Crédito mais barato e crescimento no financiamento de imóveis e veículos; entenda cenário para 2024

Financiamento de veículos no Ceará apresentou crescimento neste início de ano. Financiamento de imóveis apresentou leve queda, mas perspectivas de entidade que representa o setor no País são positivas

Legenda: O setor imobiliário tem bons prognósticos em âmbito nacional, aguardando um crescimento de 3% no financiamento em 2024 sobre o ano passado. Se isso ocorrer, o volume financiado chegará ao recorde de R$ 259 bilhões
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A Bolsa, Brasil, Balcão (B3) divulgou na última semana dados de fevereiro sobre o financiamento de veículos no Ceará que, assim como observado em janeiro, cresceu em relação ao início de 2023. Enquanto a tomada de crédito para a compra de veículos tem bons resultados no Estado, porém, o crédito imobiliário não conseguiu superar no início deste ano - por pouco - os números observados em igual período do ano passado.

De acordo com os últimos dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), em janeiro deste ano foram 724 unidades financiadas no Ceará, enquanto no primeiro mês de 2023 foram 742. Os dados de fevereiro devem ser divulgados pela Abecip nos próximos dias. Apesar disso, a entidade tem bons prognósticos em âmbito nacional, aguardando um crescimento de 3% no financiamento imobiliário em 2024 sobre o ano passado. Se isso ocorrer, o volume financiado chegará ao recorde de R$ 259 bilhões.

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Mas o que os números das operações de crédito para a aquisição de bens duráveis nos permitem dizer sobre o atual momento econômico no Estado e no Brasil? O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Wandemberg Almeida, destaca que desde agosto de 2023 a taxa básica de juros, a Selic, vem passando por cortes.

Na última quarta-feira, a Selic sofreu o sexto corte consecutivo e chegou ao patamar de 10,75%. Para Almeida, essa observação dá o tom das expectativas quanto ao crédito para a compra de bens duráveis em 2024.

Ele acredita que, além da trajetória de baixa da Selic - e expectativa de novos cortes, outros indicadores como a inflação também apontam para um cenário de crédito mais barato. “Depois da última reunião do Comitê de Política Monetária, ficou claro que ainda teremos outras quedas na taxa de juros. Essas quedas devem trazer para o mercado mais oportunidades, mas sabemos também que os consumidores estão cautelosos, adotando certo cuidado ao tomar crédito, ao contrair novas dívidas”, pondera.

Ele reforça que a perspectiva de uma Selic a 9% até o fim do ano, revelada no mais recente Boletim Focus do Banco Central, “traz ânimo”, podendo fazer com que aquele consumidor que tinha a intenção de tomar crédito para adquirir um bem se sinta mais confiante para concretizar sua intenção.

Considerada uma espécie de “taxa mãe” da economia, as movimentações na Selic influenciam as taxas de outras operações de crédito, como o crédito pessoal, o financiamento veicular e imobiliário.

Dessa forma, números do financiamento de imóveis e de veículos como os observados no início do ano - cenário que tinha como pano de fundo uma Selic em 11,75% e 11,25% - podem ganhar mais fôlego ao longo deste ano. “Estamos vendo uma redução da taxa que vai mexer com o financiamento imobiliário e de veículos”, acredita Wandemberg Almeida.

Junto à possibilidade de aquecimento da tomada de crédito com a baixa da Selic, o economista destaca ainda estratégias no âmbito público que podem contribuir para a elevação no financiamento de imóveis e veículos em 2024. Ele acredita, por exemplo, na retomada do programa de descontos em carros novos realizado no ano passado.

Na seara do mercado imobiliário, medidas como o FGTS Futuro também podem ser impulsionadoras, já que ela pode ajudar a reduzir a prestação do consumidor na compra da casa própria e aumentar a capacidade de pagamento.

Confiança do consumidor

Mas como bem demonstraram as últimas pesquisas de endividamento e confiança do consumidor divulgadas pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio-CE), ainda será preciso que alguns meses corram para que a decisão do consumidor - pelo menos o de Fortaleza - ocorra de fato.

Isso porque, neste mês de março, a confiança ainda está em baixa - algo que é relativamente comum para o mês, já que habitualmente no início de ano o trabalhador fica descapitalizado ao pagar uma série de taxas, impostos e arcar com despesas como matrícula escolar e material escolar dos filhos.

Apesar da falta de confiança atual, o levantamento mostra que as perspectivas para o cenário futuro são um pouco mais positiva.

Quase que de mãos dadas com a falta de confiança do consumidor de Fortaleza, vem outro dado alarmante: o fortalezense está com quase metade da renda comprometida com dívidas - maior patamar em 26 anos. Tem usado o crédito sobretudo para fazer supermercado.

Em linha com as perspectivas mais positivas apuradas na pesquisa, Wandemberg reforça que, além da inflação e da Selic, outros elementos corroboram para um horizonte melhor. "Estamos com redução do desemprego, aumento da renda do trabalhador, de ganho real, então tudo isso começa a convergir para enxergarmos uma economia mais positiva daqui para a frente"



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