Mercado do lixo e a visionária Rainha da Sucata

O mercado do lixo é um cenário que afeta todos nós e possui diversas dimensões a serem exploradas.

Foto: SVM

O mercado brasileiro sofre com modelos antiquados de gestão de resíduos e ausência de uma educação mínima que coloque a população na real posição de responsável pelo manuseio de seu próprio lixo. Óbvio que não é só o povo que tem que melhorar, mas esse cenário começa em cada um de nós. 

Anualmente, cada brasileiro gera 343 kg de lixo segundo informa a ONG Menos 1 Lixo. Em matemática simples, estamos falando de quase 1 kg por pessoa todo santo dia. Já pensou que, se todo dia você se preocupasse com cuidar apenas de 1 kg, um problema grave - que amplia o impacto de catástrofes nas grandes cidades e no lençol freático que nos hidrata - poderia ser sanado? Parece difícil? Pergunta para um japonês.

Os tipos de resíduos e seus riscos

O lixo é classificado em diferentes tipos, cada um com suas particularidades e impactos ambientais. Temos os resíduos sólidos urbanos, que incluem o lixo doméstico e comercial e podem conter materiais recicláveis e orgânicos. Os resíduos industriais, que por sua vez são gerados por atividades produtivas e podem apresentar substâncias tóxicas e perigosas. E há também os resíduos de saúde, provenientes de hospitais e clínicas, que precisam de cuidados especiais de descarte. Todos esses tipos de resíduos representam riscos para o meio ambiente e para a saúde pública caso não sejam adequadamente tratados e gerenciados.

O mercado do lixo no Brasil

No Brasil, o mercado de resíduos tem grande magnitude e movimenta milhões de reais anualmente. Esse mercado tem dados estarrecedores para quem vive na bolha social dos condomínios e se preocupa apenas com colocar seu próprio lixo no cesto do seu andar:

  • 70% da população não separa o próprio lixo;
  • 40% do nosso lixo é descartado em áreas impróprias;
  • 30% do lixo hospitalar é incinerado, e o resto vai te fazer chorar quando você souber para onde vai.

A crescente preocupação com a sustentabilidade tem impulsionado o setor, com empresas e governos buscando soluções inovadoras para o tratamento e a destinação adequada do lixo. A reciclagem é uma das principais oportunidades desse mercado, pois permite a reutilização de materiais, reduzindo o consumo de recursos naturais e evitando a acumulação de resíduos em aterros sanitários. Além disso, tecnologias avançadas de tratamento de resíduos, como a geração de energia a partir do lixo, têm demonstrado um potencial significativo para o futuro.

Oportunidades de negócios ligados a resíduos

As oportunidades de negócios relacionados ao mercado do lixo são diversas e promissoras. Empreendedores podem investir em empresas de reciclagem, coleta seletiva e logística reversa, promovendo a economia circular e contribuindo para a preservação do meio ambiente. Além disso, a busca por alternativas sustentáveis na produção de bens e serviços tem impulsionado a demanda por tecnologias limpas e soluções de tratamento de resíduos. 

Startups e empresas especializadas em consultoria ambiental têm encontrado espaço para oferecer soluções inovadoras às organizações que buscam reduzir seu impacto ambiental.

Sua empresa pode até diminuir custos logísticos com embalagens, reuso, diminuição direta nas taxas de descarte, melhoria da saúde no ambiente de trabalho, acarretando menos casos de doenças, diminuição de infraestrutura e até mesmo atração de investimentos com menores taxas. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, em 2020, o Brasil perdeu 14 bilhões de reais em receitas por não ter reciclado. 

A oportunidade é tão grande que apenas 4% do nosso lixo tem um processo de reciclagem correto. Em resumo, tem um mercado com 96% de espaço para empreender em algo que não vai sumir em poucos anos, o que permite tranquilamente a criação de um negócio com resultados positivos por décadas.

A Rainha da Sucata já sabia! O que faz você não pensar nesse mercado?

Já parou para pensar que, inúmeras vezes na vida, você escutou alguma história de sucesso e disse “por que eu não pensei nisso antes"?

Pois é! A nossa mente busca sempre o que já existe. Mas o lixo, por mais que todos os dias tenhamos contato com ele, nunca surge em nossa mente enquanto negócio, pois a modelagem dele na nossa mente não é de receita.
 
Uma possível explicação para esse distanciamento do comportamento de buscar soluções em coisas que já existem é o que chamamos de "viés de familiaridade" ou "viés da zona de conforto". Esse padrão comportamental ocorre quando as pessoas se sentem mais confortáveis e seguras ao optarem por soluções que já conhecem e estão acostumadas.
 
Esse viés pode ser influenciado por diversos fatores, como experiências passadas bem-sucedidas com soluções conhecidas, medo do desconhecido e falta de motivação para buscar alternativas inovadoras. Além disso, os ambientes social e cultural também podem desempenhar papéis significativos na perpetuação do comportamento de seguir o que é comum.

 

Para romper com esse padrão e promover a busca por soluções diferentes é importante estimular a criatividade, incentivar a curiosidade e encorajar a exploração de novas ideias e perspectivas. Dessa forma, as pessoas podem encontrar soluções inovadoras e criativas para os problemas que enfrentam. 

É o que fala o vencedor do Nobel de Economia, o psicólogo e economista israelense Daniel Kahneman. Seus estudos se aprofundam bem no viés cognitivo e em como nossa mente pode ser o elemento limitador para o desenvolvimento dos negócios.

A sociedade atual está com viés de familiaridade em que?

Quando analisamos a mídia como grande influenciador na gestão das informações de massa, enxergarmos uma ausência de curadoria dos dados e uma familiaridade de absorção de conteúdos na nova geração. 

Analisando o relatório da Global Digital Overview 2020, somos apresentados ao ranking do tempo médio de uso de redes sociais que o brasileiro dispende por dia: somos o 3º no mundo, com 3 horas e 31 minutos diários. Não precisamos ampliar tanto assim a análise para sabermos que as redes ofertam conteúdos de baixa profundidade, pois não existe tempo/espaço no modelo de negócios para que possamos receber conteúdos com análises profundas. 

Essa visão superficial tem colocado um viés de familiaridade bastante parecido e sem visão ampla dos cenários nessa massa de consumo. O caso do lixo e suas oportunidades são apenas um exemplo de algo que, se fugisse do viés da familiaridade, poderia gerar muito dinheiro e, ao mesmo tempo, ajudar nas gestões da saúde, da educação, da sustentabilidade do planeta e nos custos. 

Sem uma visão ampla dos cenários, nossa sociedade se aprofundará nas mesmas soluções, jogando no lixo um futuro de oportunidades, pois estarão ligados em dancinhas que não agregam valor à vida, mas agregam resultados que fazem a vida de muitos “dançar” na própria história de fracasso.