As mentiras que nos contam e as que contamos também

Tempos atrás, uma garota me reconheceu e disse: "você é tão linda. Por que faz questão de sair tão feia nos seus vídeos?". Tantas coisas vieram à cabeça. 

Lembrei as minhas rugas. Nunca tinha reparado que as tinha até algumas pessoas me falarem para fazer botox. Comecei a percebê-las e isso passou a me incomodar. E não falaram por mal. É que somos doutrinados diariamente a estranhar rostos com rugas. 

A vaidade exarcebada é um vírus. 

Provavelmente muita gente não faria inúmeros procedimentos se o mundo fosse cego. Algumas pessoas nos passam isso, nos fazem ver nossos defeitos, fazem nos ver diferentes de como realmente somos. 

Preciso ter a barriga chapada. E olha: como vejo minha barriga feia desde que vi isso como uma verdade. Tudo que vivi e meus valores não valem nada perto de uma barriga que não tenho. Meu psicológico faz com que isso se torne necessário. 

Tento ser quem sou. Tenho medo de acreditar em alguma mentira que eu viva expondo. Se eu me convencesse dela, viraria escrava de mim mesma. 

É mentira que as pessoas são sempre felizes, que elas estão sempre lindas, que não sofrem ou não tem defeitos. Assim como é mentira que alguém precisa estar dentro do exigido para ser feliz e aceito. 

Quantas vezes me olhei nos vídeos e pensei: "como tô feia". Imediatamente pensei: "Tô engraçada também, pessoas podem rir, se sentir melhores. Não preciso estar ou ser bonita hoje”.

A exigência conosco nem sempre é genuína. Algumas vezes é criada por olhares, pela TV, pelos sanguessugas. 

Luto para treinar minha mente de se lembrar quem sou de verdade além da carcaça que um dia vai virar pó. Mesmo que tudo queira nos convencer do contrário. 

Muitos querem. E vão - nem sempre por maldade - não vai adiantar culpá-los. Sempre estarão lá. 

Cabe a nós uma decisão diária de um novo olhar. Um mundo cheio de transtornos é a realidade. 

Não posso me escravizar, não vim para isso, não seria justo. Há coisas maravilhosas além da bolha que insistem que vivamos e nada é tão atraente quanto ser quem realmente somos. “A lâmpada do corpo é o olho. Se o olho é sadio, o corpo todo fica iluminado”. Viver é melhor que sonhar. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.