Inflação nordestina em 2021 e 2022

Legenda: A aceleração do combustível esteve ligada principalmente à alta no preço do petróleo no mercado internacional ao longo do ano passado.
Foto: Cid Barbosa

A inflação para os consumidores brasileiros com renda entre um e quarenta salários mínimos, medida pelo IPCA, alcançou 10,1%, em 2021, ante 4,5% em 2020, registrando a taxa mais elevada desde 2015. No Nordeste não foi diferente, a inflação saiu de 5,1% em 2020 para 10,5% em 2021.

Diversos choques explicam essa aceleração, entre os quais se destacam a alta do petróleo ao longo do ano, a crise hídrica e os diversos gargalos de produção na indústria, em ambiente de política monetária, em especial no segundo semestre de 2020, altamente estimulativa, cujos efeitos se materializaram no ano seguinte.

O IPCA nacional captura a inflação de cinco capitais nordestinas: Salvador (peso de 6,0% no índice nacional), Recife (3,9%), Fortaleza (3,2%), São Luiz (1,6%) e Aracaju (1,0%). O índice acumulado no ano passado mais alto foi observado em Salvador, com inflação próxima de 10,8%. No outro oposto está São Luís, com alta acumulada em 9,9%. Fecham a lista Recife com 10,4%, Fortaleza com 10,6% e Aracaju com 10,2%.

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Entre as capitais da região, o destaque ficou por conta da gasolina, com alta entre 45,4% em Aracaju e 52,1% em Salvador. A aceleração do combustível esteve ligada principalmente à alta no preço do petróleo no mercado internacional ao longo do ano passado.

O petróleo do tipo Brent passou de 50 USD/barril em janeiro para 73 USD/barril em dezembro, o que representa uma elevação de quase 50%. Como resultado, outros itens correlacionados com esse movimento também pesaram no orçamento do consumidor, como também é o caso do etanol, com alta pouco abaixo de 50% em Recife em 2021.

Outro item que acelerou ao longo do ano passado foi o de tarifa de energia elétrica residencial. Com chuvas abaixo da média histórica levando ao acionamento adicional do parque térmico e cobrança da bandeira tarifária de escassez hídrica no valor de R$ 14,2 a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos, a inflação de energia elétrica superou os 17% em Fortaleza ao longo do ano passado.

Também com lugar de destaque na inflação do consumidor no Brasil e Nordeste ao longo dos últimos anos tem sido alimentação no domicílio. Itens como produtos in natura, grãos e proteína tem registrado alta significativa, subindo próximo a 8,0% em 2019, 18,2% em 2020 e adicionais 8,2% em 2021.

Entre as capitais da região a alta registrada no ano passado foi maior ainda, com a inflação de alimentos superando os 12% em Salvador, por exemplo. Contribuíram nessa alta a aceleração de 42% no preço do açúcar, 32% na cebola, 12% em leite e derivados e 10% em diversos cortes de carne.

Contribuem para a alta recente do grupo a elevação no preço de commodities agrícolas seguindo eventos climáticos adversos (La Niña) e quebras de safra, a depreciação cambial e a maior demanda por esses itens como resultado das medidas de isolamento social da pandemia.

Previsão para 2022

A inflação deve se manter em patamar elevado também na primeira metade do ano de 2022, ainda sob efeitos da pressão no setor de bens industriais e sem alívio no preço de commodities como petróleo e agrícolas adiante.

Além disso, o patamar pressionado atual também é repassado para os demais preços da economia via mecanismos formais ou informais de indexação. Como exemplo vemos também a inflação de serviços e alguns itens administrados acelerando no começo desse ano. A leitura do IPCA de janeiro seguiu confirmando esse cenário, com inflação acumulada em doze meses próxima de 10,4% na média nacional e pouco abaixo de 11,0% na região Nordeste.

Os economistas do Itaú esperam desaceleração da inflação para próximo de 5,5% ao final deste ano. A desinflação virá principalmente de preços administrados e itens comercializáveis. Nos preços administrados, a maior influência virá do fim dos efeitos da alta de cerca de 50% do petróleo em 2021 e da melhora no cenário hídrico, que deve levar a uma bandeira amarela sobre as contas de luz ao fim do ano, frente à bandeira de escassez hídrica em 2021.

A inflação de bens deve desacelerar com as commodities metálicas em reais ficando próximas da estabilidade, com a elevada taxa Selic restringindo a demanda, e com o consequente ajuste de estoques na indústria. Restam alguns importantes riscos altistas, principalmente ligados à dinâmica do preço de commodities como petróleo e agrícolas.

A inflação de serviços, que tende a ser mais persistente, dada a presença de mecanismos informais de indexação, foi a última, entre os grandes grupos do IPCA, a acelerar em 2021, e será também a última a desacelerar – só em 2023.

Especificamente, esperamos desaceleração do IPCA total, como citado acima, com redução da inflação em administrados (de 16,9% para 4,5%), alimentação (8,2% para 5,1%), produtos industriais (11,9% para 6,4%) e aceleração da inflação de serviços (de 4,8% para 6,0%).

Com isso, a desinflação tende a ser mais rápida nas capitais nordestinas, onde os serviços são parte menos relevante das cestas de consumo (30% vs 34% no país), do que nas demais regiões.

Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor