por alguns anos, fiz o que tinha que ser feito e não me arrependo. Amo meu diploma, tenho orgulho. E depois de ter sucumbido um pouco à realidade já existente da minha vida e ignorado tantos sinais vivendo-os apenas como se fossem devaneios, hoje os vivo como sempre deveria ter vivido.

Como foi isso? Aí é assunto pra outro dia, longo demais. Mas digamos que foi tentando minar a insatisfação em corresponder expectativas demais e o medo de arriscar.  Como se eu tivesse perdido 6 anos de vida. Como se não desse mais tempo. Bobagem. Na verdade, vivê-los fez eu me perder pra poder me encontrar.   

A boa notícia é que deu tempo. E dá. Dá tempo. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora